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28 fevereiro 2012

Jesus não é o piloto da minha vida! nem da tua!

emausEu adotei, como lema de vida, há muitos anos, um versículo do Salmo 37, que me marcou profundamente quando o li pela primeira vez, após minha conversão a Jesus Cristo:

“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia n’Ele, e o mais Ele fará!”    (Salmo 37.5 – Almeida R.A.)

Eu tenho meditado nesse salmo constantemente, afinal, de certa forma é o salmo que serve como orientação de vida para mim. Quero repartir com você um pouco do que tenho aprendido a partir desse Salmo.

O versículo acima não pode ser interpretado corretamente sem percebe-lo no contexto do Salmo como um todo. Olhando com cuidado, o Salmo 37 é um excelente paradigma ético! O Salmo 37 coloca a questão da prosperidade dos ímpios e exorta a uma vida em simplicidade e de confiança absoluta no amor de Deus! coloca tudo na dependência da Justiça de Deus.

A confiança em Deus não é uma atitude passiva! não se trata de passar pela vida sem nenhuma ação, sem nenhuma dor, sem nenhuma luta, como se Deus fizesse tudo. Cada um de nós tem sua vida, é responsável por ela! Deus não a viverá por nós! Confiar em Deus não é deixar por conta de Deus a responsabilidade pela nossa vida.

Por isso eu gosto muito do versículo 5: “Entrega o teu caminho…”; entregar o caminho é colocar-se como que guiado por Deus, e não viver às custas de Deus! É entender que o Senhor caminha com a gente, caminha comigo, com você, com quem confiou n’Ele para seguir o Caminho que Ele propõe.

Quando você usa um transporte público, você sabe qual será o itinerário, e confia que o motorista (ou o maquinista do trem, ou o piloto do avião, etc.)  vai seguir aquele itinerário, e levar onde você pretende chegar. Caso você perceba que o itinerário está diferente, você vai querer saber porque, e conforme for a situação, você vai reclamar muito, vai exigir que se cumpra o contrato do transporte. Não é assim?

Entretanto, “entregar o caminho ao Senhor” não é fazer dele o motorista, o maquinista ou o piloto da sua vida!!! É bem diferente! Jesus – o Cristo, que é Deus, não vai levar você onde você quer ir, mas Ele se dispõe a andar com você. Deus é um caminhante, um pedestre, que caminha ao teu lado; ou então é um passageiro sentado ao teu lado, mas você tem a direção, o leme, na mão!!! Você dirige!

Você vai perguntar: “então, para que caminhar com Deus?”

Na verdade, Jesus – o Cristo – conhece  muitos caminhos… até porque já passou por todos! Na verdade, Ele pode dizer a você quando o caminho está errado, quando você está indo depressa demais, e pode avisar que ali na frente tem uma curva muito fechada. No “rally” da sua vida, Jesus jamais será o piloto, mas será o navegador!!! Ele tem os mapas nas mãos, ele conhece os caminhos… mas você tem as rédeas nas mãos! Algumas vezes Ele assumirá mesmo o leme (mas sempre como copiloto) porque você está cansado demais, está confuso, está perdido, está sofrendo… mas logo ele devolve a condução da vida à tua responsabilidade.

Uma coisa, você pode ter certeza: Ele jamais vai pular fora do barco na hora do perigo… e quando parecer a você que tudo está perdido, Ele estará ao lado, segurando a sua mão, e animando você a seguir… nem que tenha de carregar você no colo!!!

Sugiro que você, piloto da sua própria vida, dedique algum tempo para conversar com o Copiloto. E veja com ele o mapa que está seguindo… aliás, o Salmo 37 é um bom mapa! Relaxe, leia o Salmo, e converse com o Copiloto. Você verá que o caminho não é tão complicado assim, e que você é capaz de percorre-lo! Afinal, você tem um excelente copiloto, e ele não pretende sair do teu lado!

A Quaresma é um bom tempo para rever caminhos… e buscar novos… O lema quaresmal da nossa Paróquia pode ser entendido assim: em busca de novos caminhos!

Rev. Luiz Caetano, ost+

PS – se você está sem copiloto, olhe bem ao caminhar: Ele está ali, cheio de vontade de caminhar ao teu lado! Mas muito cuidado: tem um outro sujeito metido a copiloto que anda por ai, prometendo mundos e fundos e querendo na verdade, dirigir a tua vida… Saiba reconhecer um e outro! (dica: leia a postagem anterior, logo abaixo).

