Os artigos deste blogue expressam o pensamento de seus autores, e não refletem necessariamente o pensamento unânime absoluto da comunidade paroquial. Tal unanimidade seria resultado de um dogmatismo restrito e isso contraria o ethos episcopal anglicano. O objetivo deste blogue é fornecer subsídios para a reflexão e não doutrinação. Se você deseja enviar um artigo para publicação, entre em contato conosco e envie seu texto, para análise e decisão sobre a publicação. Artigos recebidos não serão necessariamente publicados.

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24 dezembro 2015

Um menino nos nasceu!


Um Menino nasceu para nós... pobre; na periferia de uma grande cidade situada na periferia de um grande Império (opressor como todos os impérios); visitado pelos pastores, aqueles que vivem fora dos muros; deitado em uma manjedoura, um curral, porque não havia quem o hospedasse... 
Alguém ainda lembra o que realmente se festeja?

19 dezembro 2015

O Lado Escuro da Força

Herói e Bandido
Sem dúvida, a bactéria consumista deste final de ano é mais um episódio da série Guerra nas Estrelas.

Nada contra a serie, que, aliás, gosto muito e assisti todos os episódios. De certa forma, é uma série inteligente, mas demasiadamente fantasiosa para ser considerada Ficção Científica de boa qualidade.

O Darth Vader é ao mesmo tempo um vilão e um herói. Foi considerado pela crítica como um dos personagens mais significativos e emblemáticos do cinema no século XX, e pelo jeito, continua sendo nestas quase duas décadas do século XXI.

A estória do Darth Vader é conhecida: o “Jedi” Anakin Skywalker, depois de perder sua condição de “Cavaleiro Jedi”, e ter sofrido uma barbaridade (perdeu as pernas, teve quase todo seu corpo queimado por lava), entrega-e plenamente à sedução do “Lado Escuro da Força”.

Maniqueísmos à parte, toda a saga , como a maioria das produções de Hollywood, acaba sendo a velha luta entre o Bem e o Mal, com uma tremenda sofisticação tecnológica e um enredo muito bem bolado; mas no fundo, continua sendo um filme de “mocinho e bandido”, com direito à cavalaria chegando para salvar a pátria… e o bandido morre.

22 novembro 2015

Milagres Acontecem?!

Viuva de Naim 2
Várias vezes acontece de pessoas me pararem na rua e perguntarem: “Padre, sua Igreja faz milagre?”  ou então: “Estou interessado na sua Igreja; o que ela tem para oferecer?”
É muito complicado dar uma resposta a perguntas desse tipo. Obviamente,  militantes imprudentes do proselitismo dirão que a resposta é simples: responder “Sim” à primeira questão e responder mostrando as atividades da igreja no caso da segunda, e, óbvio, convidar para que venha conhecer a igreja, que será bem recebido, que Jesus tem um presente para a pessoa, etc.
Mas não é tão simples, porque, por trás dessas perguntas estão alguns equívocos, e até mesmo uma disfarçada idolatria consumista, além de, muitas vezes , uma mente desesperada, uma alma aflita.
Eu costumo manter o diálogo assim:
“Padre, sua Igreja faz milagre?”  Respondo: “Olhe, a Igreja não é minha, mas é de Cristo; e ela não faz milagre, Deus é quem faz, em qualquer lugar e até lá… mas nós não fazemos disso uma propaganda para atrair pessoas, porque o milagre não é um mérito da Igreja, mas uma graça que Deus concede às pessoas que têm fé. Quando isso acontece, nós louvamos a Deus, mas não ficamos divulgando por ai, porque Deus não precisa de publicidade, nem milagres são possíveis de serem comprados. Você quer que eu ore com você?”
“O que a sua Igreja tem para oferecer?”  Respondo: “Olhe, a Igreja não é minha, mas é de Cristo. Ela tem para oferecer algo muito pequeno, nada de espetacular que esteja disponível em um Shopping. O que ela oferece cabe na palma da mão, Jesus disse que é do tamanho de uma sementinha… mas não se compra isso, nem se ganha com dinheiro, bajulação e arrogância; é de graça, mas requer muita humildade. E tem uma coisa importante que você precisa saber: exige compromisso e comprometimento. Você está mesmo interessado? Se estiver, será bem vindo!”

