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04 janeiro 2012

Epifania: o Cristo é reconhecido!

Epifania - Magos 1
" Eis que vieram uns magos do oriente a Jerusalém, e perguntavam: ' Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo.(Mateus 2.1b-2)
Passou o Natal, passou o Ano Novo, terminou o apelo comercial dos presentes, das festas, dos cartões de felicitações... a vida retornou à sua normalidade cotidiana. Ou quase! Alguns ainda estão na exceção das férias de verão.
Mas é nesse tempo de normalidade cotidiana que o calendário cristão ocidental celebra a Festa da Epifania do Senhor. Os cristãos orientais, por sua vez, estão agora celebrando o Natal, pois para eles as duas festas coincidem. Outro lado do mundo... outra hermenêutica... outra teologia... mas o mesmo Senhor, o mesmo Cristo!
Mas nós estamos no Ocidente, com o nosso cristianismo greco-romano marcado fortemente pela Europa Medieval, refrescado pela Reforma no século XVI e renovado de tempos em tempos pelos diversos movimentos que eclodem no seio das comunidades herdeiras da Reforma. Para nós, cristãos ocidentais, a festa da Epifania passa despercebida, sem muita importância. Não está na mídia, e geralmente nem é lembrada em grande parte das Igrejas herdeiras da Reforma e suas descendentes.
Não há vitrinas enfeitadas, não há Papais Noel pelas ruas, não há cartões de boas-festas nem campanhas de solidariedade com os pobres, não há político sorridente prometendo mundos e fundos (especialmente pedindo ou roubando fundos) para o próximo ano. A festa da Epifania é discreta, tão discreta quanto aquele casal que, na periferia de Belém da Judeia, esteva às voltas com um parto de emergência, numa estrebaria. A festa da Epifania não foi poluída pelo consumismo, nem pela necessidade de manifestar gestos de solidariedade temporária que assola as pessoas no tempo do Natal, mas terminam em Janeiro, retornando-se à vida sem sentido do cotidiano consumista...
É bem verdade que, pelo interior do Brasil, ainda existem as Folias de Reis e seus assemelhados culturais, e na cabeça das pessoas ainda há uma leve referência ao Dia dos Reis Magos. Puro folclore, herança cultural e colonial de Portugal e Espanha. Nesse caso é uma festa estranha, porque se celebram reis que não existiram. Pelo menos, Mateus não diz que eram reis, mas que eram magos...
Magos, homens (e mulheres!) de antiga sabedoria, de conhecimentos raros sobre o Cosmos e sobre a Natureza . Pagãos, mas não ateus... Pessoas que tinham não só conhecimento, mas sensibilidade afinada para reconhecer que Deus está agindo e há sinais de novidade nos céus:  “... vimos sua estrela no oriente e viemos para adorá-lo”!
A Epifania é exatamente isso: o reconhecimento da manifestação de Deus, da manifestação de Sua Presença, sem os alardes da publicidade, longe dos Palácios e Estádios, sem ufanismo orgulhoso, presunçoso, arrogante e pernóstico. Na simplicidade do cotidiano, na mesmice do dia-a-dia. O Kairós (tempo oportuno) que acontece no Cronos (o tempo medido), sem interferir no Cronos, mas Kairós perceptível para quem tem a mente e o coração abertos para perceber aquilo que, de tão evidente, se torna imperceptível: a Presença discreta na fragilidade de um recém-nascido; uma Estrela que pouco se destaca entre as milhares do céu noturno, só percebida pela vista acostumada a mirar e a contemplar o Mistério da Criação.
É este espírito de Epifania que queremos viver aqui na São Paulo Apóstolo como parte da Igreja de Cristo, exercendo o ministério de serviço, de comunhão, de anúncio e de testemunho; queremos ser pessoas capazes de conviver solidariamente com os diferentes, queremos desenvolver relações  maiores que a simples  formalidade denominacional, queremos viver o eclesial mais que o eclesiástico, promover intercâmbios e interações constantes, de solidariedade: diakonia (serviço), koinonia (comunhão) e martyria (testemunho).
Que o novo ano civil seja um ano feliz para todos e todas vocês, um ano em que a comunhão seja fortalecida, a partilha seja maior e a esperança seja uma certeza de horizonte factível. Que possamos reconhecer a estrela do Menino-Senhor entre tantas estrelas que povoam nosso céu tropical... para que adoremos e sirvamos fielmente ao Deus da Vida através do serviço e da solidariedade a todas as Suas criaturas, especialmente àquelas que foram criadas à Sua Imagem, segundo a Sua Semelhança (Gênesis 1. 26-27).
Que o Capital Insaciável, o Consumismo Diabólico, o Individualismo Globalizado, a Racionalidade Pervertida, não nos fechem esses horizontes em definitivo!
Rev. Luiz Caetano, ost+
Nota: Este texto foi publicado originalmente em meu blog pessoal, por ocasião da Epifania de 2010; aqui fiz algumas pequenas modificações de cunho pastoral.
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