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20 fevereiro 2012

Jesus manda o diabo plantar batatas!

Tentação de JesusNos Evangelhos chamados sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas) há uma referência ao fato de Jesus ter sofrido uma grande tentação no deserto, após seu batismo por João Batista. Marcos faz apenas uma menção a isso, mas Mateus e Lucas narram com detalhes, informando que o diabo apresenta três propostas diferentes para Jesus submeter-se a ele, diferindo apenas na ordem das propostas. Vamos seguir o texto de Mateus (4.1-11). A partir do texto (em itálico) vamos ver como Jesus liquida com três grandes paradigmas  (aquilo que é aceito como normal e costumeiro, valores morais entendidos como absolutos) que inspiram nosso senso comum.

14 fevereiro 2012

Termina o tempo da Epifania: Jesus rompe o paradigma da mesmice!

transf 2O próximo domingo, dia 19 de fevereiro, domingo de Carnaval, é  o Último Domingo da Epifania, encerrando o ciclo do ano litúrgico que começou com o dia da Epifania (o reconhecimento de Cristo pelos Magos do Oriente, 6 de janeiro).
Foram sete domingos onde a comunidade paroquial refletiu, a partir da leitura litúrgica do Santo Evangelho, sobre as manifestações de Jesus como o Messias, o Ungido de Deus! Já no dia da Epifania, vimos que os magos do oriente, sábios pagãos, reconhecem o sinal da presença de Cristo no mundo e vão ao Seu encontro (Mateus 2.1-12).
Nos domingos seguintes, refletimos sobre as várias manifestações do Cristo, os sinais de sua presença transformadora no mundo: a começar pelo batismo de Jesus no rio Jordão, por João o Batista (Marcos 1.7-13); o chamado dos primeiros discípulos (João 1:35-51); como Jesus fez a água assumir o sabor do vinho e assim mostrar que há um novo paradigma para a compreensão da benção de Deus (João 2:1-12); vimos Jesus libertando um homem das forças do Mal (Marcos 1.21-28); no domingo seguinte, vimos Jesus curando a sogra de Pedro, a cura para o serviço e a reintegração na vida social (Marcos 1.29-39); no domingo passado, vimos Jesus libertando um ser humano da exclusão e assumindo com isso o risco e a consequência da própria exclusão (Marcos 1.40-45). Todos esses sinais manifestam a nova presença de Deus na história humana, transformando a vida, fazendo-a plena e feliz.
Também vimos, nesses domingos, que nem todas as pessoas foram capazes de perceber a Presença de Deus! Pessoas presas a antigos costumes, que surgiram para atender necessidades específicas dentro de um contexto histórico, mas que se perpetuaram e se tornaram paradigmas, confundindo-se com a pureza da Tradição Revelada desde Moisés.
Assim, a manifestação de Jesus como o Cristo, Senhor e Redentor, provoca – para as pessoas – a decisão  de escolher entre  reconhecer a novidade, a boa-nova (evangelho!) e aceitar o desafio de iniciar o caminho rumo a um novo mundo possível; ou manter a comodidade da mesmice já conhecida e rejeitar o desafio de lançar-se rumo a novos horizontes. E você? o que você prefere?
No último domingo da Epifania, veremos o momento da Transfiguração, quando alguns dos discípulos de Jesus, os mais próximos a Ele, o percebem pela Graça, como Senhor através da Visão de Alguém que está além da Lei e dos Profetas, e confirma-se assim a compreensão de que Jesus é o Cristo e Senhor! Esse será o assunto do deste domingo (Marcos 9.2-10)
Após a Epifania, começa, já na quarta-feira após o Carnaval, a Quaresma, tempo de metanóia, conversão, mudança de rumo! Motivados pelas reflexões durante a Epifania, vamos iniciar a Quaresma com o lema: Em busca de novos paradigmas! novos paradigmas para a vida de cada pessoa, para a vida social, para a ação cidadã e para a Igreja, diante dos desafios que surgem no horizonte de nossa História!
Rev. Luiz Caetano, ost+

Nota: tomo a liberdade de sugerir a leitura de artigo em meu blog pessoal - Pirilampos e Pintassilgos - sobre a questão dos paradigmas: Romper Paradigmas! 
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08 fevereiro 2012

Os donos da verdade e a Verdade.

