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28 novembro 2012

Fé, Justiça e Amor

Jesus caminhandoAinda pensando na festa “Jesus Cristo, Rei do Universo”, volto ao texto que relata Jesus entrando em Jerusalém, num jumento, com as multidões gritando e aclamando-o como rei:

         Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, dizendo-lhes: "Vão ao povoado que está adiante de vocês; logo que entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que vocês estão fazendo isso? ’ digam-lhe: ‘O Senhor precisa dele e logo o devolverá’". Eles foram e encontraram um jumentinho, na rua, amarrado a um portão. Enquanto o desamarravam, alguns dos que ali estavam lhes perguntaram: "O que vocês estão fazendo, desamarrando esse jumentinho?" Os discípulos responderam como Jesus lhes tinha dito, e eles os deixaram ir. Trouxeram o jumentinho a Jesus, puseram sobre ele os seus mantos; e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam cortado nos campos. Os que iam adiante dele e os que o seguiam gritavam: "Hosana! "Bendito é o que vem em nome do Senhor!" "Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi! " "Hosana nas alturas!" Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao templo. Observou tudo à sua volta e, como já era tarde, foi para Betânia com os Doze.      (Marcos 11:1-11 – N.V.I)

O Sinédrio, vendo isso, conspirou para mata-lo porque, analisando mal a cena, achou que Jesus lidera uma revolta contra os poderes estabelecidos.

Assim, quando Jesus entra em Jerusalém, ele sabe que será visto como ameaça e haveriam reações fortes. Pois tem percepção que sua vida e ministério contrariavam os interesses dos poderosos. Seu ministério se tornou ação política porque questiona as prioridades, os valores e a legitimidade das autoridades políticas e religiosas, incapazes de servir o bem comum. No entanto, ele não entra em Jerusalém para tomar o poder, nem fazer parte da maquina política: ele não anseia por poder. Pois o Poder dele é outro: Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui". (João 18.36)

Essa fina linha de coerência entre seu discurso e a sua prática nos mostra como devemos viver. Jesus nos desafia, tanto como indivíduos, como sociedade, a vivermos de acordo com os padrões de sua Mensagem, a Boa Nova, Boa Noticia que transforma a vida cotidiana em vida em abundância. Vida que, ao mesmo tempo, dá autonomia, liberdade e livre pensar. Jesus ensina que devemos ser altruístas: o serviço ao próximo sem ansiar retornos ou vantagens pessoais. Assim, ser discípulo de Cristo é andar um caminho que, incomodamos e sofremos reações decorrentes das nossas atitudes concretas.

Duas grandes tentações nos tiram deste caminho: primeiro, somos tentados a resolver os nossos problemas ou/e dos outros “espiritualmente”: o problema se torna subjetivo, isentando-me da agir por minha livre decisão, não permitindo uma atitude concreta, me tornado infantil e dependente emocional da “vida espiritual”. Em segundo lugar, somos tentados a idolatrar o poder e a desejá-lo, acreditando que, se o “nosso padrão” seja aceito – ou imposto aos outros – tudo será lindo e perfeito: assim poderemos controlar as pessoas mais facilmente. Esta cobiça pelo poder, afasta-nos da vivência do Evangelho e lança-nos em disputas mesquinhas pelo poder, esquecendo que o Poder é de Cristo.

Com isso a boa noticia fica diluída e desfigurada quando se permite que uma destas tentações triunfe em nossas vidas ou Igreja.

Nosso chamado é para sermos corajosos e fiéis, ao Evangelho e confiarmos sempre no amor de Deus orientando nossa vida, em testemunho que outra realidade é possível: a vida social sem corrupção, desmando e injustiça. O poder para livremente servir, como o Filho do Homem serve!

Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos". (Marcos 10.45)

Rev. Daniel, ost+

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06 novembro 2012

No fundo do poço brilha uma luz!

clamor 2Com certeza você já se sentiu chegando ao fundo do poço! aquela situação existencial em que parece não haver saída, um problema que parece não ter solução, a angústia e o medo em relação ao futuro ou a uma situação específica do presente. Assim estava o Salmista quando compôs esse Salmo:
Salmo 57: Miserere mei, Deus
Tem misericórdia de mim, ó Deus! Tem misericórdia de mim, pois em ti minha alma se refugia; à sombra de tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.
2 Clamarei ao Deus Altíssimo, ao Todo-poderoso que tudo faz por mim.
3 Dos céus enviará auxílio e me salvará. Deus enviará a sua misericórdia e a sua verdade.
4 Minha alma está entre leões e tenho que deitar-me entre os que querem me devorar, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas e cuja língua é espada afiada.
5 Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; acima de toda a terra seja a tua glória!
6 Armaram uma rede aos meus passos e minha alma ficou abatida; cavaram diante de mim uma cova; mas eles mesmos caíram nela.
7 Preparado está o meu coração, ó Deus; preparado está o meu coração: cantarei e direi salmos.
8 Desperta, glória minha! Desperta lira e harpa; e eu mesmo chamarei a aurora.
9 Louvar-te-ei, SENHOR, entre os povos; eu te cantarei entre as nações.
10 Pois grande como os céus é a tua misericórdia; e a tua verdade se ergue até o firmamento.
11 Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; acima de toda a terra seja a tua glória!
 (versão do Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, 1988)

02 novembro 2012

O Navio

DSC06395Imagine que você está à beira-mar e você vê um navio partindo. Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe. Até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte, lá onde o mar e o céu se encontram. E você diz: "Pronto, ele se foi…"
Foi aonde? Foi a um lugar que sua vista não alcança! Só isso! Ele continua grande!
Tão bonito e tão importante como era quando estava com você! A dimensão diminuída está em você, não nele.
E naquele exato momento em que você está dizendo "ele se foi", há outros olhos vendo-o aproximar-se, outras vozes exclamando em júbilo: "Ele está chegando”.  Isto é a morte.
(o texto acima foi postado no Facebook por um amigo, Carlos Eduardo Gastal. Não sei se é da autoria dele, ele não explicita…)
A saudade pode ser algo que te destrói e imobiliza, mas também pode ser a fonte de esperança. Ao pensar nos entes queridos que partiram no navio, lembre do que deixaram com você… perdoe aquilo que te magoou e guarde com alegria aquilo que de bom deixaram… Um dia você embarcará no navio, e eles estarão felizes te esperando no outro porto. 
Confiemos sempre na misericórdia de Deus em cuja casa há muitas moradas, onde o Cristo nos preparou um lugar (cf. Evangelho segundo São João 14.1-6).
Rev. Luiz Caetano, ost+
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