Sem dúvida, a bactéria consumista deste final de ano é mais um
episódio da série Guerra nas Estrelas.
O Darth Vader é ao mesmo tempo um vilão e um herói. Foi
considerado pela crítica como um dos personagens mais significativos e
emblemáticos do cinema no século XX, e pelo jeito, continua sendo nestas quase
duas décadas do século XXI.
A estória do Darth Vader é conhecida: o “Jedi” Anakin
Skywalker, depois de perder sua condição de “Cavaleiro Jedi”, e ter sofrido uma
barbaridade (perdeu as pernas, teve quase todo seu corpo queimado por lava),
entrega-e plenamente à sedução do “Lado Escuro da Força”.
Maniqueísmos à parte, toda a saga , como a maioria das
produções de Hollywood, acaba sendo a velha luta entre o Bem e o Mal, com uma
tremenda sofisticação tecnológica e um enredo muito bem bolado; mas no fundo,
continua sendo um filme de “mocinho e bandido”, com direito à cavalaria chegando
para salvar a pátria… e o bandido morre.
O que me preocupa é o enorme sucesso do Darth Vader, que no episódio anterior (O Retorno de Jedi), ainda é redimido pelo “Lado Claro da Força”. Como sempre, o Bem vence e, no caso, “converte” o Mal!
No novo episódio, o Darth Vader reaparece na pessoa de seu
neto, cuja estória tem certas semelhanças com a do avô. Bem, não vou contar o
novo episódio. Você, com certeza, vai enfrentar a longa fila para assistir.
O Darth Vader é um sujeito escravo do poder, movido pelo ódio e
pela vingança. Mas tem sido apontado por ai como um sujeito de sucesso, de uma
tremenda capacidade de superação – bem ao gosto do capitalismo “empreendedor”,
onde “se você se deu mal, a culpa é exclusivamente sua”… Sem dúvida é o
grande herói da saga no inconsciente popular. Obviamente, quem se alia aos
poderes mais escusos, acaba se dando bem! basta ver a atual situação política do
nosso país!
O Lado Escuro da Força tem tudo a ver com o exercício do poder
de forma cruel e absoluta. Darth Vader é profundamente individualista, cruel e
se comporta como se tudo lhe fosse permitido, como se estivesse acima da lei;
aliás, ele mesmo faz a lei e acima dele só o Imperador (que também não é flor
que se cheire!). Afinal, todo Império tem um Imperador e um general, subalterno,
sempre pronto a atender os desejos de poder do Imperador e, principalmente, se
sentir tão poderoso quanto o Imperador…
Nos tempos de hoje, onde as pessoas são valorizadas pelo “ter”
e, principalmente, pelo “consumir”, personagens como o Darth Vader fazem
sucesso… antes eram os mocinhos quem fazia sucesso, hoje é o bandido cruel!
Triste mundo este em que vivemos…
Há muitos personagens realmente históricos que, de uma forma ou
de outra, se parecem com o Darth Vader (seria coincidência seu capacete lembrar
os capacetes do exercito nazista alemão?). Por outro lado, não existem
Cavaleiros Jedi! Nem figurinhas simpáticas como o Yoda; mas existem muitos como
Darth Vader.
A vida não se resume em “Lado Claro” e “Lado Escuro da Força”.
É simplismo dizer que cada pessoa escolhe o seu lado! Todos nós estamos
mergulhados no mundo, onde o “Bem” e o “Mal” convivem lado a lado, e prevalece o
relativismo onde “Bem” e “Mal” dependem apenas do ponto de vista!
Infelizmente, para muitos cristãos, Jesus o Cristo surge como
um “Jedi” que resolve todos os problemas e “vence o Mal”. É bom pensar que há um
“Jedi” para nos defender, porque, de uma forma ou de outra, nós nada podemos
fazer e a responsabilidade final pela vitória cabe ao Jedi. Nós não temos nenhum
compromisso!
Cristo está muito além disso. É o Senhor da Vida, é Juiz
Misericordioso, e Presença Encarnada de Deus na História. Cristo superou a
tentação do “Lado Escuro”, ao contrário de Adão (e de Eva, para sermos
inclusivos e fiéis ao texto), que caiu na tentação de pretender tornar-se
como Deus [todo poderoso], mas só conseguiu descobrir-se nu, ou
seja, totalmente sem poder, com a necessidade de esconder-se dos outros
e de Deus!:
Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal". Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.” (Gênesis 3:4-7). […] Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: "Onde está você?" E ele respondeu: "Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi". E Deus perguntou: "Quem lhe disse que você estava nu? Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer?" Disse o homem: "Foi a mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi". O Senhor Deus perguntou então à mulher: "Que foi que você fez? " Respondeu a mulher: "A serpente me enganou, e eu comi". (Gênesis 3:9-13) […] O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher. Então disse o Senhor Deus: "Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve, pois, permitir que ele também tome do fruto da árvore da vida e o coma, e viva para sempre". Por isso o Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. (Gênesis 3:21-23) .
Conhecedor do “Bem” e do “Mal” cabe ao ser humano deixar o
Paraíso e assumir sua história! Se, de um lado, o “fruto proibido” libertou o
ser humano de uma possível alienação, a tentação sempre acompanha o ser humano nas relações e
o torna escravo de si mesmo e sedento de poder permanentemente.
Como disse o Apóstolo São Paulo em sua bela poesia inserida na
carta aos Filipenses:
“[Cristo] embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:6-8).
Todo pecado tem a ver com a relação que as pessoas estabelecem
umas com as outras, entre cada pessoa e um grupo, entre grupos, e entre a
sociedade humana com o resto da Criação. Uma relação pode criar ódio, amor,
domínio ou subordinação, pode provocar soberba, humildade, ganância ou
generosidade; pode ser uma relação egoísta ou solidária… não é uma simples
questão de escolha, mas é construção! e o resultado depende de como cada pessoa
se coloca em relação à(s) outra(s), à sociedade, à Natureza.
Pense nisso antes de colocar a máscara do Darth Vader no carnaval ou na festa do ano-novo! Talvez
não seja apenas uma máscara inocente, mas revele o que está oculto no teu
coração!
Nota: as citações bíblicas são da Nova Versão Internacional
Rev. Luiz Caetano, ost+
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