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04 outubro 2012

Eleições! isso não é assunto da fé?

Cdigo Florestal 2 (julho 2011)Neste domingo teremos eleições municipais em nosso país. Somos convocados a exercer nosso direito e nosso poder como cidadãos. A Igreja, enquanto comunidade, não deve ficar alheia a isso, como se fosse algo “que nada tem a ver com a fé”! Pelo contrário, exercer a cidadania é dever ético de todas as pessoas cristãs, e é um imperativo da fé madura e vivida em comunhão profunda com Deus.
Evidentemente que a Igreja é um espaço político, uma vez que cada comunidade é formada por pessoas, e pessoas  reunidas – gostando ou não –  constituem por si só um fato político. Assim, a reflexão sobre os deveres e direitos cidadãos é parte da reflexão que a Igreja deve realizar, à luz da Palavra de Deus.  Entretanto, isso não significa que a Igreja (comunidade) deve determinar o voto individual de cada pessoa, e muito menos devem os clérigos induzirem suas comunidades a apoiar este ou aquele candidato, seja a que cargo eletivo for.
Exatamente por sermos um Estado Laico, os clérigos são primeiro Cidadãos (porque não nascem clérigos) e precisam exercer sua cidadania com transparência e devem SIM, por serem formadores de opinião, ajudar o povo de suas comunidades a exercer sua cidadania, como princípio ético. Não se trata de "obrigar" o voto, mas levar à uma análise crítica da realidade à luz da Palavra de Deus, o que é, de fato, o seu papel pastoral  na qualidade de teólogo com a comunidade. O que não se deve fazer, por ser antiético, é atrelar seu ministério a um projeto eleitoral que implique em "benefícios para a igreja", ou para o próprio pastor (como acaba acontecendo).
Esta tem sido a nossa postura pastoral – minha e do Rev. Daniel – aqui na São Paulo Apóstolo. Nossa comunidade sabe das opções políticas de seus pastores, mas não se sente pressionada por elas; a congregação tem em si mesma diferentes posicionamentos políticos, e isso é incentivado em respeito ao direito de livre pensamento e decisão de cada pessoa. Todavia, também incentivamos a reflexão sobre a situação do país e da cidade onde estamos. Nossa comunidade tem sido, historicamente. muito solidária e engajada nas lutas do povo que vive em Santa Teresa, e isso é entendido por nós como parte essencial de nosso testemunho cristão; tal postura não é de hoje, mas parte dos 95 anos de história da comunidade. A comunidade de São Paulo Apóstolo assume seu papel político no bairro, como parte de seu testemunho, sem medo mas em obediência e no temor a Deus.
Entendemos que o Poder Público não está isento de críticas, ou imune à análise crítica por parte dos cidadãos, uma vez  que as pessoas investidas de autoridade recebem um mandato, ou seja, uma permissão para exercerem o poder. Assim, precisam ser permanentemente avaliadas no exercício de sua autoridade de forma a manterem-se fiéis ao principio de zelarem e promoverem o bem comum da população, razão única porque foram eleitas. Todavia, estar exercendo o poder é uma situação de muita tentação! Por isso, cabe aos cidadãos vigiarem as autoridades, e – assim – cumprirem seu direito e dever de avaliar permanentemente essas autoridades. Eleições são um momento especial para isso.
Os princípios éticos que orientam os cristãos e cristãs são aqueles decorrentes do ensino do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo: mansidão, justiça, solidariedade, compaixão, misericórdia, honestidade, lisura, correção… Tais princípios devem servir como pano-de-fundo para a avaliação das autoridades e escolha dos candidatos que venham merecer o voto de uma pessoa que professa a fé cristã com maturidade e comunhão com Deus.
Lamentavelmente, nosso país é, historicamente, uma república muito jovem e nosso povo mal formado politicamente. Muitas pessoas, graças às campanhas massivas dos grupos que defendem Direitos Humanos, sabem seus direitos, mas poucos conhecem seus deveres! Também não temos uma organização político-partidária digna de confiança e transparência: votamos em pessoas sem nos preocupar com sua linha ideológica e opções políticas exatamente porque nada sabemos sobre os partidos políticos (que aliás primam em manter o povo desinformado sobre sua base ideológica e suas propostas – se é que alguns realmente as tenham!). Por isso, em nosso país, as coligações entre partidos são, algumas, absurdas, feitas visando interesses de grupos e não somar forças por ideais sociais reais e gerais.
Domingo, você, cristão ou cristã, deverá comparecer diante da urna para depositar seu voto. Seja coerente com a sua fé! Gaste um dia, ou algumas horas pelo menos, para refletir sobre os candidatos, procure conhecer as funções e deveres dos cargos eletivos, e acima de tudo ore buscando em Deus a inspiração para sua escolha. Não pense nas vantagens pessoais que possa vir a ter com a vitória de alguém nas urnas, mas pense o que seria melhor para a sua cidade. Afinal, você não é um ser isolado, mas vive em meio a outros.
Vote com ética!
Rev. Luiz Caetano, ost+

PS. - Sugiro que você leia o artigo imediatamente abaixo deste, uma reflexão sobre o Poder à luz do Evangelho. Talvez ajude sua reflexão.
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