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31 dezembro 2012

O Natal e a Plenitude dos Tempos

natividade_sexto_sentido_14_0001_500_x_396São Paulo escreveu ao Gálatas:

                    Antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor. Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa. Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, o qual clama: "Aba, Pai". Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. (Gálatas 3.23-29; 4.4-7 – N.V.I.)

É uma pena que para muitas pessoas o nascimento de Jesus signifique apenas um momento do ano para se ganhar presentes. Nada contra os bonitos presentes que ganhamos neste momento especial do ano, mas não podemos reduzir o Natal a isso.

Quando lemos as escrituras, e em especial a perícope acima, nos damos conta que o primeiro Natal não significou exatamente aquilo que as pessoas hoje leem e acreditam. O primeiro Natal é descrito neste texto como sendo um momento especial. Ele é descrito como a “plenitude dos tempos”.

Por causa desta visão tão especial que Paulo tinha acerca do Natal, nos animamos a refletir hoje sobre o seguinte tema: “Quando a plenitude dos tempos chega…”

Quando a plenitude dos tempos chega, em primeiro lugar, somos livres da escravidão (v. 4, 5):O apóstolo Paulo descreve nossa relação com a Lei ( O Pentateuco), que regia os relacionamentos entre Deus e os homens, como uma relação de submissão. Ele nos diz, por exemplo, que todos estávamos “encerrados” (3:23) ou  seja “aprisiona-dos”, “tutelados” (3.23) e “submetidos” (3:25) a ela.

Quando Paulo nos diz que a Lei nos servia de “tutor”, ele estava dizendo que a Lei era uma espécie de guia que deveria nos levar até a escola para que aprendêssemos algo. E, de fato, a Lei nos ensinou o quão pecadores somos. O grande mérito da Lei, segundo Paulo, foi nos ensinar que somos pecadores. Foi nos revelar quem, de fato, somos, e quão necessitados estamos de um médico. A Lei, contudo, era incapaz de apresentar um remédio para a realidade que ela, tão eloquentemente, descrevia. A chegada da plenitude dos tempos, identificado por Paulo como o envio do Filho (v. 4), contudo a realidade muda: O período de escravidão está no fim e a libertação se aproxima.

Quando a plenitude dos tempos chega, em segundo lugar, somos transformam em filhos (V.6). Que mudança radical Paulo descreve aqui! Paulo se serve de uma figura para explicar esta mudança: a figura de uma família. Nas famílias da época além dos pais e dos filhos, havia também os escravos.

Estes não gozavam, obviamente, das mesmas condições e privilégios que eram próprios aos filhos. Contudo, com a chegada da plenitude dos tempos, os escravos são agora transformados em filhos. Eles são, segundo o texto, resgatados (v.5) do poder da Lei e adotados como filhos. A marca mais forte de que agora somos “filhos de Deus” é nosso direito de dizer aquilo que só os filhos legítimos podiam dizer: “Aba, Pai” (v.6), que significa “paizinho”.

Finalmente, quando a plenitude dos tempos chega, em terceiro lugar, somos contados entre os herdeiros (v.7). Uma vez que Deus nos resgatou dos grilhões da Lei, uma vez que ele nos adotou como filhos e nos deu o direito de chamá-Lo como os filhos legítimos o chamam; Ele, na plenitude dos tempos, também nos fez seus herdeiros. Como membros da família de Deus somos também beneficiários e herdeiros de todos os bens de nosso Pai. Esta figura nos assegura que a “fazenda” do Pai pertence a seus filhos e filhas, assim como o “Reino” de Deus também nos espera. E o que nos garante a posse e a entrada nesta nova realidade em que mora a paz, é a plenitude dos tempos, que já chegou.

Esse o grande significado do Natal!

Rev. Daniel, ost

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19 dezembro 2012

Notícia Extraordinária !!!

Zacarias_e_anjo_Gabriel

Anjos são seres celestiais que estão junto do trono de Deus. Há uma enorme quantidade de anjos, de vários tipos, segundo as Escrituras: anjos, arcanjos, querubins, serafins, tronos, potestades… Mas o nosso assunto aqui não é exatamente sobre anjos, mas sobre um anjo em especial, chamado Gabriel, um Arcanjo (um anjo importante!!!).

Os Arcanjos são mensageiros especiais que trazem uma informação sobre o agir de Deus. Os nomes dos Arcanjos já indicam isso. Assim, Micael (Miguel), significa Deus Luta; Rafael significa Deus Cura; e Gabriel significa Deus Fala, Deus comunica.

Gabriel é o Anunciador do que Deus está fazendo e fará em breve; é o portador de notícias, de novidades! No início do Evangelho de São Lucas, o Arcanjo Gabriel é um personagem importante: ele traz notícias, boas notícias!

Eu sugiro que você leia com atenção Lucas 1.5-38. É um texto muito grande para colocar aqui no blogue; conta das visitas que o Arcanjo Gabriel fez a duas pessoas: a um sacerdote chamado Zacarias e a uma jovem chamada Maria. Nas duas visitas, Gabriel informa que Deus está agindo e em breve fará algo extraordinário!

Deus está para cumprir uma promessa, que foi anunciada pelos profetas e que era esperada pelo povo judeu, desde tempos muito antigos: Deus vai restaurar sua aliança com os seres humanos, vai começar uma nova relação com a humanidade.

Assim, Gabriel primeiro visita Zacarias, um sacerdote piedoso, já de idade avançada, que estava de serviço no Templo em Jerusalém, e anuncia que ele terá um filho, um homem especial, que virá para anunciar a chegada do Salvador, vem preparar o caminho, um caminho que será novo e inaugurado com a chegada do Ungido de Deus:

"Não tenha medo, Zacarias; sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe dará o nome de João. Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por causa do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor".

Assim, no tempo certo após a visita de Gabriel, a esposa de Zacarias, Isabel, deu à luz um menino que recebeu o nome de João e veio a ser São João Batista, aquele que testemunhou o Cristo quando Jesus chegou para ser batizado por ele. Nos três primeiros domingos do Advento nossa comunidade estudou sobre São João Batista, seu ministério e seu testemunho sobre Jesus, o Cristo.

Seis meses após falar com Zacarias, o Arcanjo Gabriel visitou uma jovem chamada Maria, que vivia em Nazareth, pequena aldeia situada na Galileia – uma região pobre e mal vista pelas pessoas que habitavam nas proximidades de Jerusalém. O que Gabriel revela a Maria é algo extraordinário: ela terá um filho, não um filho simplesmente, mas ela será mãe do Filho de Deus! Ela dará sua carne para que Deus se torne humano e viva entre as pessoas:anunciacao

O anjo, aproximando-se dela, disse: "Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!" Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim". Perguntou Maria ao anjo: "Como acontecerá isso, se sou virgem?" O anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus”.

Ao contrário de Zacarias, que duvidou das palavras do Arcanjo, Maria – mesmo surpresa e sem entender exatamente o que aquilo significava – colocou-se à disposição de Deus e aceitou ser serva do Senhor!

Os cristãos antigos, para afirmarem sua fé na divindade de Jesus Cristo, deram a Maria o título de Teotókos , portadora de Deus, mais literalmente, “paridora de Deus” (hoje nós a denominamos Mãe de Deus): aquele homem nascido de Maria é o próprio Deus que se encarnou e se tornou parte real da história humana, o Emanuel – Deus Conosco!

Gabriel trouxe uma notícia extraordinária: Deus vem estar conosco para sempre! Celebramos isso no Natal! Jesus não nasce de novo; mas nós celebramos seu nascimento, e oramos para que ele possa nascer no coração de muita gente que ainda não O conhece.

Nós não precisamos que o Arcanjo Gabriel venha nos anunciar novidades extraordinárias! Jesus o Cristo, humano conosco, divino com Deus, está vivo e presente na vida de quem O aceita e O acolhe. Juntamente com o Pai, enviou-nos o Espírito Santo que se manifesta como Deus agindo em nossas vidas, criando o novo, apontando horizontes, renovando a esperança. Se você abrir seu coração ao senhorio de Cristo, você perceberá, pela inspiração do Espírito Santo, o agir de Deus.

Veja bem ao seu redor, Deus está agindo! Deus não está ausente, nem nos deixou à mercê de nossa própria sorte. Ele está conosco em nossa vida, em todos os momentos. É isso que vamos celebrar no Natal: a presença de Deus na história humana, como parte da humanidade, companheiro de caminho, amigo solidário!

Cada pessoa cristã é vocacionada para ser missionária, ser, ao mesmo tempo, como Gabriel (trazendo uma boa notícia!), como João Batista (anunciando o Cristo que já é presente!), e como Maria (portadora de Deus, trazendo Deus para a vida das pessoas!).