25 agosto 2015

Um pouco de História para deixar claro algumas coisas…

Boa Nova
Hoje em dia o adjetivo “evangélico” está substantivado, como identidade de grupos religiosos dos mais diversos, todos se afirmando “cristãos”, embora grande parte deles não professa exatamente a Fé Evangélica Cristã.
Entretanto, o desgaste sofrido pelo adjetivo “evangélico” leva as pessoas a pensarem que “ser evangélico” é exatamente ter a prática religiosa desses grupos, especialmente aqueles grupos em que a Graça e a Bênção são substituídas pela prosperidade material, pela compra de bênçãos e pela idolatria de seus líderes.
Em poucas palavras, de forma bem resumida, é bom lembrar que o adjetivo “Evangélica” foi atribuído por Martilho Lutero quando – excomungado pela Igreja de Roma – definiu seu grupo como Igreja Evangélica, não em oposição à Igreja Católica, mas afirmando a identidade de uma Reforma que deveria fazer a Igreja retornar sua confessionalidade à afirmação dos valores do Evangelho: a salvação pela Graça e pela Fé, e total obediência ao senhorio de Cristo, sempre com base nas Escrituras.
Aliás, “católico” e “apostólico” são outros adjetivos que foram substantivados como nome de Igreja ao invés de serem entendidos como qualidade universal da Igreja que vem dos Apóstolos; nesse sentido, todas as Igrejas que mantém seu vínculo histórico com o cristianismo primitivo, são católicas e apostólicas! Inclusive a Igreja Evangélica que surge a partir do pensamento de Martinho Lutero! e a maioria das Igrejas vindas do movimento da Reforma do Século XVI e, obviamente, as Igrejas Orientais, também conhecidas como Ortodoxas.

26 junho 2015

Você é cristão?!?!?!

cruzCaminhar com Jesus Cristo não é fácil. Não é uma opção filosófica. Não é adotar um estilo de vida. Não é ser “bonzinho”. Caminhar com Jesus Cristo é, acima de tudo, aceitar um convite, um chamado, e todas as implicações que isso traz.

No tempo presente, o nome de Jesus Cristo é insultado diariamente. Espertalhões que exploram a fé do povo cometem, “em nome de Jesus”, falcatruas visando angariar dinheiro de maneira imediata, deturpam descaradamente a Bíblia, que para os Cristãos é a Palavra de Deus, anunciam falsas promessas ou, por outro lado, defendem uma moralidade hipócrita e irrelevante, como se o Deus da Igreja fosse um grande negociante ou um soberano mal humorado.  Transformam a Fé Cristã em consumismo religioso vazio de conteúdo, prometendo em nome de Deus o que Ele jamais prometeu! E buscam as instâncias de poder do Estado para, com tal poder, atingir seus mais torpes objetivos.

As comunidades de fé que ainda resistem a essa onda diabólica, se tornam cada vez menores, e passam por forte crise de identidade. Há uma pressão sobre elas para acompanharem a onda do consumo religioso e crescer a qualquer preço.

Ao mesmo tempo, diante das falcatruas e das propostas moralistas hipócritas e excludentes, pessoas inteligentes se afastam de qualquer coisa que tenha um significado religioso, especialmente um significado “cristão”.

Muita gente inteligente, hoje, afirma crer em Deus, mas não frequenta qualquer religião. A religião é vista como algo nocivo e enganador, movida por organizações (chamadas Igrejas) cujo interesse é acumular riquezas, e explorar a boa fé das pessoas mais simples.

Todavia, pouca gente compreende que caminhar com Jesus Cristo não é simplesmente adotar uma religião ou vincular-se a uma instituição.  Igrejas sempre estão cheias de gente, mas não significa que estão cheias de pessoas cristãs!

