“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2.5-11)
O Calendário Litúrgico da Igreja Episcopal determina para o dia 1º de janeiro, primeiro dia do ano civil, a celebração do Santo Nome de Jesus. Pela proximidade com o Natal, imagina-se que a Festa se enquadra no contexto do Menino de Belém que, tendo sido levado ao Templo para a circuncisão, recebe o nome de Jesus. Entretanto, não se trata disso, uma vez que, nos domingos depois do Natal, a apresentação de Jesus no templo e sua circuncisão têm seu lugar próprio.
A Festa do Santo Nome tem um caráter mais profundo e mais importante que um mero detalhe na vida de Jesus. A Festa se qualifica na Confissão da Fé Cristã, a afirmação do Senhorio de Jesus Cristo, Filho de Deus, Deus-conosco, Redentor e Salvador do Mundo, Rei do Universo! Ele, o Logos que existia desde antes do Princípio, a Palavra Criadora, que se tornou carne humana em Maria e nessa condição humana, despiu-se de toda dignidade divina para que o ser humano e toda a criação retornasse à presença permanente do Criador! O Deus-conosco para sempre!
Iniciar o ano civil celebrando o Santo Nome significa assim, afirmar que a Igreja, a Comunidade de Fé, segue caminhando em Nome de seu Senhor, na Presença Companheira de seu Senhor através do Espírito Santo, anunciando a Boa Nova, denunciado o Mal e testemunhando a ação redentora de Jesus, o Cristo. Não há outro nome que justifique a ação da Igreja e sua presença no mundo, a não ser o Nome do Senhor! No horizonte do caminhar da Igreja está o Reinado de Deus através de Jesus Cristo, o Deus-conosco, Emanuel.
Infelizmente, o nome de Jesus, hoje, é vulgarizado, vilipendiado pelas práticas nada cristãs de grupos que se identificam como “Igreja”; o nome de Jesus se tornou um fetiche e um talismã, um produto de fácil consumo no mercado religioso, invocado como “palavra mágica” cujo efeito é produzir a “graça” comprada a preço barato dos mercadores de esperança que confiam na desesperança das pessoas para vender a ilusão do “milagre” e da “prosperidade”. O Santo Nome colocado a serviço da charlatanice e da exploração da boa fé das pessoas que andam sem rumo em seu desespero pós-moderno!
Por causa dessas coisas abomináveis, o Santo Nome de Jesus hoje é motivo de chacota e se torna algo vazio de significado. Se torna uma vacina contra a pregação de forma que pessoas inteligentes não abrem o coração e mente para a Boa Nova! À simples menção do Nome, rejeitam a pregação por identificar o nome com a charlatanice e a exploração da boa fé humana. O Santo Nome, dito como blasfêmia, transformado em instrumento de Satanás, “pai da Mentira”, de Lúcifer, a luz que cega mas não ilumina o caminho!
É bem verdade que Jesus diz, conforme o Evangelho de João: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, Ele vo-la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” (Jo 16.23b-24)
É preciso cuidado com essas palavras. Jesus diz isso ao seu círculo íntimo de discípulos. Não é uma afirmação genérica, mas uma garantia àquelas pessoas comprometidas com Ele. Jesus se coloca como mediador daqueles que a Ele pertencem! Esse é o contexto dos capítulos 13 a 17 do Evangelho de João: palavras ditas por Jesus na intimidade com os seus discípulos e discípulas – algo restrito à Comunidade Confessante da Fé!
Porque não é apenas “pedir em nome de Jesus”, mas também acolher em Seu Nome: “Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande.” (cf. Lucas 9.48); o servir em Nome do Senhor e a humildade diante da Majestade de Deus.
Assim, a oração feita em nome de Jesus não é uma formalidade ou uma fórmula mágica, mas uma declaração do Senhorio e da Mediação de Jesus Cristo, e da vivência dessa mesma fé nas relações entre as pessoas.
Porque o “pedir” não é superior à vontade de Deus, de Quem, no dizer dos charlatões, devemos “exigir o cumprimento da promessa”. A única oração que Jesus ensinou diz, logo no início “ Pai, … seja feita a Tua Vontade…”, ou seja o pedido é subordinado à vontade e à soberania de Deus. Não é “um direito a ser exigido”, mas Graça concedida pela mediação de Jesus o Cristo! Não é prêmio, mas presente pelos méritos de Cristo.
Assim, o Santo Nome de Jesus não pode ser usado como talismã, ou como produto consumível diante da necessidade. O Evangelho de Mateus coloca na boca de Jesus as seguintes palavras:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mateus 7.21-23)
Portanto, amigos e amigas, cuidado ao pronunciar o nome de Jesus. Não é a palavra “Jesus” por si mesma, mas esse é o Nome acima de todo o nome, que ao ser dito é a confissão do Senhorio e a Majestade de Cristo, para a glória de Deus, o Pai (e Mãe).
Quando em sua oração você terminar dizendo “… em o nome de Jesus. Amém!” lembre-se que esse “amém” é – acima de tudo – subordinação à vontade de Deus e abertura para receber a Graça concedida também em nome de Jesus!
Rev. Luiz Caetano, ost+
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