Deixe Deus operar em sua vida e você terá boas notícias para anunciar às pessoas que estão ao seu redor. Tente viver isso de forma mais intensa neste tempo de Natal. Será um Natal diferente, um Natal realmente feliz!

Rev. Luiz Caetano, ost+

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28 novembro 2012

Fé, Justiça e Amor

Jesus caminhandoAinda pensando na festa “Jesus Cristo, Rei do Universo”, volto ao texto que relata Jesus entrando em Jerusalém, num jumento, com as multidões gritando e aclamando-o como rei:

         Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, dizendo-lhes: "Vão ao povoado que está adiante de vocês; logo que entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que vocês estão fazendo isso? ’ digam-lhe: ‘O Senhor precisa dele e logo o devolverá’". Eles foram e encontraram um jumentinho, na rua, amarrado a um portão. Enquanto o desamarravam, alguns dos que ali estavam lhes perguntaram: "O que vocês estão fazendo, desamarrando esse jumentinho?" Os discípulos responderam como Jesus lhes tinha dito, e eles os deixaram ir. Trouxeram o jumentinho a Jesus, puseram sobre ele os seus mantos; e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam cortado nos campos. Os que iam adiante dele e os que o seguiam gritavam: "Hosana! "Bendito é o que vem em nome do Senhor!" "Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi! " "Hosana nas alturas!" Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao templo. Observou tudo à sua volta e, como já era tarde, foi para Betânia com os Doze.      (Marcos 11:1-11 – N.V.I)

O Sinédrio, vendo isso, conspirou para mata-lo porque, analisando mal a cena, achou que Jesus lidera uma revolta contra os poderes estabelecidos.

Assim, quando Jesus entra em Jerusalém, ele sabe que será visto como ameaça e haveriam reações fortes. Pois tem percepção que sua vida e ministério contrariavam os interesses dos poderosos. Seu ministério se tornou ação política porque questiona as prioridades, os valores e a legitimidade das autoridades políticas e religiosas, incapazes de servir o bem comum. No entanto, ele não entra em Jerusalém para tomar o poder, nem fazer parte da maquina política: ele não anseia por poder. Pois o Poder dele é outro: Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui". (João 18.36)

Essa fina linha de coerência entre seu discurso e a sua prática nos mostra como devemos viver. Jesus nos desafia, tanto como indivíduos, como sociedade, a vivermos de acordo com os padrões de sua Mensagem, a Boa Nova, Boa Noticia que transforma a vida cotidiana em vida em abundância. Vida que, ao mesmo tempo, dá autonomia, liberdade e livre pensar. Jesus ensina que devemos ser altruístas: o serviço ao próximo sem ansiar retornos ou vantagens pessoais. Assim, ser discípulo de Cristo é andar um caminho que, incomodamos e sofremos reações decorrentes das nossas atitudes concretas.

Duas grandes tentações nos tiram deste caminho: primeiro, somos tentados a resolver os nossos problemas ou/e dos outros “espiritualmente”: o problema se torna subjetivo, isentando-me da agir por minha livre decisão, não permitindo uma atitude concreta, me tornado infantil e dependente emocional da “vida espiritual”. Em segundo lugar, somos tentados a idolatrar o poder e a desejá-lo, acreditando que, se o “nosso padrão” seja aceito – ou imposto aos outros – tudo será lindo e perfeito: assim poderemos controlar as pessoas mais facilmente. Esta cobiça pelo poder, afasta-nos da vivência do Evangelho e lança-nos em disputas mesquinhas pelo poder, esquecendo que o Poder é de Cristo.

Com isso a boa noticia fica diluída e desfigurada quando se permite que uma destas tentações triunfe em nossas vidas ou Igreja.

Nosso chamado é para sermos corajosos e fiéis, ao Evangelho e confiarmos sempre no amor de Deus orientando nossa vida, em testemunho que outra realidade é possível: a vida social sem corrupção, desmando e injustiça. O poder para livremente servir, como o Filho do Homem serve!

Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos". (Marcos 10.45)

Rev. Daniel, ost+

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06 novembro 2012

No fundo do poço brilha uma luz!

clamor 2Com certeza você já se sentiu chegando ao fundo do poço! aquela situação existencial em que parece não haver saída, um problema que parece não ter solução, a angústia e o medo em relação ao futuro ou a uma situação específica do presente. Assim estava o Salmista quando compôs esse Salmo:
Salmo 57: Miserere mei, Deus
Tem misericórdia de mim, ó Deus! Tem misericórdia de mim, pois em ti minha alma se refugia; à sombra de tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.
2 Clamarei ao Deus Altíssimo, ao Todo-poderoso que tudo faz por mim.
3 Dos céus enviará auxílio e me salvará. Deus enviará a sua misericórdia e a sua verdade.
4 Minha alma está entre leões e tenho que deitar-me entre os que querem me devorar, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas e cuja língua é espada afiada.
5 Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; acima de toda a terra seja a tua glória!
6 Armaram uma rede aos meus passos e minha alma ficou abatida; cavaram diante de mim uma cova; mas eles mesmos caíram nela.
7 Preparado está o meu coração, ó Deus; preparado está o meu coração: cantarei e direi salmos.
8 Desperta, glória minha! Desperta lira e harpa; e eu mesmo chamarei a aurora.
9 Louvar-te-ei, SENHOR, entre os povos; eu te cantarei entre as nações.
10 Pois grande como os céus é a tua misericórdia; e a tua verdade se ergue até o firmamento.
11 Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; acima de toda a terra seja a tua glória!
 (versão do Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, 1988)

02 novembro 2012

O Navio

DSC06395Imagine que você está à beira-mar e você vê um navio partindo. Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe. Até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte, lá onde o mar e o céu se encontram. E você diz: "Pronto, ele se foi…"
Foi aonde? Foi a um lugar que sua vista não alcança! Só isso! Ele continua grande!
Tão bonito e tão importante como era quando estava com você! A dimensão diminuída está em você, não nele.
E naquele exato momento em que você está dizendo "ele se foi", há outros olhos vendo-o aproximar-se, outras vozes exclamando em júbilo: "Ele está chegando”.  Isto é a morte.
(o texto acima foi postado no Facebook por um amigo, Carlos Eduardo Gastal. Não sei se é da autoria dele, ele não explicita…)
A saudade pode ser algo que te destrói e imobiliza, mas também pode ser a fonte de esperança. Ao pensar nos entes queridos que partiram no navio, lembre do que deixaram com você… perdoe aquilo que te magoou e guarde com alegria aquilo que de bom deixaram… Um dia você embarcará no navio, e eles estarão felizes te esperando no outro porto. 
Confiemos sempre na misericórdia de Deus em cuja casa há muitas moradas, onde o Cristo nos preparou um lugar (cf. Evangelho segundo São João 14.1-6).
Rev. Luiz Caetano, ost+
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15 outubro 2012

