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19 maio 2011

A Resposta vem chegando com o Vento




“… veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam…. “ (Atos dos Apóstolos cap. 2)


O vídeo acima me fez lembrar da minha juventude, dos tempos de militância política e pacifista, especialmente contra a Guerra do Vietnam.  A música,  Blowing in the Wind, foi o grande sucesso de Woodstock, do sempre querido e lembrado Bob Dylan.

Depois de minha conversão, naquele mesmo tempo, essa música ganhou um sentido maior: ela me faz pensar no significado do Sopro de Deus, o Espírito, o Ruar de Javé, o Pneuma tou Theou.  O Vento de Pentecostes traz a Resposta de todo anseio humano: justiça, liberdade, paz, solidariedade, comunhão… O Vento traz a resposta e o chamado a uma nova perspectiva de vida, vida em abundância.

O Vento de Pentecostes – assim como à pequena comunidade assustada reunida em Jerusalém – nos incentiva a anunciar a Boa Nova, a presença de Deus no mundo, na História, como companheiro de caminho. 

Tal anúncio, entretanto, não é isento de riscos. A Boa Nova, anunciada especialmente aos pobres, aos simples, aos excluídos, aos mansos, não é boa para os adeptos do Príncipe deste Mundo, do Império cuja ganância e sede de poder a tudo engloba e absorve mantendo sua tirania através do culto ao deus Mamona (o dinheiro). As comunidades nascidas pelo fecundo sopro no Pentecostes em Jerusalém defrontaram-se com um Império poderoso… anunciavam um outro Senhor, que não aquele que se julgava senhor do mundo!

Ainda hoje, apesar de todas as contradições institucionais da Igreja de Cristo (em suas diversas maneiras de ser), é a Igreja movida pelo Sopro do Espírito, o Vento de Fogo Pentecostal, e continua anunciando a Boa Nova, o Deus-Conosco, apresentando ao mundo seu verdadeiro Senhor.  O Senhor que assumiu a Cruz! O Senhor Ressuscitado e presente! O Senhor que tem muitos redis, sendo a Igreja um deles…

No tempo da minha juventude, recente conversão, essa música servia de convocação para um novo mundo. Ainda fala ao meu coração… e me desperta o sentimento pentecostal sadio de deixar-me levar pelo Vento e sair por ai anunciando que um outro mundo é possível, onde o senhorio de Cristo não é tirano, mas carinho de Deus para todas as pessoas.

Logo estaremos celebrando o Pentecostes! Inicia-se o tempo litúrgico maior, quando a Igreja reflete – a cada liturgia dominical – nos feitos de Jesus, para aprender e refletir como seria a ação de Jesus hoje, como seria anunciar a Boa Nova em nosso tempo.

Espero não seja uma celebração burocrática, mas um Vento que sopre em nossas vidas renovando mais uma vez o velho sonho: justiça, liberdade,  paz, solidariedade, mansidão, partilha, perdão, misericórdia, comunhão – os grandes sinais do Reino de Deus.
Rev. Luiz Caetano, ost+