Caminhar com Jesus Cristo é, acima de tudo, uma experiência que surge a partir de um convite: “Vem, e segue-me!”  É uma experiência que só tem sentido quando vivida em uma comunidade de oração, serviço, anúncio e testemunho. Tal comunidade é, desde os tempos dos Apóstolos, chamada de Igreja. Não uma instituição, mas uma grande comunidade.  Sem essa percepção, tudo perde sentido!

É claro que as comunidades de fé se organizam institucionalmente. Não podem fugir disso. É da própria natureza dos agrupamentos humanos organizarem-se com normas de direitos e deveres, símbolos e ações simbólicas, definições de autoridade e exercício de poder dentro do agrupamento. Mas nada disso é absoluto por si mesmo, mas é antes de tudo, a maneira de compreender as limitações humanas e colocar-se na total dependência de Deus. Não há autoridade única e absoluta na Igreja de Deus, a não ser a de Jesus Cristo. Todo o resto se procura fazer em obediência e atendimento ao chamado: “Vem e segue-me!

Como tudo que é humano, a grande comunidade de fé se organiza, e se denomina tal organização de “Igreja” e, ainda que possa abranger muitas comunidades de fé espalhadas pelo mundo, traz em si mesma a imperfeição humana e a tentação do pecado. Em todo tempo e lugar sempre acontecem desvios e muitas vezes o absoluto de Deus é deixado de lado.  Na teologia, isso se chama pecado.

Por ser humana, a Igreja está cercada pelo pecado. Por isso,  a comunidade de fé está sempre se renovando e se reformando, procurando corrigir os desvios e tentando evitar a tentação de ser absoluta por si mesma. Por isso, a Igreja se reúne como comunidade para, acima de tudo, colocar-se diante do Senhor, reconhecer seus pecados, e receber a Graça Libertadora que anima toda a comunidade a permanecer fiel e caminhando com Jesus Cristo neste mundo!

Há muita safadeza no chamado “mercado religioso”. Há muita gente “esperta” que, tal como um vampiro, vive parasitando as pessoas com promessas vazias, falsos testemunhos e muitas vezes acompanhado de uma moralidade hipócrita, excludente e preconceituosa.

Mas há também muitas comunidades de fé que não se deixam levar pelos demônios da exploração e da falcatrua; acolhem com afeto e simpatia todas as pessoas que, tendo ouvido o Chamado, buscam vivenciar essa experiência em uma comunidade de irmãos e irmãs.

São essas pessoas que tornam o testemunho cristão relevante diante das mazelas do mundo. São tais pessoas que, nos momentos mais duros e difíceis da sociedade humana são capazes de empenhar a própria vida visando o bem estar de todos. É porque ainda existem os que atenderam ao Chamado que a solidariedade, embora rara hoje em dia, ainda acontece. 

Isso não é um privilégio das comunidades Cristãs. Afinal, o próprio Jesus informou, aos seus discípulos mais próximos, que Ele tem ovelhas em outros apriscos…  e eu entendo que lá Ele é reconhecido, mas chamado por outro nome…

Rev. Luiz Caetano, ost+

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03 junho 2015

SS. Trindade: Justiça, Misericórdia e Graça!

Síntese do Sermão proferido no Domingo da SS. Trindade

ss_trindade08Conta uma tradição que certa vez estava Santo Agostinho de Hipona refletindo sobre o “Mistério da SS. Trindade”. Ele queria entender a partir da lógica helenista de seu tempo. Agostinho, olhando para a praia enquanto meditava, viu um menino brincando na areia, de forma curiosa: o menino havia cavado um buraco na areia e, com um vasilhame, corria até o mar e trazia água que jogava no buraco, e ficava olhando. Em seguida, ele voltava ao mar, e trazia água e jogava no buraco. E fez isso muitas vezes. Agostinho ficou encafifado com aquilo e resolveu descer até a praia para ver aquilo de perto. Ele precisava espairecer um pouco porque sua cabeça estava doendo de tanto pensar sobre a SS. Trindade e, talvez brincando um pouco com o menino, poderia distrair-se.