Entendendo nossa Catolicidade Episcopaliana

ide sem nadaO Apostolo Paulo, quando preso, escreveu em sua Carta à Igreja de Éfeso: 
   “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.”                        (Efésios 4:1-6 N.V.I.)
O verbo suportar como aparece no texto acima, segundo a nossa linguagem cotidiana, inspira uma ideia de tolerância, “tolerar o outro”, como se não tivéssemos outra opção se não “aguentar os outros”!  Nos dias de hoje, quando o individualismo é exaltado e tem se tornado regra de vida, o outro se torna sempre alguém que a gente tem de “suportar”, “aguentar com paciência”, e “haja paciência”!
Na verdade, não é isso que o Apóstolo Paulo está dizendo. Pelo contrário, não se trata de tolerância, mas de solidariedade! No texto de Paulo, o verbo suportar significa dar suporte, sustentar, apoiar. E deve ser fruto da humildade e da mansidão, de coração aberto, porque tal é a vocação daqueles que são de Cristo!
É exatamente o suporte de uns para com os outros que dá sentido a vida em comunidade de fé, que caracteriza a catolicidade (universalidade) da Igreja de Cristo. Se não somos solidários entre nós, em nossa comunidade, e para com as demais comunidades de Cristo, não se justifica nosso louvor, nossa oração: tudo isso se torna hipocrisia!
A Tradição herdada pela Igreja Episcopal Anglicana afirma a catolicidade da Igreja, sua universalidade e sua unicidade, apesar das diferentes maneiras da Igreja ser, das diferentes denominações cristãs. Por isso, somos uma Igreja ecumênica, que partilha com as outras denominações muitas ações de testemunho e solidariedade cristã, não apenas um diálogo entre teólogos, mas ações envolvendo as pessoas. Afinal ecumenismo se faz com pessoas essencialmente!
Mas há também um aspecto interno de vivência católica entre nós. Somos uma Igreja Episcopal, assim, nossa menor unidade é a Diocese, e não cada comunidade específica. A Diocese é, para nós a Igreja Local, a Igreja Particular, não importa sua extensão geográfica. Assim, cada comunidade, seja uma Paróquia ou mesmo um Ponto de Pregação, é parte de uma única Igreja Local, de uma única Igreja Particular: a Diocese!
Isso nos difere da maioria das Igrejas de Tradição Reformada: nós não somos congregacionais. Para nós, uma determinada congregação é parte de um coletivo que denominamos Diocese. Assim, o nosso pastor é o Bispo; os Presbíteros e Presbíteras são pastores e pastoras com ele. Tecnicamente chamamos isso de incardinação (estar no coração). O Bispo, como pastor da Igreja, exerce esse pastorado de forma colegiada com seus Presbíteros e Presbíteras que, em muitos lugares, são chamados pelo povo da Igreja de “padres”, “madres”, “reverendo” ou “reverenda”. Os Diáconos, que são ministros do Bispo, cooperam nesse pastorado exercendo o serviço de acolhimento e cuidado com os mais necessitados e na administração da Igreja e sua obra social, servindo em alguma´comunidade sob a orientação de seu pároco, ou diretamente sob a supervisão do Bispo.
Assim, a unidade colegiada do Bispo com seu Presbitério e seus Diáconos, se traduz também na unidade das diferentes comunidades que compõem a Diocese, que devem apoiar-se umas às outras, dando suporte a toda ação missionária e diaconal da Igreja Diocesana. O povo da Igreja, chamado laicato, participa em todas as instâncias da administração e do poder institucional através dos Concílios da Diocese, de representações específicas e ocupando cargos oficiais, através de eleição ou nomeação, na Diocese e nas comunidades.
A Comunhão e Colegialidade dos Bispos, e por conseguinte, das respectivas Dioceses, dão unidade à Igreja Provincial, que geralmente ocupa um território nacional (como no caso do Brasil), ou parte de um território nacional (como é o caso da Igreja da Inglaterra, que tem duas Províncias), ou vários países, como é o caso da Província do Cone Sul da América, que agrega dioceses anglicanas de vários países da América do Sul. Também em nível provincial e mundial, o laicato é representado e participa ativamente das decisões, de forma paritária com o clero.
É exatamente essa colegialidade de comunhão entre os Bispos de todo o mundo e, assim, das diferentes Dioceses (com seu clero e povo) e Províncias que constitui o que chamamos de Comunhão Anglicana, uma comunhão de Igrejas particulares em comunhão entre si, unidas por vínculos de história, tradição e liturgia. O Arcebispo de Cantuária é o símbolo dessa unidade  (e não “autoridade suprema”), assim como os Primazes de cada província são o símbolo de unidade provincial. Não há uma cúria mundial, mas diferentes níveis consultivos que encaminham os pontos de concordância e discordância entre as Igrejas Particulares: tudo se resolve em nível de consenso mínimo e liberdade. Isso nos diferencia dos Católicos Romanos.
A Paróquia São Paulo Apóstolo em Santa Teresa, cidade do Rio de Janeiro é, assim, uma comunidade na Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, que por sua vez é parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (Província) e esta é parte da Comunhão Anglicana.
Nesse encadeamento de comunhão, há muitas formas de cooperação e de suporte entre as Igrejas Particulares e as comunidades (paróquias, missões, pontos de pregação). Apesar de dificuldades devido o caráter humano de toda institucionalização, nossa Igreja procura se fiel à Palavra de Deus e ao Senhor Jesus Cristo.
A Catolicidade da Igreja é um chamado e um testemunho diante do individualismo que separa as pessoas!
Rev. Luiz Caetano, ost
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04 outubro 2012

Eleições! isso não é assunto da fé?

Cdigo Florestal 2 (julho 2011)Neste domingo teremos eleições municipais em nosso país. Somos convocados a exercer nosso direito e nosso poder como cidadãos. A Igreja, enquanto comunidade, não deve ficar alheia a isso, como se fosse algo “que nada tem a ver com a fé”! Pelo contrário, exercer a cidadania é dever ético de todas as pessoas cristãs, e é um imperativo da fé madura e vivida em comunhão profunda com Deus.
Evidentemente que a Igreja é um espaço político, uma vez que cada comunidade é formada por pessoas, e pessoas  reunidas – gostando ou não –  constituem por si só um fato político. Assim, a reflexão sobre os deveres e direitos cidadãos é parte da reflexão que a Igreja deve realizar, à luz da Palavra de Deus.  Entretanto, isso não significa que a Igreja (comunidade) deve determinar o voto individual de cada pessoa, e muito menos devem os clérigos induzirem suas comunidades a apoiar este ou aquele candidato, seja a que cargo eletivo for.
Exatamente por sermos um Estado Laico, os clérigos são primeiro Cidadãos (porque não nascem clérigos) e precisam exercer sua cidadania com transparência e devem SIM, por serem formadores de opinião, ajudar o povo de suas comunidades a exercer sua cidadania, como princípio ético. Não se trata de "obrigar" o voto, mas levar à uma análise crítica da realidade à luz da Palavra de Deus, o que é, de fato, o seu papel pastoral  na qualidade de teólogo com a comunidade. O que não se deve fazer, por ser antiético, é atrelar seu ministério a um projeto eleitoral que implique em "benefícios para a igreja", ou para o próprio pastor (como acaba acontecendo).
Esta tem sido a nossa postura pastoral – minha e do Rev. Daniel – aqui na São Paulo Apóstolo. Nossa comunidade sabe das opções políticas de seus pastores, mas não se sente pressionada por elas; a congregação tem em si mesma diferentes posicionamentos políticos, e isso é incentivado em respeito ao direito de livre pensamento e decisão de cada pessoa. Todavia, também incentivamos a reflexão sobre a situação do país e da cidade onde estamos. Nossa comunidade tem sido, historicamente. muito solidária e engajada nas lutas do povo que vive em Santa Teresa, e isso é entendido por nós como parte essencial de nosso testemunho cristão; tal postura não é de hoje, mas parte dos 95 anos de história da comunidade. A comunidade de São Paulo Apóstolo assume seu papel político no bairro, como parte de seu testemunho, sem medo mas em obediência e no temor a Deus.
Entendemos que o Poder Público não está isento de críticas, ou imune à análise crítica por parte dos cidadãos, uma vez  que as pessoas investidas de autoridade recebem um mandato, ou seja, uma permissão para exercerem o poder. Assim, precisam ser permanentemente avaliadas no exercício de sua autoridade de forma a manterem-se fiéis ao principio de zelarem e promoverem o bem comum da população, razão única porque foram eleitas. Todavia, estar exercendo o poder é uma situação de muita tentação! Por isso, cabe aos cidadãos vigiarem as autoridades, e – assim – cumprirem seu direito e dever de avaliar permanentemente essas autoridades. Eleições são um momento especial para isso.
Os princípios éticos que orientam os cristãos e cristãs são aqueles decorrentes do ensino do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo: mansidão, justiça, solidariedade, compaixão, misericórdia, honestidade, lisura, correção… Tais princípios devem servir como pano-de-fundo para a avaliação das autoridades e escolha dos candidatos que venham merecer o voto de uma pessoa que professa a fé cristã com maturidade e comunhão com Deus.
Lamentavelmente, nosso país é, historicamente, uma república muito jovem e nosso povo mal formado politicamente. Muitas pessoas, graças às campanhas massivas dos grupos que defendem Direitos Humanos, sabem seus direitos, mas poucos conhecem seus deveres! Também não temos uma organização político-partidária digna de confiança e transparência: votamos em pessoas sem nos preocupar com sua linha ideológica e opções políticas exatamente porque nada sabemos sobre os partidos políticos (que aliás primam em manter o povo desinformado sobre sua base ideológica e suas propostas – se é que alguns realmente as tenham!). Por isso, em nosso país, as coligações entre partidos são, algumas, absurdas, feitas visando interesses de grupos e não somar forças por ideais sociais reais e gerais.
Domingo, você, cristão ou cristã, deverá comparecer diante da urna para depositar seu voto. Seja coerente com a sua fé! Gaste um dia, ou algumas horas pelo menos, para refletir sobre os candidatos, procure conhecer as funções e deveres dos cargos eletivos, e acima de tudo ore buscando em Deus a inspiração para sua escolha. Não pense nas vantagens pessoais que possa vir a ter com a vitória de alguém nas urnas, mas pense o que seria melhor para a sua cidade. Afinal, você não é um ser isolado, mas vive em meio a outros.
Vote com ética!
Rev. Luiz Caetano, ost+

PS. - Sugiro que você leia o artigo imediatamente abaixo deste, uma reflexão sobre o Poder à luz do Evangelho. Talvez ajude sua reflexão.
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24 setembro 2012

O maior é o menor!

cristo_rey_2[1]“E chegaram a Cafarnaum. Quando ele estava em casa, perguntou-lhes: "O que vocês estavam discutindo no caminho?" Mas eles [os discípulos] guardaram silêncio, porque no caminho haviam discutido sobre quem era o maior. Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: "Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos". (Marcos 9:33-35 – Nova Versão Internacional).

