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02 agosto 2014

Pastoral ou Poder?

jesus e os fariseus e saduceus
      Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.  Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.  Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23 1-12)
Este capítulo do Evangelho segundo Mateus se encontra inúmeras vezes a frase: “Ai de vós, Escribas e Fariseus”; a frase é bem forte, um tom de condenação. Esta expressão vem dos livros dos proféticos e sempre tem um teor condenatório para quem o recebe, uma critica sobre a atitude de quem o recebe.
Jesus ataca os religiosos da sua época (sacerdote e escribas) por causa do clericalismo exagerado que havia em seu tempo. Qualquer ato religioso deveria passar pelo sacerdote e/ou os fariseus (os únicos interpretes da lei). Além disso, obrigavam pesadas penitências às pessoas para expurgar os pecados. Os escribas e os fariseus conseguiam assim hegemonia e controle sobre o sagrado e controlando, por isso mesmo, a vida do povo no campo social, religioso e político.
Como o ser humano consegue corromper as coisas boas quando se encantam pelo poder! Jesus, em Mateus, esta criticando a tendência dos religiosos em deter o monopólio da vida e do sagrado do povo da época, criando um clericalismo exagerado, como “deuses” na terra.
Infelizmente vemos religiosos manipulado o povo com o sagrado e a santidade. Usando de sua posição para manipular e vilipendiar pessoas que buscam simplesmente serem bons crentes e seguidores da fé. Por isso me lembrei desta frase: “O homem verdadeiramente santo é aquele que não se preocupa com a santidade, assim como o homem que se deixa dominar pelo amor não se importa mais com conceitos e classificações” que dizia o teólogo e educador Rubem Alves (1933-2014). Com isso, ser bom ou santo é algo que deve ser incorporado naturalmente no nosso dia a dia. E não uma qualidade a ser usada e explorada pelo homem.
Sabemos que em nossa Igreja, como na maioria das denominações cristãs, existe o clero (bispo, presbíteros e diáconos); os quais precisam, a todo o momento, lembrar que – como Igreja e como clero – não têm a última palavra, pois nós, anglicanos, herdamos, pela Reforma, o conceito de sacerdócio universal dos fiéis, de que fala a Epistola aos Hebreus. 
Todavia, às vezes, por causa das tentações que a posição lhes dá, membros do clero buscam apenas desfrutar das regalias do ministério, e desviam seu ministério (serviço) pastoral buscando controlar a vida das pessoas ao seu bel prazer, usando-as e explorando-as emocionalmente.
Jesus nos alerta, ainda hoje, que o crente (o povo) tem a possibilidade de tomar decisões sobre a sua vida, e que nós, do clero, somos simples orientadores espirituais. Cabe a nós,  clérigos, realizar nossa atividade pastoral (visitas e aconselhamento) com espírito de humildade e simplicidade para não cairmos na tentação do monopólio da vida dos fies.
Rev. Daniel Rangel, ost+
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