Chegando à praia, viu que o menino continuava fazendo a mesma coisa, parecia até um ritual: ia até o mar, enchia o vasilhame com água e jogava no buraco cavado na areia. Agostinho se aproximou e perguntou ao menino: “_ O que você está fazendo, com essa brincadeira de buscar água e jogar dentro do buraco?”. Olhando para Agostinho, o menino disse: “_Estou colocando o mar todinho dentro desse buraco!”

Agostinho riu e fazendo um carinho na cabeça do menino, disse: “_ Meu filho, isso é uma coisa impossível! Você não vê que a areia absorve a água que você joga? essa água volta para o mar… você não vai conseguir colocar o mar todo no buraco que você cavou, nem que faça o buraco crescer dez vezes!” O menino, olhando bem nos olhos de Agostinho disse: “_ Pois saiba que é mais fácil eu colocar o mar todo neste buraco que você explicar a SS. Trindade!”; em seguida, o menino desapareceu.

Agostinho entendeu que um Anjo, enviado por Deus, veio até ele para, simplesmente, ensinar que o Mistério da SS. Trindade é realmente um mistério, trata-se de uma percepção e não de uma racionalização.

A lenda, que aparentemente é uma apelação autoritária sobre a doutrinária, não nos serve para compreendermos o mistério.  A tradição bíblica do Antigo Testamento nos fala do Deus de Justiça!  Já, o Novo testamento nos apresenta o Deus da Misericórdia, e o Deus que derrama a Graça sobre seu povo.

O que significam Justiça, Misericórdia e Graça no contexto bíblico? Sem estender muito o assunto, podemos entender assim: JUSTIÇA é dar a cada um o que merece: o castigo ou a absolvição! MISERICÓRDIA é não dar a cada um a punição que merece! GRAÇA é dar a cada um o que não merece! (1) 

Mistério é algo que, estando oculto, é revelado! ou seja, quem sabe olhar, o vê! Mistério é algo que está ai, na cara da gente, mas só quem sabe olhar pode ver! E esse seria o olhar da fé!

Não explicamos racionalmente a SS. Trindade; nem estamos dando uma interpretação racional, pois, afinal, não queremos colocar todo o mar em um buraco na praia, mas esta é uma proposta de reflexão que pode ajudar você, leitor e leitora, a refletir no significado desse Mistério e o quê esse Mistério aponta para a sua vida e a vida da Comunidade de Fé:

O Deus Justo se revela em Seu Filho como Deus Misericordioso e se manifesta como o Deus da Graça, movendo seu povo a proclamar que um novo mundo é possível, a Boa Nova de Jesus o Cristo! 

A aventura utópica* da fé nos mantem na esperança desse novo mundo: como diz Aquele que está no Trono, conforme o Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas” (Apocalipse 21.5b).

* Utopia (gr.: u topos) = não lugar ainda, pode vir a ser lugar; é diferente de Atopia (gr.: a topos) = nunca lugar! Utopia é um horizonte, Atopia é coisa nenhuma!

(1) Devo esta conceituação ao Prof. Dr. Márcio Redondo, em palestra apresentada  durante um evento preparatório para a Assembleia Geral do CLAI, em 2005, na Faculdade Teológica Sul-Americana, na cidade de Londrina (PR).

Rev. Luiz Caetano, ost+

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05 abril 2015

O discípulo viu e creu: Jesus está vivo!