A afirmação de Jesus veio na contra-mão das expectativas de seu tempo, e também do nosso tempo. Que contradição: o maior deve ser o menor! o primeiro deve ser o último! Uma nova maneira de conceituar o poder: o poder é dado para que se possa servir! Autoridade como serviço, e portanto, subalterna ao bem comum!

Talvez seja por isso que a Igreja Cristã, a partir de determinado momento, organiza seu clero em três Ordens: diaconato, presbiterado e episcopado, uma ordem dada sobre a outra, sendo o diaconato a primeira a ser dada. Nós, episcopais anglicanos mantemos essa tradição, o que significa que todo nosso clero é formado por diáconos (servos), onde alguns diáconos são também presbíteros e outros diáconos são, além de presbíteros, bispos. Outras identidades eclesiais separam o diaconato do presbiterado, mas nós seguimos a Tradição que vem dos primeiros séculos da Igreja.

Entretanto, a afirmação de Jesus vai além da Igreja, é um alerta ao mundo. Somos (mal) educados, como cidadãos, a entender que a Autoridade é soberana (e o é), mas de forma absoluta. Confundimos, por exemplo, Governo (quem exerce a autoridade) com Estado (a organização social onde exercício da autoridade é delegado às pessoas que compõem o Governo); e assim nos acostumamos com a corrupção e com as trocas de favores: “vou votar em fulano de tal porque se eleito vai me dar um emprego!”; “não vou votar no sicrano porque quando foi prefeito não dava passagem de ônibus de graça para eu ir à cidade vizinha!”  como se o prefeito ou qualquer autoridade pudesse dar aquilo que não lhe pertence (é do Estado), mas está sob seu cuidado (administração, isto é, governo). 

Assim, entendemos a autoridade como sendo o maior e mais importante, e lhe atribuímos, por ignorância devida à nossa má educação, o poder absoluto de fazer o que quiser com o bem comum; então surgem as badalações, as trocas de favores, a corrupção. Achamos tudo isso normal, como se fosse natural que o mundo seja assim: alguns tomam o poder e favorecem os seus amigos e aliados e desprezam todo o resto da população.  Até mesmo para fazer uma obra em benefício da população, favorecem seus comparsas através da burla em licitações, permissão de superfaturamento, vista grossa quando a lei é ferida, etc. Vemos isso todos os dias denunciado pela imprensa e achamos tudo muito natural.

A Palavra de Jesus é muito clara e objetiva: a autoridade é para o serviço! Não é algo dado a uma pessoa para ela mesma, mas para capacitá-la ao serviço em benefício de todas as demais pessoas sob sua autoridade, em benefício do bem estar de todos!

Os cristãos, realmente comprometidos com a Palavra de Deus, têm o dever de exercer sua cidadania em plenitude e não se conformarem com o senso comum (o mundo).  É dever ético cristão, implícito nas palavras de Jesus que a comunidade de fé anuncie essa visão de poder, denuncie os que abusam do poder e testemunhe, através de sua atitude cidadã, a Palavra de Deus.

Isso começa no nosso universo pessoal: como exerço a autoridade em minha casa, na qualidade de pai ou de mãe? como exerço minha autoridade sobre aqueles que são meus empregados, ou subordinados no trabalho? Se me foi delegado um cargo de autoridade, por exemplo, síndico do prédio, diretor da associação do bairro, professor, diretor de escola, etc., como eu a compreendo? como eu exerço esse poder que me foi delegado?

Assim, começando em nossas relações familiares, passando pelas relações profissionais, vamos exercendo a cidadania não só neste mundo, mas sinalizando sermos cidadãos de um outro Reino, o Reino de Deus, o Reino daquele “… que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:6-8 – Nova Versão internacional).

Rev. Luiz Caetano, ost+

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11 setembro 2012

Diante de Jesus, não há neutralidade

TabernáculosDepois disso Jesus percorreu a Galileia, mantendo-se deliberadamente longe da Judéia, porque ali os judeus procuravam tirar-lhe a vida. Mas, ao se aproximar a festa judaica dos tabernáculos, os irmãos de Jesus lhe disseram: "Você deve sair daqui e ir para a Judéia, para que os seus discípulos possam ver as obras que você faz. Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas coisas, mostre-se ao mundo". Pois nem os seus irmãos criam nele. Então Jesus lhes disse: "Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo. O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau. Vão vocês à festa; eu ainda não subirei a esta festa, porque para mim ainda não chegou o tempo apropriado". Tendo dito isso, permaneceu na Galileia. Contudo, depois que os seus irmãos subiram para a festa, ele também subiu, não abertamente, mas em segredo. Na festa os judeus o estavam esperando e perguntavam: "Onde está aquele homem? " Entre a multidão havia muitos boatos a respeito dele. Alguns diziam: "É um bom homem". Outros respondiam: "Não, ele está enganando o povo". Mas ninguém falava dele em público, por medo dos judeus. Quando a festa estava na metade, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar.  (João 7:1-14- Nova Versão Internacional)

A Festa dos Tabernáculos tinha como objetivo fazer o povo se lembrar do tempo em que morou em tendas, durante a peregrinação pelo deserto, e que Deus o sustentou ali, após livra-los da escravidão no Egito (Levíticos 23:33-43). Em hebraico, essa festa é chamada de Sucot – que significa tendas – e toda a região próxima a Jerusalém ficava coberta de cabanas ou tendas feitas de ramos de árvores. Todos os peregrinos ficavam vivendo em tendas durante aqueles dias. A Festa era também conhecida como Festa da Colheita, Festa da Sega, Festa das Cabanas; acontecia no sétimo mês do calendário judaico, cinco dias após o Dia da Expiação, e durava uma semana;  no oitavo havia uma celebração solene (Êxodo 23:16-17; 34:22). Era realizada logo após a colheita do trigo e dos frutos próprios da estação; assim, a celebração servia como memória da provisão divina, que nunca faltou, mesmo nos momentos mais duros, quando o povo viveu peregrino no deserto (Levíticos 23:43). Era a festa religiosa mais alegre naqueles tempos.

Jerusalém ficava lotada de peregrinos, vindos de todo o país.  Havia muita gente e também muitas atrações. Como em nossos dias, em grandes festas populares, havia  vendedores de diversas coisas, como os “camelôs” de nossos dias, e também pessoas que se autodenominavam profetas, curandeiros, e até quem se apresentava como sendo o Messias esperado.

Por isso, os irmãos de Jesus sugerem que ele procurasse o sucesso em meio à multidão que se reuniria para a Festa, mostrando publicamente os prodígios que Ele podia realizar! Para sua família, se Jesus fizesse sucesso, como alguns curandeiros faziam, ele ganharia muito dinheiro e sua família ganharia também prestígio. Nesse sentido, o texto nos mostra que Jesus recusa a ideia de sucesso. E manifesta seu desagrado com palavras duras: não era seu momento e chama seus irmãos de mundanos, de darem importância às glórias do mundo!

Os Evangelhos mostram, em muitos trechos, que Jesus sempre recusou autopromover-se a custa de “milagres”, sempre recomendou que não se desse publicidade quando realizava alguma cura. Porque Jesus não fazia milagres para autopromover-se, mas os fazia para sinalizar a ação de Deus e a chegada de Seu Reino. Importava para Jesus que as pessoas mudassem de atitude diante da vida e das relações sociais; não lhe interessava um séquito de admiradores dependentes e aduladores.

Mas podemos também nos perguntar se a sugestão dos irmãos de Jesus seria alguma insinuação cínica para que ele ficasse exposto aos que o perseguiam, testando sua coragem.  Porque Jesus já estava sendo perseguido pelos líderes religiosos que viviam da ignorância e da exploração do povo. Na verdade, Jesus nada fazia para provoca-los. Suas palavras e suas ações incomodavam porque por si mesmo denunciavam as más intenções daquelas pessoas. Vemos hoje muito disso em todas as situações humanas: em meio a pessoas desonestas, quem seja honesto – só pela sua atitude – denuncia os demais; um juiz que age com justiça denuncia, pelo seu gesto, aqueles que são venais ou estão a serviço de elites dominantes…  ou seja: a presença da bondade, da justiça, da solidariedade, denuncia por si só a maldade, a malignidade!

