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19 abril 2012

Igreja: comunidade da misericórdia e do perdão!

Jesus Ressuscitado com discípulosAo cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "Paz seja com vocês!" Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor.
Novamente Jesus disse: "Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio". E com isso, soprou sobre eles e disse: "Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados".
  (João 20:19-23 – N.V.I.)

Este é o primeiro encontro, no Evangelho de João, do Ressuscitado com seu grupo de discípulos.  O Cristo se apresenta em um lugar de intimidade, isolamento e medo (portas trancadas…), e sua primeira palavra é uma saudação de Paz e um sinal claro de sua real identidade (as mãos e o lado…) . O medo dá lugar à alegria! e o Cristo se revela como a Presença da Paz que afasta os temores e traz a alegria!

Novamente o Cristo faz a saudação da Paz e então envia seus discípulos na mesma condição que Ele fora enviado: “assim como o Pai me enviou, eu os envio”, dando a eles a unção do Espírito Santo. Assim, os discípulos do Cristo são enviados com o poder do Espírito Santo e como portadores da Paz! Mas a unção do Espírito traz uma motivação: o perdão dos pecados!

E aqui precisamos ser muito cuidadosos. Não vejo no texto a delegação de autoridade para perdoar ou não perdoar. Porque perdoar ou não perdoar, significa também a capacidade de decidir o que é pecado. Uma leitura fundamentalista e moralista vê aqui que, aqueles homens, fracos, ignorantes, medrosos e covardes, teriam o poder de decidir sobre o pecado alheio! Por extensão, o texto seria uma justificativa para o poder da instituição religiosa em definir absolutos, o que significa que a ação de Deus fica limitada à decisão humana, decisão essa que não pode ser absoluta porque condicionada à condição humana (cultura, código moral, poder político, e o próprio pecado!). 

Na verdade, o perdão aqui anunciado, é exatamente o motivo da vinda do Filho ao mundo: o exercício da misericórdia do Pai e a oferta do perdão – reconciliação definitiva. Perdoar é, então, uma identificação com o ministério de Jesus.  Os discípulos são enviados ao mundo em Paz como testemunhas do Cristo Vivo e do perdão dos pecados. Se os discípulos não viverem a permanente experiência do perdão, o perdão deixa de ser tangível, deixa de ser uma experiência concreta!

Assim, a comunidade de fé que se reúne em torno dos discípulos – e a partir deles, se torna a comunidade onde o exercício do perdão (misericórdia) é seu sentido maior. Se a comunidade de Cristo não  for a comunidade do perdão, não haverá perdão, não haverá a misericórdia manifesta e o amor de Deus deixa de ser percebido na vida das pessoas.

Assim, é dever da comunidade construir-se como espaço de perdão e misericórdia, no acolhimento de todas as pessoas tais como são, para ajudá-las na superação de si mesmas em sua humanidade, abrindo-se à ação de Deus em suas vidas e alcançando a Vida em Plenitude pela obra e graça de Deus em Jesus o Cristo.

Rev. Luiz Caetano, ost+

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