Viu e Creu 2Domingo bem cedo, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi até o túmulo e viu que a pedra que tapava a entrada tinha sido tirada. Então foi correndo até o lugar onde estavam Simão Pedro e outro discípulo, aquele que Jesus amava, e disse: — Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o puseram!  Então Pedro e o outro discípulo foram até o túmulo. Os dois saíram correndo juntos, mas o outro correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro. Ele se abaixou para olhar lá dentro e viu os lençóis de linho; porém não entrou no túmulo. Mas Pedro, que chegou logo depois, entrou. Ele também viu os lençóis colocados ali e a faixa que tinham posto em volta da cabeça de Jesus. A faixa não estava junto com os lençóis, mas estava enrolada ali ao lado. Aí o outro discípulo, que havia chegado primeiro, também entrou no túmulo. Ele viu e creu. [...] E os dois voltaram para casa. Maria Madalena tinha ficado perto da entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, ela se abaixou, olhou para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus. Um estava na cabeceira, e o outro, nos pés. Os anjos perguntaram: — Mulher, por que você está chorando? Ela respondeu: — Levaram embora o meu Senhor, e eu não sei onde o puseram! Depois de dizer isso, ela virou para trás e viu Jesus ali de pé, mas não o reconheceu. Então Jesus perguntou: — Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando? Ela pensou que ele era o jardineiro e por isso respondeu: — Se o senhor o tirou daqui, diga onde o colocou, e eu irei buscá-lo.   — Maria! — disse Jesus. Ela virou e respondeu em hebraico: — “Rabôni!” (Esta palavra quer dizer “Mestre”.) Jesus disse: — Não me segure, pois ainda não subi para o meu Pai. Vá se encontrar com os meus irmãos e diga a eles que eu vou subir para aquele que é o meu Pai e o Pai deles, o meu Deus e o Deus deles. Então Maria Madalena foi e disse aos discípulos de Jesus: — Eu vi o Senhor! E contou o que Jesus lhe tinha dito.          (Evangelho de João, 20.1-18 – NTLH)
O texto bíblico fala por si mesmo. Tem sua própria linguagem! Tem sua própria semântica, seu contexto e intenção! É pelo teu coração que você precisa ver e crer!
A Fé Cristã só pode ser entendida e experimentada como um dom!  Ele é como poesia... Uma poesia de Ivan Junqueira, pode ajudar a entender isso:

FLOR AMARELA
(Ivan Junqueira - * 1934 , + 2014)
Atrás daquela montanha tem uma flor amarela;
dentro da flor amarela, o menino que você era.
Porém,
se atrás daquela montanha não houver a tal flor amarela,
o importante é acreditar
que atrás de outra montanha tenha uma flor amarela,
com o menino que você era
guardado dentro dela.
Lido dentro de uma lógica cartesiana/aristotélica, o texto se torna absurdo. Lido na perspectiva da fé (e da poesia), o texto ganha significado de esperança, cria sentido para a vida, abre portas para libertação!
Jesus Cristo está vivo! Hoje e sempre!
Rev. Luiz Caetano, ost+

17 fevereiro 2015

Lema da Quaresma 2015: Renovando-nos como Igreja!