Assim, como hoje, também naquele tempo, os bons eram perseguidos porque sua simples presença revela a maldade que se oculta no cinismo e no populismo.

Jesus resolveu viajar incógnito até Jerusalém. Até mesmo para evitar que grupos de peregrinos começassem a seguí-lo à espera de milagres e prodígios… e também para não chamar a atenção dos seus perseguidores. Mas em Jerusalém, acabou expondo-se no Templo. E, na sequencia do texto acima, vê-se que as autoridades do templo o mandaram prender, mas o guardas se recusaram a cumprir a ordem; além disso, houve quem o defendesse entre as autoridades… (leia todo o capítulo 7 do Evangelho de João!).

Nas palavras de Jesus, o mundo o odeia! assim como o mundo odeia todos que denunciam, através das atitudes, a maldade que existe, a dureza de coração, o egoísmo, a injustiça, a ganância…

Jesus é uma personalidade que denuncia o mal em sua totalidade apenas demonstrando Sua bondade! Diante de Jesus não se fica em neutralidade: ou aceitamos sua atitude ou rejeitamos. A leitura da Palavra de Deus, especialmente dos Evangelhos, nos coloca diante de uma escolha: afinal, o que fazemos de nossas vidas? o que realmente nos importa? vai amar ou não vai amar?

Qual a tua resposta?

Rev. Luiz Caetano, ost.

(Este texto foi produzido a partir de uma reflexão com o Rev. Daniel e com a Simone Cunha, de Recife. Agradeço a ambos as sugestões.)

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14 agosto 2012

Saudade

Vila Velha, Praia da Costa
 

 

Poemas de Saudade

(Fernando Pessoa)

Eu amo tudo o que foi 

Tudo o que já não é

A dor que já não me dói

A antiga e errônea fé

O ontem que a dor deixou

O que deixou alegria

Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia

 

Salmo 137

Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião. Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas;ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: ‘Cantem para nós uma das canções de Sião!’ Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira? Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria! Lembra-te, Senhor, dos edomitas e do que fizeram quando Jerusalém foi destruída, pois gritavam: "Arrasem-na! Arrasem-na até aos alicerces!". Ó cidade de Babilônia, destinada à destruição, feliz aquele que lhe retribuir o mal que você nos fez! Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!

Hoje amanheci com uma vontade de falar sobre a saudade. E pensei. Como fazer isto? Fazer um texto devocional? Queria fazer um artigo teológico de varias paginas, mas sabia que o blog da paróquia não comporta isso. A saudade é criticada como sendo uma vontade de voltar ao passado, uma nostalgia, ou uma volta a um passado antiquado e sem sentido, para o presente. Muito por causa disso, a sociedade sofre hoje em dia, pois uma das coisas tidas como “velhas” é querer re-viver algo que passou. Hoje tudo tem que ser novo, moderno diferente.

Nas nossas igrejas, o mesmo acontece. Quantas vezes não tive que ouvir, ao escolher determinadas músicas, que elas eram ruins porque eram antigas. O mesmo acontece com símbolos da liturgia cristã, como o sacrário ou a cruz processional: Muitos jovens e adolescentes simplesmente não o querem, porque acham eles antiquados, preferindo as liturgias light ou sem símbolo nenhum. Sem falar da liturgia em si...

Domingo passado lembrei do meu pai (pois em nosso país, era dia dos Pais), uma pessoa que gostava de falar muito, principalmente, das histórias do passado, contar coisas que aconteceram com ele ou com a nossa família. Por isso amanheci assim, nostálgico. Querendo reviver este tempo de historias e estórias, intermináveis que meu pai fazia, ao redor de uma mesa com meus irmãos e eu, ele falava e nos ouvimos horas e horas. Ah! saudade!

A verdade, porém, é a nostalgia, é a saudade de um sentimento, que nos torna humanos porque nos remete a um passado agradável que vivíamos. Ele nos faz relembrar daquilo de bom que passamos, que vivenciamos, e nos leva, muitas vezes, a repensar a vida que levamos neste tempo presente. Um resgate de algo bom, que teve um efeito positivo em nossas vidas, jamais deveria ser criticado, mas sim elogiado. Por isso me lembrei do Salmo 137...

O Salmo 137 nos mostra um povo que usou o sentimento de saudade, da nostalgia para ir além do seu sofrimento , dor e solidão numa terra estrangeira. Este povo utilizou este sentimento para manter a sanidade nos momentos de angústia e sofrimento no cativeiro, momentos em que até seus próprios entendimentos como pessoa foram destruídas.

O Salmo 137 apresenta uma narrativa claramente de uma pessoa no exílio. Ela fala, no versículo 1, sobre os rios da Babilônia, onde as pessoas sentam e choram com saudades de Sião (Jerusalém). A saudade de sua terra era exacerbada quando seus captores pediam que se cantassem canções felizes de sua terra (v.3). Entretanto, para aquele povo, os salmos eram músicas de adoração a Deus, era algo sagrado, não era meramente músicas para divertimento. Isso fazia parte da identidade daquele povo, que se via como o povo separado por Deus. Por isso, sua afirmação tão contundente (v. 5), onde o salmista afirma que espera que sua mão definhe, se ele se esquecer de Jerusalém, ou quando o salmista pede que sua língua cole no céu de sua boca, caso não considere seu lar sua maior alegria (v.6).

O texto nos traz algumas lições importantes sobre o que a saudade pode nos causar: 1) A saudade gera alegria pela restituição: O povo israelita sofreu as consequências de se afastar de Deus e cultuar outros ídolos. Agora, perceberam quão bom era viver em suas terras, livres, sem o jugo de outra pessoa. Com isso fortaleceram sua vontade de reviver ou viver plena mente sua religião que outrora foi esquecida. 2) A saudade gera fortalecimento da identidade: O neste sentimento, ao se verem cercados pela cultura e religiosidade babilônica, criaram um sentimento de unidade maior, unindo-se em torno de suas histórias ancestrais, seu passado, sua religião e seu Deus. Estudiosos afirmam que foi aqui que grande maior parte da Bíblia hebraica foi composta, deixou de ser mera tradição oral e passou para a escrita, criando um sentimento de identidade única, pois estavam espalhados pelo território babilônico, deixando um legando inestimável (tanto histórico como teológico) para nós cristãos. 3) A saudade gera frustração pela situação atual e sentimento de mudança: E aqui, deve-se tomar cuidado, pois a vontade de mudança de realidade pode gerar situações extremas, (cf vs. 7 a 9). A fúria do povo israelita se deve provavelmente por ter sido vítima da mesma pena. Por isso o sentimento de vingança do texto. A humanidade do autor transparece em seu cântico de lamento e nos leva a ponderar, que devemos aprender a canalizar nossa frustração e nosso desejo de mudança para coisas boas, justas e de preferência de transformação da realidade, para uma perspectiva boa e libertadora e nunca opressora e vingativa, querendo sempre re-significar nossa situação atual através das memórias boas. Como diz o livro das Lamentações de Jeremias: Quero trazer à memória o que pode me dar esperança.(cf.Lamentações 3.21)

Encerro esta pequena meditação sobre a saudade dizendo: Fiquem com saudade, pois é muito bom! Que poema e canção bonita os israelitas e Fernando Pessoas escreveram quando estavam com saudade.

Porque como diz Rubem Alves: A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. Ou ainda melhor: Deus mora no mundo das coisas que não existem, o mundo da saudade...!

Rev. Daniel Rangel Cabral Jr, ost+

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19 julho 2012

Separado para servir!

No domingo, 22 de agosto, a Paróquia São Paulo Apóstolo hospedará a cerimônia de Ordenação ao Diaconato do Frei Fabiano Nunes, osb. Fabiano atua em nossa comunidade paroquial há alguns anos como Ministro Leigo e administra um amplo projeto de ação social diocesana na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro.

O Diaconato é a primeira ordem que recebemos quando ingressamos no Sagrado Ministério da Igreja. O Diaconato é a Ordem do Serviço, e o ministério diaconal é exatamente o ministério de servo da comunidade em nome de Cristo. O Presbiterado (sacerdócio ordenado) é dado ao Diácono, assim como o Episcopado é dado ao Presbítero. Ou seja, todos os sacerdotes (presbíteros) são diáconos, assim como todos os bispos são presbíteros e diáconos. Portanto, todo o ministério ordenado da Igreja repousa sobre o Diaconato, ou seja, repousa sobre a ordem dada para servir à comunidade da Igreja e ao mundo em nome do Senhor Jesus Cristo, sob a inspiração do Espírito Santo.

