Os artigos deste blogue expressam o pensamento de seus autores, e não refletem necessariamente o pensamento unânime absoluto da comunidade paroquial. Tal unanimidade seria resultado de um dogmatismo restrito e isso contraria o ethos episcopal anglicano. O objetivo deste blogue é fornecer subsídios para a reflexão e não doutrinação. Se você deseja enviar um artigo para publicação, entre em contato conosco e envie seu texto, para análise e decisão sobre a publicação. Artigos recebidos não serão necessariamente publicados.

Pesquisar este blog

28 agosto 2016

Vem ai o Centenário! Centenário???

IgrejaNossa Comunidade paroquial completou este mês de agosto, 99 anos. Quando falamos assim, temos a impressão de uma continuidade no tempo, sem interrupções, como se fôssemos a mesma comunidade que surgiu na Rua Aprazível, no alto de Santa Teresa, em 1917*.  Na verdade, somos e não somos!

Somos, à medida em que a comunidade hoje existente mantém a mesma Tradição, a mesma identidade e a mesma presença de testemunho solidário em Santa Teresa, desde quando o Rev. Meen aqui chegou atendendo ao chamado do Dr. Francisco de Castro Junior, para cuidar da espiritualidade das pessoas internadas na Assistência de Santa Teresa, pessoas pobres que sofriam de febre amarela e tuberculose.  Somos, à medida que hoje nossa pequena comunidade herdou o belo templo e a responsabilidade de mantê-lo e preservá-lo. Somos, à medida que os clérigos e clérigas que hoje presidem em nosso altar e ensinam em nosso púlpito seguem a mesma orientação doutrinária e litúrgica em sucessão às gerações de clérigos que exerceram seu ministério diaconal e sacerdotal como Ministros Encarregados e posteriormente Párocos, Coadutores e Colaboradores. A mesma herança apostólica ordenou aqueles clérigos do passado e os do momento presente.

Mas não somos, se considerarmos que a maioria de nós que hoje pertence à comunidade, ou a frequenta, não descende daquelas pessoas que há 99 anos fundaram a comunidade. Não somos, portanto descendetes dos fundadores, embora os consideremos nossos Ancestrais (mas não Antepassados). Hoje somos uma comunidade pequena de pessoas que optaram a prosseguir seu seguimento a Jesus o Cristo nesta tradição, se reunindo em adoração e serviço neste templo, na comunhão desta denominação religiosa cristã, parte da Única, Una e Diversa Igreja de Cristo, espalhada por todo o mundo em diferentes formatos, tradições, ritos e expressões de sua fé.


Quando nos identificamos como Episcopais e Anglicanos, não afirmamos que somos a Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América – nossa Igreja-Mãe (de onde vieram os primeiros missionários), nem que somos a Igreja Episcopal da Escócia ou a Igreja da Inglaterra, nossas Igrejas-Avós (a Igreja Episcopal dos Estados Unidos recebeu dessas duas Igrejas a Tradição Apostólica que passou para nós).  Da mesma forma que não somos, cada um de nós, idênticos aos nossos pais ou nossos avós, mas deles herdamos os nossos gens, os nossos valores, as nossas tradições familiares e neles começa nossa história pessoal.

Assim, temos uma grande autonomia para sermos o que somos, sermos nós mesmos: uma pequenina comunidade dentro do grande Rebanho de Cristo, Sua Igreja, que herdamos uma tradição e somos parte de uma comunhão, mas somos uma Igreja brasileira, e, particularmente esta Paróquia, é carioca e “santateresiana”.  Nossa comunidade é parte da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, que por sua vez é parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a qual é parte integrante da Comunhão Anglicana – uma  comunhão , não uma obediência! Isto é,  formamos uma unidade, mas não uma uniformidade!

Começamos o nosso centésimo ano! e podemos dizer com gratidão, “Ebenézer:  Até aqui nos ajudou o Senhor!(1 Samuel 7.12). Mas não podemos cair na tentação do ufanismo e de nos vangloriarmos por isso (vanglória – vã glória!).  Porque tudo que foi feito nestes anos todos, temos de reconhecer, é obra do Senhor através de nós e daquelas pessoas que nos antecederam.

A presente geração, que celebra o centenária desta e nesta comunidade, tem pela frente grandes desafios. E precisa tomar decisões em relação ao futuro, buscando – acima de tudo – a orientação do Espírito Santo de Deus. A presente geração é chamada a responder a esses desafios como parte de sua missão e expressão de sua fidelidade ao Senhor Jesus Cristo.

Há o desafio comum a toda Igreja de Cristo, de testemunhar e anunciar o Reino neste mundo marcado pela alienação do consumismo e decadência de valores éticos. Há o desfio da Igreja de Cristo de testemunho solidário e cidadão em nosso continente espoliado e nosso país sempre entregue às mãos sujas de poderosos corruptos e corruptores.

Há o desafio da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil em ser de fato uma Igreja Brasileira autóctone, autônoma e autosustentada, de viver a fé cristã neste país a partir da Tradição herdada de nossos ancestrais, trazida pelos missionários, mas desenvolvendo essa Tradição dentro da nossa cultura e nossa história como povo e nação – vencendo a tentação ufanista de nos apresentar como se ingleses fôssemos, ou se apresentar como a “igreja do casamento do príncipe”, cheia de pompa e circunstância que só expressa uma característica da Igreja da Inglaterra e não tem nada a ver com a nossa cultura brasileira! Há o desafio da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, de viver essa mesma experiência de fé e testemunho nos contextos tão diferentes dos três Estados sob sua jurisdição: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

Mas quais são os desafios específicos e inerentes a esta pequena comunidade que chamamos de Paróquia São Paulo Apóstolo?

Precisamos olhar ao nosso redor, para o mundo onde estamos e ao mesmo tempo estarmos com o olhar voltado ao Evangelho. É nossa responsabilidade comunitária definirmos os rumos que temos se tomar a partir de agora. A responsabilidade é de nós todos.

Como Pároco, é minha responsabilidade, e dever, colocar diante da comunidade os temas e as situações que hoje nos desafiam a vivermos a fé em Cristo.  Não importa muito o que o Pároco ou os clérigos pensem! importa que, como comunidade, busquemos juntos consensos e assim, assumamos responsabilidades, para que haja sentido real e concreto em nossa existência como comunidade de anúncio, denúncia e testemunho em nome do Senhor Jesus Cristo.

É nisso que vamos refletir, a partir de agora e no decorrer do nosso centésimo ano, para que a celebração do centenário não seja uma festa vazia de conteúdo e significado, mas que realmente expresse nossa vida e nossa vivência em comunhão com Cristo.
Rev. Luiz Caetano, ost+
---/---
* Para detalhes da história da Paróquia São Paulo Apóstolo, veja nosso  site (clique aqui)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado pelo seu comentário.
Seja breve e objetivo.