OraçãoÉ preciso que voltemos nosso olhar ao Evangelho para libertarmo-nos de conceitos, usos e costumes que foram sendo incorporados pela Igreja no decorrer de sua História. A Igreja deve estar em constante reforma, para que possa responder aos desafios deste tempo presente e dar o testemunho da vida em Cristo. Cada comunidade da Diocese na região do Arcediagado do Rio de Janeiro começa o processo de construir um Plano Trianual, um processo permanente de planejamento e avaliação, para caminhar rumo a uma renovação em termos de organização e percepção missionária. É um princípio que herdamos da Reforma do século XVI: Igreja Reformada, sempre se reformando!
Uma mudança de paradigmas é algo complexo, lento e não muito simples! A renovação da Igreja só acontecerá se cada um de nós renovarmo-nos diante de Deus, a partir do estudo e leitura orante da Palavra de Deus, se formos capazes de fazermos isso não só individualmente, mas também enquanto comunidade confessante.
Precisamos olhar a nós mesmos como comunidade, olharmos a realidade onde estamos inseridos, detectar as oportunidades e os desafios para nossa ação missionária. Ação missionária não significa proselitismo, mas testemunho diante das realidades do mundo. Devem ser as nossas atitudes, as nossas ações que apresentem o Evangelho, não o palavreado exagerado tentando convencer pessoas! Palavras podem convencer, mas atitudes convertem!
No processo de construção do Plano Trianual, apresentado na Conferência Diocesana de setembro passado, usaremos o método ver, julgar, agir e celebrar, a partir de uma avaliação do que temos sido, observar a realidade ao nosso redor, analisar essa realidade para compreende-la e definir o que podemos fazer nessa realidade como missão e testemunho, para construirmos relações de comunhão e serviço.
Comece você mesmo essa reflexão pessoal, depois faça-a com sua família, estenda à nossa comunidade: vamos iniciar o processo de VER! e de JULGAR!
Enquanto pessoa no mundo, você deve se perguntar:
1.Vendo e avaliando a mim mesmo: Como está minha vida pessoal? O que está bom? O que pode melhorar? O que precisa mudar?
2. Vendo e conversando com a minha família: Como está nossa vida familiar? O que está bom? O que pode melhorar? O que precisa mudar?
3. Vendo e conhecendo os arredores de minha casa: como é a vizinhança? que necessidades temos como moradores no bairro? como você e sua família podem ajudar?
4. Vendo e avaliando meu espaço profissional: Como são meus colegas de trabalho, meus clientes, meus fornecedores, meus empregados, meus superiores, meus subordinados? como tem sido a convivência? há pessoas sofrendo? necessitando algum tipo de apoio? que eu posso fazer?
Enquanto Comunidade Paroquial devemos nos perguntar e conversar:
1. Vendo e avaliando a mim mesmo perante a comunidade: Como eu tenho participado e assumido responsabilidades sendo parte de uma comunidade de fé? O que posso oferecer à Comunidade?
2. Vendo e avaliando nossa vida comunitária: quais as nossas necessidades? o que está bem na comunidade? o que precisa melhorar? o que precisa mudar? há necessitados entre nós, do ponto de vista de apoio emocional, financeiro, etc.? como podemos ajudar?
3. Vendo e avaliando nosso testemunho comunitário: nossa Paróquia tem tido uma presença concreta nas demandas do povo que habita o bairro de Santa Teresa e adjacências? que temos de mudar em nossa presença? o que mais podemos fazer? Como podemos incrementar as relações com as demais Igrejas em Santa Teresa? Como eu me enquadro nesse processo (como espectador ou agente com a comunidade)?
Vamos ter oportunidades de conversar e aprofundar essas questões em comunidade, mas é preciso que cada um de nós comece agora o processo de reflexão.
Que o Espírito Santo nos acompanhe e nos ilumine! Amém!
Vossos Pastores, na comunhão com o Bispo:
Rev. Luiz Caetano, ost+  e Rev. Daniel, ost+

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03 janeiro 2015

O Santo Nome – o Nome acima de todo nome!

Cristo Sacerdote ícone

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele,  subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2.5-11)

O Calendário Litúrgico da Igreja Episcopal determina para o dia 1º de janeiro, primeiro dia do ano civil, a celebração do Santo Nome de Jesus. Pela proximidade com o Natal, imagina-se que a Festa se enquadra no contexto do Menino de Belém que, tendo sido levado ao Templo para a circuncisão, recebe o nome de Jesus. Entretanto, não se trata disso, uma vez que, nos domingos depois do Natal, a apresentação de Jesus no templo e sua circuncisão têm seu lugar próprio.

A Festa do Santo Nome tem um caráter mais profundo e mais importante que um mero detalhe na vida de Jesus. A Festa se qualifica na Confissão da Fé Cristã, a afirmação do Senhorio de Jesus Cristo, Filho de Deus, Deus-conosco, Redentor e Salvador do Mundo, Rei do Universo!  Ele, o Logos que existia desde antes do Princípio, a Palavra Criadora, que se tornou carne humana em Maria e nessa condição humana, despiu-se de toda dignidade divina para que o ser humano e toda a criação retornasse à presença permanente do Criador! O Deus-conosco para sempre!