O ministério do Diácono é fundamentado em Atos dos Apóstolos, quando é decidido separar entre membros da comunidade gentílica, sete homens para dedicarem-se ao cuidado dos órfãos e das viúvas, ou seja, das pessoas mais necessitadas da comunidade (cf. Atos 6.1-7).

Sabiamente a Igreja, desde algum tempo, e retomando antiga tradição, incluiu as mulheres nas Ordens Sagradas, e assim temos hoje na Igreja Episcopal Anglicana diáconas e diáconos, como temos também Presbíteras e Bispas. Evitamos a palavra diaconisa, pois no tradição protestante este termo não tem o mesmo significado de uma Ordem Sacramental.

Uma vez que todas as demais Ordens são dadas sobre o Diaconato,  tanto o Presbiterado quanto o Episcopado devem ser exercidos de maneira diaconal, ou seja, como serviço à comunidade em nome de Jesus Cristo, e em testemunho do Evangelho.

Na Igreja Episcopal  Anglicana acontece o renascimento da vocação diaconal e uma reflexão teológica e pastoral buscando fortalecer o papel do Diácono na vida das dioceses. Durante algum tempo o Diaconato foi visto como um “estágio” anterior ao Presbiterado, mas hoje há uma visão que recupera o significado desse ministério específico de acordo com a Tradição herdada pela Igreja.  Surgem vocações que se destinam ao Diaconato especificamente, pessoas que não buscam o Presbiterado, mas querem colocar-se em serviço diaconal de forma permanente. Fabiano, desde o início, afirma sentir-se chamado à esta vocação especial de servir como Diácono sem almejar as demais ordens. A exemplo de Fabiano, outras pessoas começam a manifestar-se sentindo o mesmo chamado, não só em nossa Diocese como também em outras.

É preciso salientar que na nossa visão doutrinária sobre as Sagradas Ordens, adotamos o princípio estabelecido na Carta aos Hebreus, de que o Sacerdócio é único e pertence ao Senhor Jesus Cristo, o qual é delegado a todas as pessoas pelo Batismo. Assim,  ao separar pessoas para o exercício das Sagradas Ordens, a Igreja como um todo delega a essas pessoas o exercício de seu sacerdócio (de todos) para exatamente exerce-lo como serviço à comunidade e ao mundo. Assim, devemos entender que Diáconos, Presbíteros e Bispos são pessoas da comunidade, separadas pela comunidade e ordenadas para o serviço à comunidade, cada ministério em seu múnus específico.  Tais pessoas têm a grave responsabilidade de serem sinais da presença de Cristo na Igreja, e por isso é necessário que haja realmente uma vocação (chamado) inspirado pelo Espírito Santo para que uma pessoa receba as Sagradas Ordens com dignidade e humildade. A Igreja, sabiamente, reserva um tempo relativamente longo para que tal vocação seja testada e avaliada até que se concretize o momento em que a pessoa é separada para exercer o ministério ordenado em nome da Comunidade em em perfeita comunhão com o Senhor Jesus Cristo.

Colocamos Fabiano, assim como todas as pessoas vocacionadas diante de Deus, intercedendo para que seu ministério seja realmente sinal da Presença do Cristo Vivo e da Bênção de Deus em nossa diocese e Igreja. Após sua ordenação, Fabiano será nomeado pelo Bispo Diocesano para servir às comunidades do Mediador e Bom Jesus, ambas na Zona Oeste da nossa cidade. Fabiano deixa a São Paulo Apóstolo com a mesma dignidade que sempre mostrou no seu longo período de ministério conosco e leva nossa gratidão e saudade.

Rev. Luiz Caetano, ost+

Rev. Daniel, ost diácono

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26 junho 2012

Passe para o outro lado, mas fique ai mesmo!


Naquele dia, ao anoitecer, disse Jesus aos seus discípulos: "Vamos atravessar para o outro lado". Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam. Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e clamaram: "Mestre, não te importas que morramos?" Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: "Aquiete-se! Acalme-se!" O vento se aquietou, e fez-se completa bonança. Então perguntou aos seus discípulos: "Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?" Eles estavam apavorados e perguntavam uns aos outros: "Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?" (Marcos 4:35-41 – N.V.I.)
Parece uma ordem simples: “Vamos atravessar para o outro lado!”; mas não era. O outro lado do Mar da Galileia era território estrangeiro, habitado por um povo de costumes e padrões diferentes. Era o território chamado Decápolis, que significa as 10 cidades. Não era um lugar como a Judéia e a Galileia, era um território estranho habitado por gente cujos costumes eram contrários à Lei… Não era algo confortável ouvir um rabino dizer “Vamos atravessar para o outro lado!”; afinal, fazer o quê, por lá?
Além do mal estar causado pela ideia “maluca” de Jesus, a travessia não era fácil. Uma coisa é navegar ao longo da costa, onde estão os cardumes, para pescar; coisa bem diferente era atravessar o mar. Longe da costa os ventos sopram mais forte, as águas são mais agitadas, e as pequenas barcas dos pescadores galileus não se davam bem em tal ambiente. Ainda por cima, o Mestre resolve cochilar tranquilamente, como que não dando pelota para o temor dos que estavam com ele, e isso durante a pior parte da travessia, e durante uma tempestade! Um desaforo!

06 junho 2012

Igreja Viva é Igreja Confessante!

Sob a influência dos valores consumistas, muita gente avalia a Igreja através de critérios pouco evangélicos (do Evangelho!). Uma Igreja cheia de gente, que movimenta muito dinheiro, que promove show de bênçãos, é considerada uma Igreja viva, porque mostra resultados de sucesso… Ou então, uma Igreja que se envolve em tudo, opina sobre tudo, participa de todas as mobilizações e suas lideranças apresentam discursos altamente engajados, é considerada uma Igreja viva porque “dá testemunho”, aparece na mídia, chama a atenção.
Entretanto, eu acredito que tais são Igrejas moldadas no ativismo e na imagem bem construída de seus pastores, não necessariamente na Cruz do Cristo. Personalismo e estrelismo, síndrome de sucesso no mercado. Um produto bem sucedido e bem vendido!
Qual seria o critério de Cristo para avaliar a Igreja? Penso que João 6:63-70 pode nos dar uma pista:
O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido. Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente. Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo. (João 6:63-70 _ Nova Versão Internacional)
Depois de multiplicar o alimento através da partilha, o Senhor fala com clareza sobre Sua Missão, sobre o significado de Sua Presença. Então, as mesmas pessoas, saciadas da fome, se afastam, saem de cena, porque as palavras do Senhor é estranha e contrária às expectativas…  Entretanto, o Senhor fica olhando todos se afastarem, não tenta negociar, não tenta agradar a clientela! Ainda, talvez cinicamente, pergunta aos que sobram, os Doze, se também não desejam abandoná-lo! Fica bem claro que o Senhor não está preocupado em organizar um movimento de massa, nem em angariar clientes ou “agradar os fiéis”; Ele não tenta seduzir com palavras doces, antes anuncia duramente o sentido de Sua Presença!  Ele mesmo sabia, diz-nos o texto, que muitos não criam. Mesmo entre os poucos que sobraram, havia um traidor.
Interessante notar que, no texto joanino, após esse episódio, Jesus não anda mais com multidões, mas reduz seu círculo de discípulos aos doze e algumas outras pessoas. Não está preocupado em ter auditório, mas em cumprir Sua tarefa, e ministrar aos poucos seguidores, inclusive ao traidor…
Qual o motivo alegado por Pedro, em nome dos que ficaram, para permanecerem com Ele?  “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”. Mais do que uma afirmação filosófica, Pedro dá um testemunho de fé e de reconhecimento do Cristo! Sua primeira frase mais parece uma oração: “Senhor, para quem iremos nós?” , como uma súplica! e conclui com uma confissão de fé: “E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”. Exatamente estes poucos que sobraram se tornam depois, os arautos da Palavra, anunciam o Evangelho por todo o mundo, tornam-se Apóstolos e Apóstolas, testemunhas vivas da Presença permanente de Cristo no mundo, testemunhas do Ressuscitado!
Aos contrário dos que hoje em dia se autodenominam “apóstolos”, ou muitos que – no decorrer da história – se proclamam seus sucessores, estes homens e mulheres que permaneceram com Jesus até a Ressurreição (mesmo tendo fugido diante da Cruz), não viviam de pompa e circunstância, não foram tomados pela vaidade, mas na simplicidade de suas vidas, são os alicerces da Igreja de todos os tempos.  E criaram comunidades confessantes da fé no Ressuscitado, comunidades solidárias aos que sofrem e choram, comunidades pequenas mas corajosas em enfrentar a perseguição do Império e da Sinagoga – os cristãos foram considerados anátema pelo Sinédrio reunido em Jâmnia, por volta do ano 90 d.C.  O primeiro fruto da ação daqueles remanescentes seguidores de Jesus na Palestina, foi a Igreja dos Mártires, a Igreja Confessante por excelência! Animados pelo Espírito Santo em suas vidas, enfrentaram a morte com ousadia e coragem!
A Igreja que herdamos é a Igreja que permaneceu no tempo e na história mesmo depois do desaparecimento de seus fundadores. Não estava alicerçada na personalidade ou no personalismo deles, mas no Espírito Santo. Quando surge a tentação do personalismo e do culto à personalidade, Paulo, um confessante, admoesta a Igreja:
Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissen-sões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. (1 Coríntios 3:3-7 – Nova Versão Internacional)
Igreja Viva é a Igreja que confessa a Fé no Cristo Ressuscitado, que anuncia o Evangelho, denuncia o Mal em todas as suas formas e testemunha com coragem a Vontade de Deus e Sua Bondade e Misericórdia. Não importa sermos muitos ou poucos, não importa sermos reconhecidos ou elogiados pela sociedade. Importa antes que seja cumprida a Vontade Soberana de Deus Pai/Mãe, manifesta em Seu Filho, o Cristo, e permanentemente anunciada através da ação do Espírito Santo.
A Igreja de Cristo está Viva quando dobra seu joelho em oração e adoração, e obedece a Deus. Ela segue ao Cristo, em Sua Cruz e Ressurreição, não segue lideres carismáticos personalistas!
Luiz Caetano, ost+
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30 maio 2012