06 maio 2011

O Mestre Messias e o outro Messias Mestre

Mestre MessiasEu só vim a conhecer o Mestre Messias quando ele morreu. Na verdade, eu o via vez em quando, passando aqui pelas vizinhanças, mas não sabia quem ele era. É estranho conhecer alguém quando morre. Na verdade, você não conhece a pessoa, apenas vê seu cadáver, o corpo sem vida.
Mas eu o conheci pelo testemunho de seus muitos amigos que vieram ao velório, que aliás, aconteceu no templo da Paróquia. Na verdade, o Messias era pobre, sua família é pobre. Ele vivia de favor na casa de amigos; fizemos uma coleta para pagar seu funeral: serviços de funerária, caixão, cremação… (a Paróquia não cobrou nada, como é o costume).
Aconteceu assim: era bem cedo na manhã de uma segunda-feira, meu pretenso dia de folga, quando uma moça bateu à porta da casa paroquial provisória, e me explicou a situação. Um artista do bairro morrera no sábado, de ataque cardíaco, o corpo estava ainda no IML porque não tinham onde fazer o velório, perguntou se poderia ser feito no templo. Senti a angústia da moça, concordei e ela me ajudou a preparar o templo.
Na conversa fiquei sabendo que o Messias gostava do templo, e uma vez fez uma apresentação musical lá, há alguns anos. Aos poucos ela foi me falando sobre aquele senhor cujo corpo chegaria pela parte da tarde.
Durante o velório, quase a noite toda, o vai e vem de pessoas foi grande. Conversei com algumas. Fiquei sabendo que o Mestre Messias era pintor e músico, compositor, que havia ensinado muitas pessoas e por isso era chamado de Mestre.  De vez em quando chegavam alguns músicos e pediam licença para tocar algo composto pelo Mestre Messias; eu sempre concordava, fiel ao princípio anglicano da diversidade e respeito pela manifestação solidária daqueles que sofriam a perda do amigo, do mestre…
A cerimônia de Encomendação foi muito simples e emocionante, com muita música e oração, estando o templo decorado com muitos dos seus quadros. Uma semana depois, um grupo grande se reuniu novamente no templo, para o Ofício Memorial. Foi também emocionante.
Acabei me tornando conhecido, e até amigo, de algumas pessoas que tinham relações com o Mestre Messias. Foi por meio delas que fiquei sabendo muita coisa sobre o Mestre: sua vida, suas frases de efeito, seu carinho pelos discípulos, seus projetos de arte para crianças… cheguei a conhecer a história de alguns dos quadros que ele pintou.
No domingo passado, 1º de maio, aconteceu no Parque das Ruínas, aqui perto, uma homenagem especial ao Mestre Messias. Muita gente presente, música, dança, testemunhos… os amigos e discípulos celebravam a vida do Mestre Messias no mesmo lugar onde lançaram suas cinzas após a cremação. Ouvi novamente vários testemunhos, e cheguei até mesmo me surpreender dançando uma ciranda.
Hoje eu posso dizer que conheço o Mestre Messias dos Santos, e sei muito sobre ele, e o admiro como pessoa humana, pelo testemunho de seus muitos amigos e discípulos. E já falei dele para outras pessoas que não o conheceram…
O Mestre Messias me faz pensar em um outro Messias, que também era chamado de Mestre pelos discípulos e amigos. Esse outro Messias Mestre eu também conheci pelo testemunho de outras pessoas, que me falaram dele de muitas maneiras, contando sobre o que ele fez e faz.
Como o Mestre Messias, esse outro Messias Mestre é lembrado e celebrado pelos muitos amigos e discípulos todos os dias, e especialmente nos domingos. Como o Mestre Messias, esse outro Messias Mestre é uma pessoa que obriga a gente a tomar uma posição sobre ele: ou gostamos dele, ou não gostamos. Para muitas pessoas, um e outro são estranhos, suspeitos, e não se encaixam muito dentro de certos padrões moralista; para outras pessoas, são referencia de vida, motivo de celebração…
O Mestre Messias dos Santos me fez pensar muito no outro Messias Mestre, que é o Santo de  Deus. Conheci os dois, primeiro, pelo testemunho de outras pessoas, mas o outro Messias Mestre, o Santo de Deus, eu um dia o conheci pessoalmente, ele chegou até mim de surpresa, me pegou numa esquina da vida, e hoje posso até dizer o seu Nome: Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus!
O Mestre Messias dos Santos não está mais entre nós, repousa na casa do Papai e da Mamãe do Céu, é parte da Comunhão dos Santos; com certeza já conhece o outro Messias Mestre, e talvez o tenha conhecido antes, como ovelha de algum dos diferentes currais que o outro Messias Mestre tem pelo mundo…
jesus_ressureicaoMas o Mestre Jesus, o Messias de Israel, o Cristo de Deus, está vivo, entre-nós, é Deus conosco, Emanuel.
Cabe à Igreja fazer como fazem os discípulos do Mestre Messias dos Santos: testemunhar o quão importante foi para eles conhecerem seu Mestre. A Igreja só tem uma missão no mundo: anunciar que o Messias Mestre está vivo, Ressuscitado entre nós, companheiro de caminho para quem quiser seguir ao Seu lado.
Você poderá encontrá-lo em alguma esquina da vida, Ele está Vivo e quer ser seu amigo! Ou poderá vir ao nosso templo, onde nós celebramos com Ele aos domingos, às 11h00...

Luiz Caetano, ost+
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