Na Bíblia, a palavra “misericórdia”
aparece centenas de vezes. Eu afirmo,
até, que “misericórdia” é um dos grandes temas bíblicos. Acima de tudo, a
Bíblia revela a Misericórdia de Deus, o Deus Misericordioso e Justo. Sim,
porque Misericórdia e Justiça são lados de uma mesma figura, no conceito
bíblico! É Deus quem julga a humanidade e Sua Justiça se baseia na Misericórdia
Em Mateus 5:7
Jesus diz: “ Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia”.
Deus é misericordioso com quem exerce a misericórdia: “Porque o juízo será sem
misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do
juízo.” (Tiago 2:13), ou seja a
misericórdia está acima do juízo! Assim,
a misericórdia é algo a ser exercida como obediência a Deus! O julgamento de
Deus se baseia no critério de cada pessoa. Jesus afirmou “Porque, com o juízo com que
julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de
medir a vós.” (Mateus 7:2).
Todavia, quando
pensamos em julgamento por Deus, muitas vezes imaginamos o Senhor como um juiz
severo e mal encarado, feliz em condenar sem apelações (na verdade, em nossa cultura ocidental fomos ensinados assim!).
Mas não é assim! Porque o juízo misericordioso de Deus tem, como prioridade, o Perdão!
O Perdão é o terceiro lado que compõe,
com a Misericórdia e a Justiça , a figura imaginária do Deus Amoroso que se
revela em Jesus, o Cristo.
O Perdão não exclui a Justiça, que exige uma reparação ou uma satisfação, mas é induzido pela Misericórdia diante do culpado que tem consciência de sua culpa e dela se arrepende. A reparação ou a satisfação, exigidas pela Justiça, não devem ser entendidas como vingança, mas como correção. Entendidas como vingança, não expressam Justiça, mas o “pagar o mal com o mal”.
“Perdoar é abandonar a esperança de um
passado melhor!” Li essa frase em um
artigo há alguns meses, e fiquei impactado por ela. Posso dizer, como paráfrase, que perdoar
é a criar a esperança de um outro futuro, melhor! Oferecer uma nova oportunidade, uma nova
chance, desligando o passado e abrindo-se ao futuro!
De fato, quando
alguém nos causa o mal, nossa reação é de ira; da ira passa-se ao ódio, ao
ressentimento e à amargura, sentimentos que nos fazem ruminar constantemente o
acontecido, prendendo-nos em um passado
que não pode mais ser mudado! Uma
situação neurótica, uma rua sem saída. Perdoar é romper com esse circuito fechado
em torno do nosso próprio umbigo e abrir novas portas para nós mesmos e para os
outros.
O Perdão é
filho da Misericórdia e promove uma Justiça além do castigo. Para sentir misericórdia
é preciso um coração renovado que
tenha experimentado a Graça de Deus, ou seja, que tenha experimentado a Justiça
Misericordiosa de Deus, a libertação da Culpa e o vislumbre de novos
horizontes. Isso é a Graça de Deus,
manifesta em Jesus, o Cristo.
Mas para isso,
é preciso reconhecer a Misericórdia de
Deus, que antes de julgar e cumprir a Justiça,
apresenta a oportunidade do Perdão
diante do arrependimento. O arrependimento
é reconhecer que falhou, que cometeu um erro, que fez algo inadequado e, certamente,
injusto; é querer voltar atrás e não fazer o mal que foi feito;
ou, quando possível, desfazer o mal
feito. Nem sempre o mal que foi feito pode ser reparado. Aliás, na grande
maioria das vezes, o mal que se causa a alguém não pode mais ser reparado. O arrependimento se torna então o tormento da
Culpa, um peso que a pessoa terá de carregar por toda a vida que lhe resta, a
menos que receba a Graça do Perdão.
Assim, tanto
quando praticamos o mal ou recebemos o mal de alguém, o resultado é sempre a
dor. Ou a dor da Culpa, que chega mais cedo ou mais tarde, ou a dor do Ressentimento
contra alguém que lhe fez algum mal. As duas situações acabam em neurose, criam
um círculo vicioso em torno de nós mesmos e nos impedem de perceber a realidade
das coisas que Deus está nos oferecendo.
É preciso que
uma pessoa arrependida, em primeiro lugar, confesse seu erro, seu ato de
desamor, para que ela mesma se perdoe,
ou melhor, se abra ao Perdão. Diante de Deus, e com o firme propósito de
corrigir o erro cometido até onde seja possível, confessar-se é o primeiro
passo, para perceber a Misericórdia de Deus e acolher o Perdão.
Isso se chama
conversão! Mudança de rumo! Novos horizontes!
Por outro lado,
ser movido pela Misericórdia, colocar-se no lugar do outro, e oferecer o Perdão
a quem lhe fez mal, liberta você mesmo de todo rancor, de todo ressentimento, e
te dá oportunidade de um novo olhar para as pessoas.
A Fé Cristã
apresenta um futuro que já é presente: o Reinado de Deus! Jesus mesmo afirmou
que o Reino de Deus está no meio de nós (Lucas
17.21)! Esse Reinado não é algo para um futuro além do tempo, um “mundo
do depois”, mas é algo que acontece e está acontecendo agora! Começa pequeno, e
como o grão de mostarda, se torna grande à medida que a vida caminha diante do
Senhor, vida aberta ao Espírito Santo que distribui fartamente a Graça e os Dons
da vida no Espírito!
Por que Deus amou
você primeiro em Jesus Cristo e oferece
sempre a você – pela Sua Misericórdia – o Perdão, a ruptura com o passado, a possibilidade
do recomeço, do futuro diferente; se
você abre sua mente e seu coração a Deus e recebe essa Graça, o Espírito Santo
de Deus te fará um coração novo e um espírito reto, fará de você um promotor e anunciador
do amor de Deus e um portador da Misericórdia. E assim, na dinâmica da Misericórdia, de perdoar
e ser perdoado, você recebe o Reinado de Deus em sua vida!
Nota: A palavra
"misericórdia" se apresenta, no dicionário, com vários significados,
e pode assumir duas classificações morfológicas:
a) Como substantivo feminino: sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça; dó, compaixão, piedade. Ato concreto de manifestação desse sentimento, como o perdão; indulgência, graça, clemência.
b) Como interjeição: exclamação de alguém que pede que o livrem de castigo, de ato de violência ou da morte. Reação de surpresa diante de algo inusitado: "Misericórdia! ele toca piano como um Mestre!".
a) Como substantivo feminino: sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça; dó, compaixão, piedade. Ato concreto de manifestação desse sentimento, como o perdão; indulgência, graça, clemência.
b) Como interjeição: exclamação de alguém que pede que o livrem de castigo, de ato de violência ou da morte. Reação de surpresa diante de algo inusitado: "Misericórdia! ele toca piano como um Mestre!".
Rev. Luiz Caetano, ost+
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