Clamor!

clamor 1Muito tempo depois, morreu o rei do Egito. Os israelitas gemiam e clamavam debaixo da escravidão; e o seu clamor subiu até Deus. Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó. Deus olhou para os israelitas e viu qual era a situação deles. (…) [Deus disse ainda a Moisés]: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó". Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus. Disse o Senhor: "De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, e também tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso desci para livrá-lo das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem. (Êxodo 2:23-25; 3:6-9 – Nova Versão Internacional)

Do dicionário: clamar (lat clamare) 1 Bradar, gritar, proferir em altas vozes. 2 Protestar, vociferar. 3 Exorar, implorar.4 Exigir, reclamar.

Em várias passagens a Bíblia afirma que Deus ouve o clamor do Seu povo e age em seu favor. O clamor do povo de Deus move o Seu Coração e O faz agir de forma absoluta, transformando a realidade, mudando a situação! O texto de Êxodo, acima, é um dos exemplos.

Mais do que uma oração de intercessão ou de petição, o clamor é uma oração de exigência, de protesto, diante de uma situação real que contraria o projeto de Deus e Sua promessa. O clamor revela principalmente, indignação! Deus ouve o clamor e se move porque o clamor representa também uma disponibilidade de mudança e de obediência à Sua Vontade por parte de quem clama!

O clamor significa total dependência à vontade de Deus e confiança em Seu Amor. Afinal, clamar é decorrente da percepção que todas as tentativas feitas por nós mesmos resultaram em fracasso, a realidade continua opressiva e a vida insuportável. O verdadeiro clamor surge desta percepção da realidade e da nossa incapacidade de mudar essa realidade por nós mesmos! Esgotaram-se todos os recursos humanos disponíveis. Nada resta senão clamar diante de Deus e abrir-se à Sua ação.

Não se trata de desespero! mas de profunda esperança na ação amorosa de Deus, e disponibilidade de agir conforme Deus dará, através do Seu Espírito, a inspiração e a direção para o movimento de mudança, estando Ele mesmo agindo conosco!

Portanto, o clamor não significa passividade na espera do agir de Deus, mas disposição e abertura da mente para perceber e acolher a orientação de Deus, e agir conforme tal orientação. Os israelitas clamaram e Deus levantou Moisés para comandar a ação do povo; Moisés fez sua parte, admoestando o Faraó e conclamando o povo; Deus fez sua parte agindo diretamente contra o Egito; o povo fez sua parte, dispondo-se a caminhar rumo ao desconhecido – uma nova terra, prometida por Deus – permitindo que Deus o guiasse através do deserto, por longo tempo... a nova realidade não acontece de imediato, implica em uma nova caminhada e disposição de caminhar!

Há momentos em nossa vida que precisamos clamar. Há momentos na vida da comunidade e da Igreja em que precisamos clamar! Não tenhamos medo de fazer isso, de protestar diante de Deus, pois Deus tem um compromisso conosco, o compromisso da Paternidade e da Maternidade.  Clamar não é “cobrar de Deus”, mas afirmar que estamos dispostos a assumir nossa parte em Sua ação transformadora da realidade, que vamos agir, não mais sozinhos, mas com Ele!

A humanidade, e portanto a Igreja de Deus, vive hoje situações realmente complicadas. Quando analisamos friamente a realidade sentimo-nos impotentes. Há elites que governam tudo e impõem os valores da morte para garantirem sua vida. Como no antigo Egito!  É necessário clamar diante de Deus! e seguir com Ele um novo caminho!

Podemos estar vivendo uma situação de vida complicada, com sérios problemas de saúde, com dificuldades financeiras, totalmente impotentes diante da situação. É necessário clamar diante de Deus e estar atento ao Seu mover, com disposição para seguir Sua orientação, e fazer o que nos couber fazer!

Não tenha receio! Deus te ama! Clama diante de Deus contra aquilo que te oprime, que te traz indignação! O Senhor ouvirá o teu clamor! e te dará forças para um novo caminhar, pois caminhará contigo!

Luiz Caetano, ost

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22 maio 2012

Entendendo o Pentecostes

Pentecostes 06

Logo estaremos celebrando o Domingo de Pentecostes, quando a Igreja festeja a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus, inaugurando a Missão e, assim, a própria Igreja de Cristo. Todavia, o Pentecostes não é uma festa originariamente cristã, mas é uma das nossas heranças do Judaísmo. A Festa do Pentecostes era celebrada sete semanas depois da Páscoa Judaica e está referenciada no Antigo Testamento, e recebeu vários nomes conforme a época (cf. Wikipédia):

    • Festa da Colheita ou Sega - no hebraico hag haqasir. Por se tratar de uma colheita de grãos, trigo e cevada, essa festa ganhou esse nome.(Ex 23.16).
    • Festa das Semanas - no hebraico, hag xabu´ot. A razão desse nome está no período de tempo entre a Páscoa e esta festa, que é de sete semanas. Esta festa acontece cinquenta dias depois da Páscoa, com a colheita da cevada; o encerramento acontece com a colheita do trigo (Ex 34.22; Nm 28.26; Dt 16.10).
    • Dia das Primícias dos Frutos - no hebraico yom habikurim. Este nome tem sua razão de ser na entrega de uma oferta voluntária, a Deus, dos primeiros frutos da terra colhidos naquela sega (Nm 28.26). Provavelmente, a oferta das primícias acontecia em cada uma das três tradicionais festas do antigo calendário bíblico. Na primeira, Páscoa, entregava-se uma ovelha nascida naquele ano; na segunda, Colheita ou Semanas, entregava-se uma porção dos primeiros grãos colhidos; e, finalmente, na terceira festa, Tabernáculos ou Cabanas, o povo oferecia os primeiros frutos da colheita de frutas, como uva, tâmara e figo, especialmente.
    • Festa de Pentecostes. As razões deste novo nome são várias: (a) nos últimos trezentos anos do período do Antigo Testamento, os gregos assumiram o controle do mundo, impondo sua língua, que se tornou muito popular entre os judeus. Os nomes hebraicos - hag haqasir e hag xabu´ot - perderam as suas atualidades e foram substituídos pela denominação Pentecostes, cujo significado é cinquenta dias depois (da Páscoa). Como o Império Grego passou a ter hegemonia em 331 a.C., é provável que o nome Pentecostes tenha ganhado popularidade a partir desse período.
    • Enquanto a Páscoa era uma festa caseira, Festa da Colheita ou das Semanas ou Pentecostes era uma celebração agrícola, originalmente, realizada na roça, no lugar onde se cultivava o trigo e a cevada, entre outros produtos agrícolas. Posteriormente, essa celebração foi levada para os lugares de culto, particularmente, o Templo de Jerusalém. Observação: Era ilegal usufruir da nova produção da roça, antes do cerimonial da Festa das Colheitas (Lv 23.14).