ele_morreu_folheto_frente-682x1024Todos nós conhecemos pessoas que se acham “donas da verdade”. Elas estão por ai: na escola, no ambiente de trabalho, aparecem aos montes pela mídia, e – o que é pior – até na Igreja tem gente assim! São aquelas pessoas para as quais quem pensa diferente delas, está errado. Só elas estão certas, só suas ideias são as corretas, só sua maneira de agir é que serve. Isso fica pior quando se trata do assunto “religião”.
Porque a experiência religiosa é algo muito pessoal, algo muito íntimo.
Imagine que eu te dê algo para comer, e te diga: “tem gosto de laranja”. Se você conhece o gosto da laranja, tudo bem, vai entender e até já imagina o sabor. Mas tente explicar para alguém que nunca viu ou provou uma laranja qual é o gosto da laranja.
Tente dizer: é meio azedo! O outro pergunta “meio azedo como o limão?” Você vai dizer, “depende, tem umas que são, mas outras são doces”... Ou seja, você só poderá explicar o sabor da laranja por semelhanças, por aproximações. O melhor mesmo é dar uma laranja ao outro, para que ele prove. E, para que ele possa realmente conhecer o sabor de laranja, terá de provar várias, de várias qualidades: as mais doces, as mais azedas... até que ele tenha em sua mente o conceito claro do sabor da laranja. Assim é a experiência da fé e a opção por uma Igreja.
Quem teve sua experiência com Deus sabe que jamais poderá contar como ela foi, apenas pode falar sobre ela, pode usar aproximações : “uma experiência maravilhosa”, “uma sensação enorme de felicidade”, e assim por diante. A experiência com Deus é algo muito pessoal, muito íntimo... quem a teve, compreende quando outra pessoa fala sobre isso. A Fé é um dom, não uma conclusão!
Mas jamais alguém poderá dizer que “minha experiência com Deus foi melhor que a tua”, assim como dizer que “quem não viveu exatamente a mesma coisa que eu, não encontrou a Deus ainda”. Quem disser isso apenas está comprovando que jamais teve uma experiência com Deus. Viveu lá uma emoção qualquer, mas um encontro com o Senhor, isso com certeza não! Sabe por que?
Porque o Senhor sabe que somos diferentes – afinal, Ele nos criou como indivíduos particulares; e conhece cada um de nós melhor que nós mesmos. Só Ele sabe como atingir a cada pessoa no coração e na mente. Aquilo que para mim foi um grande sinal do amor de Deus, talvez para você seja desapercebido ou mesmo algo meio “bobo”.
Conheço alguém que converteu-se quando, caminhando pelo centro de São Paulo, em meio ao concreto e o asfalto, viu uma flor brotando de uma fresta num muro. Essa pessoa me contou que naquele momento sentiu uma paz profunda e conseguiu entender o amor de Deus: “é como essa flor, no meio de tanta pedra e concreto, ela desponta ... Deus sempre encontra uma brecha para mostrar seu amor...” Muita gente passou por aquela flor, mas nem a percebeu... Eu mesmo me surpreendi quando essa pessoa me procurou para dizer-me “Pastor, uma florzinha me convenceu do amor de Deus... quero agora estudar mais a Bíblia e me tornar um verdadeiro cristão...” e me contou essa história. Hoje, essa pessoa é ministro ordenado de uma Igreja! E têm um belo ministério.
Por isso, é muito triste quando a gente vê, na Igreja, pessoas dizendo que uma outra não tem Deus no coração porque ora de olhos abertos, ou não inclina a cabeça... ou porque usa roupa de certa cor, ou porque não gosta de certos corinhos do grupo de louvor... Pior ainda é quando as pessoas dizem que tal Igreja não é verdadeira porque é diferente da sua... criticam negativamente outras Igrejas sem conhecerem sua História, sua Tradição... detestam a diferença!
Leia Marcos 9.38-41 e também João 10,14-16. E reflita: é correto pensar que o diferente de mim não é amado por Deus? é correto pensar que Igrejas diferentes da minha não conhecem a salvação? será que para ovelhas estarem no mesmo rebanho têm de ser todas iguais, como se uma fosse clone da outra?
Tem gente por ai querendo que a Igreja seja uma enorme comunidade de clones... por isso é tão intolerante. São “donos da verdade”, mas será que conhecem a Verdade?
Rev. Luiz Caetano, ost+
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