O Evangelho de Lucas é conhecido como o Evangelho das Parábolas. De fato, escrevendo para cristãos helenistas, não necessariamente de origem judaica, Lucas transmite o Evangelho através das pequenas estórias que Jesus contava para ilustrar o ensino sobre do Reinado de Deus e a Boa Nova que estava anunciando. Essas pequenas estórias são chamadas de parábolas. Vamos conversar sobre uma delas, a Parábola da Figueira Estéril:
“Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.” (Lucas 13.6-9; Almeida, R.A.)
Chama atenção que se trata de uma vinha, plantação de uvas, onde havia uma figueira. Porque uma figueira entre as parreiras? talvez estivesse de lado, e sua função seria oferecer os figos! Talvez por causa dos figos, o dono da vinha concordou em deixar ali a figueira. O fato é que estava ali a figueira, provavelmente há muitos anos, pois sabemos que figueiras vivem por mais de século. Porém, há três anos não oferecia seus frutos. Estava estéril, talvez já bem idosa.
Entretanto, a figueira tinha um amigo, alguém que provavelmente estava junto a ela todos os dias, alguém que a conhecia: o vinhateiro, o cuidador da vinha. E ele intercede pela figueira junto ao patrão. Age como um Advogado de Defesa! Tem uma atitude de misericórdia e insiste que o patrão também tenha misericórdia. Ele sugere tratar da figueira: escavar ao lado, renovar a terra em suas raízes, colocar estrume… ele pede mais um ano para tentar que a figueira seja salva!
Talvez fosse realmente isso que a figueira precisasse: que lhe cavassem a terra (o que lhe feriria um pouco as raízes), colocasse o estrume para do estrume nascer a força vital que lhe permitiria dar frutos novamente.
Jesus não conta o final da estória; ficamos sem saber se deu certo a tentativa do empregado, e ficamos torcendo que sim, que tenha dado certo e que a figueira tenha vivido por muito mais tempo dando seus frutos.
Todavia, Jesus não pretendia ensinar sobre figueiras, escavar raízes, e aplicar estrume. Quem é o principal personagem da estória? a figueira? o dono da vinha ou o vinhateiro?
Para mim, o personagem central da parábola é o vinhateiro. Afinal, é ele quem intercede e defende a figueira, quem se propõe a fazer algo pela figueira a fim de dar a ela uma nova chance!
Jesus fala de si mesmo, fala do Cristo! Cristo é nosso Advogado de Defesa; é Ele quem assume a responsabilidade pela nossa salvação, pela nossa redenção. É Ele quem atua movido pela misericórdia e invoca a misericórdia de Deus!
Todos nós temos momentos em que não damos frutos, em que nossa vida parece sem sentido! a própria Igreja viveu e vive em sua história momentos de perda da identidade e de sentido de sua missão: para de dar frutos ou, pior, dá maus frutos.
É então o momento que o Senhor Jesus, o Cristo, se apresenta para arejar nossas raízes! Ao contrário da figueira, nós podemos aceitar ou não sua oferta. Ele pode dar novo sentido para a nossa vida e assim poderemos dar frutos de vida!
Mas para isso, ele precisará cavar em nossas raízes, cortar ramificações podres, podar galhos secos… e até mesmo lançar estrume… é preciso que aceitemos as consequências dessa ação de Cristo em nossas vidas: muitas vezes precisamos passar por uma poda geral, perder galhos e ramos secos, mergulhar no adubo para renovar a vida. Isso não resulta em sofrimento, mas em vida!
Seguir a Cristo é permitir a Ele operar em nossas vidas através do Espírito Santo. O Cristo nos oferece uma nova chance! Para isso ele nos dará a Graça, sinal de sua Bênção. Permitamos que ele cave nossas raízes, corte ramos secos, adube a terra ao nosso redor. Daremos novos frutos após isso. E sabemos que depois de nos trabalhar recuperando-nos o sentido da vida, ele continuará cuidando de nós todos os dias.
Nessa parábola, Jesus revela sua grande missão: ser o portador da misericórdia! o Redentor, o Advogado. Quem oferece uma nova chance!
Rev. Luiz Caetano, ost+
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