Todavia, o Livro dos Atos dos Apóstolos (At. 2:1-11)  relata que:

Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.   De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo. Ouvindo-se este som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua. Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: "Acaso não são galileus todos estes homens que estão falando? Então, como os ouvimos, cada um de nós, em nossa própria língua materna? Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e árabes. Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua!" 

O autor de Atos, São Lucas, informa que na “festa da colheita” o Espírito Santo dá início à Missão dos Apóstolos, e os capacita para isso – eles se tornam capazes de testemunhar o Evangelho a todos os povos conhecidos de então, os povos que habitam no vasto território do Império Romano. O Espírito Santo torna o Evangelho (a Boa Nova) compreensível para pessoas de diferentes lugares, diferentes contextos e diferentes culturas: não mais limitado ao pequeno território entre a Galileia e a Judéia, o Evangelho agora começa a espalhar-se pelo mundo,  através das testemunhas do Ressuscitado, até os confins da Terra, movimento este previsto pelo Profeta Joel alguns séculos antes:

" [...] derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias. Mostrarei maravilhas no céu e na terra, sangue, fogo e nuvens de fumaça. O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue; antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo, pois, conforme prometeu o Senhor, no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento para os sobreviventes, para aqueles a quem o Senhor chamar. (Joel 2:28-32)

Pentecostes 04

Assim nasce a Igreja, a Comunidade de Jesus, não uma instituição, mas a comunidade que, a partir do testemunho dos Apóstolos, se reúne em comunhão em torno de Jesus Cristo, o Ressuscitado. Com o passar do tempo, a Igreja vai adquirindo caráter institucional, muitas vezes desvia-se de sua verdadeira tarefa, algumas vezes torna-se até instrumento do Mal, mas o Espírito Santo a dirige, a corrige e a reforma sempre que necessário.

O Pentecostes que celebramos hoje é sempre a recordação do que significa ser Igreja de Cristo: a comunidade movida e capacitada pelo Espírito de Deus, pessoas em comunhão solidária testemunhando o poder de Deus em suas vidas e proclamando um novo Reinado, não o Reinado de César, mas o Reinado de Cristo, um Novo Mundo plenamente possível! O Espírito de Deus se move em nosso mundo conduzindo a Igreja – Comunidade de Testemunho – na fidelidade à missão delegada por Jesus, o Cristo, o Ressuscitado!

Luiz Caetano, ost+

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03 maio 2012

Será que é Verdade? Será?

Jesus diante de Pilatos 1     Durante o julgamento de Jesus, segundo o Evangelho de João, Pilatos faz a pergunta chave: "Então, você é rei?", Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem”. “Que é a verdade?”, perguntou Pilatos. (João 18.37-38).
Verdade tem vários significados: desde o cerne do caso, estar de acordo com os fatos ou a realidade, até ser fiel às origens ou a um padrão. Uso mais antigo abarcava o sentido de fidelidade, constância ou sinceridade em atos, palavras e caráter . Assim, a verdade pode significar o que é real ou possivelmente real dentro de um sistema de valores vigentes. Estas qualificações da verdade implicam o imaginário, a realidade e a ficção, das culturas. Questões centrais em matéria de antropologia cultural, arte,  filosofia e até ser atribuída à própria razão.

26 abril 2012

Crer para Ver

emaus01Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes perguntou: "Sobre o que vocês estão discutindo enquanto caminham?" Eles pararam, com os rostos entristecidos. Um deles, chamado Cleopas, perguntou-lhe:  "Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?" "Que coisas?", perguntou ele.  "O que aconteceu com Jesus de Nazaré", responderam eles. "Ele era um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo.  Os chefes dos sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram; e nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel. E hoje é o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu. Algumas dasemaus04 mulheres entre nós nos deram um susto hoje. Foram de manhã bem cedo ao sepulcro e não acharam o corpo dele. Voltaram e nos contaram que tinham tido uma visão de anjos, que disseram que ele está vivo. Alguns dos nossos companheiros foram ao sepulcro e encontraram tudo exatamente como as mulheres tinham dito, mas não o viram". Ele lhes disse: "Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?" E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. Ao se aproximarem do povoado para o qual estavam indo, Jesus fez como quem ia mais adiante. Mas eles insistiram muito com ele: "Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando". Então, ele entrou para ficar com eles. Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram emaus05abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. Perguntaram-se um ao outro: "Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?" Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jerusalém. Ali encontraram os Onze e os que estavam com eles reunidos, que diziam: "É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como Jesus fora reconhecido por eles quando partia o pão.
(Lucas 24:13-35; Nova Versão Internacional)
Muita gente parece São Tomé: precisa ver para crer. Na verdade, precisam ver para acreditar, que é diferente de crer! Crer é mais que acreditar! Eu acredito em alguma coisa que alguém me conta, a partir do momento que aquilo que me contam tem uma certa lógica de veracidade. Acreditar é um ato da racionalidade. Crer também é uma ação da racionalidade, porém marcada por uma experiência direta e muitas vezes subjetiva, baseada em “evidências”, sinais… Crer sempre pressupõe um mistério.

19 abril 2012

Igreja: comunidade da misericórdia e do perdão!

Jesus Ressuscitado com discípulosAo cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "Paz seja com vocês!" Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor.
Novamente Jesus disse: "Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio". E com isso, soprou sobre eles e disse: "Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados".
  (João 20:19-23 – N.V.I.)

Este é o primeiro encontro, no Evangelho de João, do Ressuscitado com seu grupo de discípulos.  O Cristo se apresenta em um lugar de intimidade, isolamento e medo (portas trancadas…), e sua primeira palavra é uma saudação de Paz e um sinal claro de sua real identidade (as mãos e o lado…) . O medo dá lugar à alegria! e o Cristo se revela como a Presença da Paz que afasta os temores e traz a alegria!

Novamente o Cristo faz a saudação da Paz e então envia seus discípulos na mesma condição que Ele fora enviado: “assim como o Pai me enviou, eu os envio”, dando a eles a unção do Espírito Santo. Assim, os discípulos do Cristo são enviados com o poder do Espírito Santo e como portadores da Paz! Mas a unção do Espírito traz uma motivação: o perdão dos pecados!

E aqui precisamos ser muito cuidadosos. Não vejo no texto a delegação de autoridade para perdoar ou não perdoar. Porque perdoar ou não perdoar, significa também a capacidade de decidir o que é pecado. Uma leitura fundamentalista e moralista vê aqui que, aqueles homens, fracos, ignorantes, medrosos e covardes, teriam o poder de decidir sobre o pecado alheio! Por extensão, o texto seria uma justificativa para o poder da instituição religiosa em definir absolutos, o que significa que a ação de Deus fica limitada à decisão humana, decisão essa que não pode ser absoluta porque condicionada à condição humana (cultura, código moral, poder político, e o próprio pecado!). 

Na verdade, o perdão aqui anunciado, é exatamente o motivo da vinda do Filho ao mundo: o exercício da misericórdia do Pai e a oferta do perdão – reconciliação definitiva. Perdoar é, então, uma identificação com o ministério de Jesus.  Os discípulos são enviados ao mundo em Paz como testemunhas do Cristo Vivo e do perdão dos pecados. Se os discípulos não viverem a permanente experiência do perdão, o perdão deixa de ser tangível, deixa de ser uma experiência concreta!

Assim, a comunidade de fé que se reúne em torno dos discípulos – e a partir deles, se torna a comunidade onde o exercício do perdão (misericórdia) é seu sentido maior. Se a comunidade de Cristo não  for a comunidade do perdão, não haverá perdão, não haverá a misericórdia manifesta e o amor de Deus deixa de ser percebido na vida das pessoas.

Assim, é dever da comunidade construir-se como espaço de perdão e misericórdia, no acolhimento de todas as pessoas tais como são, para ajudá-las na superação de si mesmas em sua humanidade, abrindo-se à ação de Deus em suas vidas e alcançando a Vida em Plenitude pela obra e graça de Deus em Jesus o Cristo.

Rev. Luiz Caetano, ost+

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08 abril 2012

JESUS RESSUSCITOU! ALELUIA!

jesus-cristo-ressuscitado

Porque Ele vive, a Morte com seus poderes, foi vencida!

Porque Ele vive, a injustiça, a corrupção, a intolerância, a opressão, a exclusão, a ganância, a cobiça, a ingratidão, o preconceito, a avareza, a inveja, o ódio, e todos os males, serão vencidos, e todos os pecados serão esquecidos!

Porque Ele vive, podemos crer em um mundo novo, onde a Paz é fruto da Justiça, a Partilha e a Solidariedade governam, o Amor é o paradigma ético

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