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31 dezembro 2012

O Natal e a Plenitude dos Tempos

natividade_sexto_sentido_14_0001_500_x_396São Paulo escreveu ao Gálatas:

                    Antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor. Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa. Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, o qual clama: "Aba, Pai". Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. (Gálatas 3.23-29; 4.4-7 – N.V.I.)

É uma pena que para muitas pessoas o nascimento de Jesus signifique apenas um momento do ano para se ganhar presentes. Nada contra os bonitos presentes que ganhamos neste momento especial do ano, mas não podemos reduzir o Natal a isso.

Quando lemos as escrituras, e em especial a perícope acima, nos damos conta que o primeiro Natal não significou exatamente aquilo que as pessoas hoje leem e acreditam. O primeiro Natal é descrito neste texto como sendo um momento especial. Ele é descrito como a “plenitude dos tempos”.

Por causa desta visão tão especial que Paulo tinha acerca do Natal, nos animamos a refletir hoje sobre o seguinte tema: “Quando a plenitude dos tempos chega…”

Quando a plenitude dos tempos chega, em primeiro lugar, somos livres da escravidão (v. 4, 5):O apóstolo Paulo descreve nossa relação com a Lei ( O Pentateuco), que regia os relacionamentos entre Deus e os homens, como uma relação de submissão. Ele nos diz, por exemplo, que todos estávamos “encerrados” (3:23) ou  seja “aprisiona-dos”, “tutelados” (3.23) e “submetidos” (3:25) a ela.

Quando Paulo nos diz que a Lei nos servia de “tutor”, ele estava dizendo que a Lei era uma espécie de guia que deveria nos levar até a escola para que aprendêssemos algo. E, de fato, a Lei nos ensinou o quão pecadores somos. O grande mérito da Lei, segundo Paulo, foi nos ensinar que somos pecadores. Foi nos revelar quem, de fato, somos, e quão necessitados estamos de um médico. A Lei, contudo, era incapaz de apresentar um remédio para a realidade que ela, tão eloquentemente, descrevia. A chegada da plenitude dos tempos, identificado por Paulo como o envio do Filho (v. 4), contudo a realidade muda: O período de escravidão está no fim e a libertação se aproxima.

Quando a plenitude dos tempos chega, em segundo lugar, somos transformam em filhos (V.6). Que mudança radical Paulo descreve aqui! Paulo se serve de uma figura para explicar esta mudança: a figura de uma família. Nas famílias da época além dos pais e dos filhos, havia também os escravos.

Estes não gozavam, obviamente, das mesmas condições e privilégios que eram próprios aos filhos. Contudo, com a chegada da plenitude dos tempos, os escravos são agora transformados em filhos. Eles são, segundo o texto, resgatados (v.5) do poder da Lei e adotados como filhos. A marca mais forte de que agora somos “filhos de Deus” é nosso direito de dizer aquilo que só os filhos legítimos podiam dizer: “Aba, Pai” (v.6), que significa “paizinho”.

Finalmente, quando a plenitude dos tempos chega, em terceiro lugar, somos contados entre os herdeiros (v.7). Uma vez que Deus nos resgatou dos grilhões da Lei, uma vez que ele nos adotou como filhos e nos deu o direito de chamá-Lo como os filhos legítimos o chamam; Ele, na plenitude dos tempos, também nos fez seus herdeiros. Como membros da família de Deus somos também beneficiários e herdeiros de todos os bens de nosso Pai. Esta figura nos assegura que a “fazenda” do Pai pertence a seus filhos e filhas, assim como o “Reino” de Deus também nos espera. E o que nos garante a posse e a entrada nesta nova realidade em que mora a paz, é a plenitude dos tempos, que já chegou.

Esse o grande significado do Natal!

Rev. Daniel, ost

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19 dezembro 2012

Notícia Extraordinária !!!

Zacarias_e_anjo_Gabriel

Anjos são seres celestiais que estão junto do trono de Deus. Há uma enorme quantidade de anjos, de vários tipos, segundo as Escrituras: anjos, arcanjos, querubins, serafins, tronos, potestades… Mas o nosso assunto aqui não é exatamente sobre anjos, mas sobre um anjo em especial, chamado Gabriel, um Arcanjo (um anjo importante!!!).

