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15 outubro 2012

Entendendo nossa Catolicidade Episcopaliana

ide sem nadaO Apostolo Paulo, quando preso, escreveu em sua Carta à Igreja de Éfeso: 
   “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.”                        (Efésios 4:1-6 N.V.I.)
O verbo suportar como aparece no texto acima, segundo a nossa linguagem cotidiana, inspira uma ideia de tolerância, “tolerar o outro”, como se não tivéssemos outra opção se não “aguentar os outros”!  Nos dias de hoje, quando o individualismo é exaltado e tem se tornado regra de vida, o outro se torna sempre alguém que a gente tem de “suportar”, “aguentar com paciência”, e “haja paciência”!
Na verdade, não é isso que o Apóstolo Paulo está dizendo. Pelo contrário, não se trata de tolerância, mas de solidariedade! No texto de Paulo, o verbo suportar significa dar suporte, sustentar, apoiar. E deve ser fruto da humildade e da mansidão, de coração aberto, porque tal é a vocação daqueles que são de Cristo!
É exatamente o suporte de uns para com os outros que dá sentido a vida em comunidade de fé, que caracteriza a catolicidade (universalidade) da Igreja de Cristo. Se não somos solidários entre nós, em nossa comunidade, e para com as demais comunidades de Cristo, não se justifica nosso louvor, nossa oração: tudo isso se torna hipocrisia!
A Tradição herdada pela Igreja Episcopal Anglicana afirma a catolicidade da Igreja, sua universalidade e sua unicidade, apesar das diferentes maneiras da Igreja ser, das diferentes denominações cristãs. Por isso, somos uma Igreja ecumênica, que partilha com as outras denominações muitas ações de testemunho e solidariedade cristã, não apenas um diálogo entre teólogos, mas ações envolvendo as pessoas. Afinal ecumenismo se faz com pessoas essencialmente!
Mas há também um aspecto interno de vivência católica entre nós. Somos uma Igreja Episcopal, assim, nossa menor unidade é a Diocese, e não cada comunidade específica. A Diocese é, para nós a Igreja Local, a Igreja Particular, não importa sua extensão geográfica. Assim, cada comunidade, seja uma Paróquia ou mesmo um Ponto de Pregação, é parte de uma única Igreja Local, de uma única Igreja Particular: a Diocese!
Isso nos difere da maioria das Igrejas de Tradição Reformada: nós não somos congregacionais. Para nós, uma determinada congregação é parte de um coletivo que denominamos Diocese. Assim, o nosso pastor é o Bispo; os Presbíteros e Presbíteras são pastores e pastoras com ele. Tecnicamente chamamos isso de incardinação (estar no coração). O Bispo, como pastor da Igreja, exerce esse pastorado de forma colegiada com seus Presbíteros e Presbíteras que, em muitos lugares, são chamados pelo povo da Igreja de “padres”, “madres”, “reverendo” ou “reverenda”. Os Diáconos, que são ministros do Bispo, cooperam nesse pastorado exercendo o serviço de acolhimento e cuidado com os mais necessitados e na administração da Igreja e sua obra social, servindo em alguma´comunidade sob a orientação de seu pároco, ou diretamente sob a supervisão do Bispo.
Assim, a unidade colegiada do Bispo com seu Presbitério e seus Diáconos, se traduz também na unidade das diferentes comunidades que compõem a Diocese, que devem apoiar-se umas às outras, dando suporte a toda ação missionária e diaconal da Igreja Diocesana. O povo da Igreja, chamado laicato, participa em todas as instâncias da administração e do poder institucional através dos Concílios da Diocese, de representações específicas e ocupando cargos oficiais, através de eleição ou nomeação, na Diocese e nas comunidades.
A Comunhão e Colegialidade dos Bispos, e por conseguinte, das respectivas Dioceses, dão unidade à Igreja Provincial, que geralmente ocupa um território nacional (como no caso do Brasil), ou parte de um território nacional (como é o caso da Igreja da Inglaterra, que tem duas Províncias), ou vários países, como é o caso da Província do Cone Sul da América, que agrega dioceses anglicanas de vários países da América do Sul. Também em nível provincial e mundial, o laicato é representado e participa ativamente das decisões, de forma paritária com o clero.
É exatamente essa colegialidade de comunhão entre os Bispos de todo o mundo e, assim, das diferentes Dioceses (com seu clero e povo) e Províncias que constitui o que chamamos de Comunhão Anglicana, uma comunhão de Igrejas particulares em comunhão entre si, unidas por vínculos de história, tradição e liturgia. O Arcebispo de Cantuária é o símbolo dessa unidade  (e não “autoridade suprema”), assim como os Primazes de cada província são o símbolo de unidade provincial. Não há uma cúria mundial, mas diferentes níveis consultivos que encaminham os pontos de concordância e discordância entre as Igrejas Particulares: tudo se resolve em nível de consenso mínimo e liberdade. Isso nos diferencia dos Católicos Romanos.
A Paróquia São Paulo Apóstolo em Santa Teresa, cidade do Rio de Janeiro é, assim, uma comunidade na Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, que por sua vez é parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (Província) e esta é parte da Comunhão Anglicana.
Nesse encadeamento de comunhão, há muitas formas de cooperação e de suporte entre as Igrejas Particulares e as comunidades (paróquias, missões, pontos de pregação). Apesar de dificuldades devido o caráter humano de toda institucionalização, nossa Igreja procura se fiel à Palavra de Deus e ao Senhor Jesus Cristo.
A Catolicidade da Igreja é um chamado e um testemunho diante do individualismo que separa as pessoas!
Rev. Luiz Caetano, ost
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