Iniciar o ano civil celebrando o Santo Nome significa assim, afirmar que a Igreja, a Comunidade de Fé, segue caminhando em Nome de seu Senhor, na Presença Companheira de seu Senhor através do Espírito Santo, anunciando a Boa Nova, denunciado o Mal e testemunhando a ação redentora de Jesus, o Cristo. Não há outro nome que justifique a ação da Igreja e sua presença no mundo, a não ser o Nome do Senhor! No horizonte do caminhar da Igreja está o Reinado de Deus através de Jesus Cristo, o Deus-conosco, Emanuel.

Infelizmente, o nome de Jesus, hoje, é vulgarizado, vilipendiado pelas práticas nada cristãs de grupos que se identificam como “Igreja”; o nome de Jesus se tornou um fetiche e um talismã, um produto de fácil consumo no mercado religioso, invocado como “palavra mágica” cujo efeito é produzir a “graça” comprada a preço barato dos mercadores de esperança que confiam na desesperança das pessoas para vender a ilusão do “milagre” e da “prosperidade”. O Santo Nome colocado a serviço da charlatanice e da exploração da boa fé das pessoas que andam sem rumo em seu desespero pós-moderno!

Por causa dessas coisas abomináveis, o Santo Nome de Jesus hoje é motivo de chacota e se torna algo  vazio de significado. Se torna uma vacina contra a pregação de forma que pessoas inteligentes não abrem o coração e mente para a Boa Nova! À simples menção do Nome, rejeitam a pregação por identificar o nome com a charlatanice e a exploração da boa fé humana. O Santo Nome, dito como blasfêmia,  transformado em instrumento de Satanás, “pai da Mentira”, de Lúcifer, a luz que cega mas não ilumina o caminho!

É bem verdade que Jesus diz, conforme o Evangelho de João:  “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, Ele vo-la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” (Jo 16.23b-24)

É preciso cuidado com essas palavras. Jesus diz isso ao seu círculo íntimo de discípulos. Não é uma afirmação genérica, mas uma garantia àquelas pessoas comprometidas com Ele. Jesus se coloca como mediador daqueles que a Ele pertencem! Esse é o contexto dos capítulos 13 a 17 do Evangelho de João: palavras ditas por Jesus na intimidade com os seus discípulos e discípulas – algo restrito à Comunidade Confessante da Fé!

Porque não é apenas “pedir em nome de Jesus”, mas também acolher em Seu Nome: “Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande.” (cf. Lucas 9.48); o servir em Nome do Senhor e a humildade diante da Majestade de Deus.

Assim, a oração feita em nome de Jesus não é uma formalidade ou uma fórmula mágica, mas uma declaração do Senhorio e da Mediação de Jesus Cristo, e da vivência dessa mesma fé nas relações entre as pessoas.

Porque o “pedir” não é superior à vontade de Deus, de Quem, no dizer dos charlatões, devemos “exigir o cumprimento da promessa”. A única oração que Jesus ensinou diz, logo no início “ Pai, … seja feita a Tua Vontade…”, ou seja o pedido é subordinado à vontade e à soberania de Deus. Não é “um direito a ser exigido”, mas Graça concedida pela mediação de Jesus o Cristo! Não é prêmio, mas presente pelos méritos de Cristo.

Assim, o Santo Nome de Jesus não pode ser usado como talismã, ou como produto consumível diante da necessidade. O Evangelho de Mateus coloca na boca de Jesus as seguintes palavras:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mateus 7.21-23)

Portanto, amigos e amigas, cuidado ao pronunciar o nome de Jesus.  Não é a palavra “Jesus” por si mesma, mas esse é o Nome acima de todo o nome, que ao ser dito é a confissão do Senhorio e a Majestade de Cristo, para a glória de Deus, o Pai (e Mãe).

Quando em sua oração você terminar dizendo “… em o nome de Jesus. Amém!” lembre-se que esse “amém” é – acima de tudo – subordinação à vontade de Deus e abertura para receber a Graça concedida também em nome de Jesus!

Rev. Luiz Caetano, ost+