Os Arcanjos são mensageiros especiais que trazem uma informação sobre o agir de Deus. Os nomes dos Arcanjos já indicam isso. Assim, Micael (Miguel), significa Deus Luta; Rafael significa Deus Cura; e Gabriel significa Deus Fala, Deus comunica.

Gabriel é o Anunciador do que Deus está fazendo e fará em breve; é o portador de notícias, de novidades! No início do Evangelho de São Lucas, o Arcanjo Gabriel é um personagem importante: ele traz notícias, boas notícias!

Eu sugiro que você leia com atenção Lucas 1.5-38. É um texto muito grande para colocar aqui no blogue; conta das visitas que o Arcanjo Gabriel fez a duas pessoas: a um sacerdote chamado Zacarias e a uma jovem chamada Maria. Nas duas visitas, Gabriel informa que Deus está agindo e em breve fará algo extraordinário!

Deus está para cumprir uma promessa, que foi anunciada pelos profetas e que era esperada pelo povo judeu, desde tempos muito antigos: Deus vai restaurar sua aliança com os seres humanos, vai começar uma nova relação com a humanidade.

Assim, Gabriel primeiro visita Zacarias, um sacerdote piedoso, já de idade avançada, que estava de serviço no Templo em Jerusalém, e anuncia que ele terá um filho, um homem especial, que virá para anunciar a chegada do Salvador, vem preparar o caminho, um caminho que será novo e inaugurado com a chegada do Ungido de Deus:

"Não tenha medo, Zacarias; sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe dará o nome de João. Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por causa do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor".

Assim, no tempo certo após a visita de Gabriel, a esposa de Zacarias, Isabel, deu à luz um menino que recebeu o nome de João e veio a ser São João Batista, aquele que testemunhou o Cristo quando Jesus chegou para ser batizado por ele. Nos três primeiros domingos do Advento nossa comunidade estudou sobre São João Batista, seu ministério e seu testemunho sobre Jesus, o Cristo.

Seis meses após falar com Zacarias, o Arcanjo Gabriel visitou uma jovem chamada Maria, que vivia em Nazareth, pequena aldeia situada na Galileia – uma região pobre e mal vista pelas pessoas que habitavam nas proximidades de Jerusalém. O que Gabriel revela a Maria é algo extraordinário: ela terá um filho, não um filho simplesmente, mas ela será mãe do Filho de Deus! Ela dará sua carne para que Deus se torne humano e viva entre as pessoas:anunciacao

O anjo, aproximando-se dela, disse: "Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!" Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim". Perguntou Maria ao anjo: "Como acontecerá isso, se sou virgem?" O anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus”.

Ao contrário de Zacarias, que duvidou das palavras do Arcanjo, Maria – mesmo surpresa e sem entender exatamente o que aquilo significava – colocou-se à disposição de Deus e aceitou ser serva do Senhor!

Os cristãos antigos, para afirmarem sua fé na divindade de Jesus Cristo, deram a Maria o título de Teotókos , portadora de Deus, mais literalmente, “paridora de Deus” (hoje nós a denominamos Mãe de Deus): aquele homem nascido de Maria é o próprio Deus que se encarnou e se tornou parte real da história humana, o Emanuel – Deus Conosco!

Gabriel trouxe uma notícia extraordinária: Deus vem estar conosco para sempre! Celebramos isso no Natal! Jesus não nasce de novo; mas nós celebramos seu nascimento, e oramos para que ele possa nascer no coração de muita gente que ainda não O conhece.

Nós não precisamos que o Arcanjo Gabriel venha nos anunciar novidades extraordinárias! Jesus o Cristo, humano conosco, divino com Deus, está vivo e presente na vida de quem O aceita e O acolhe. Juntamente com o Pai, enviou-nos o Espírito Santo que se manifesta como Deus agindo em nossas vidas, criando o novo, apontando horizontes, renovando a esperança. Se você abrir seu coração ao senhorio de Cristo, você perceberá, pela inspiração do Espírito Santo, o agir de Deus.

Veja bem ao seu redor, Deus está agindo! Deus não está ausente, nem nos deixou à mercê de nossa própria sorte. Ele está conosco em nossa vida, em todos os momentos. É isso que vamos celebrar no Natal: a presença de Deus na história humana, como parte da humanidade, companheiro de caminho, amigo solidário!

Cada pessoa cristã é vocacionada para ser missionária, ser, ao mesmo tempo, como Gabriel (trazendo uma boa notícia!), como João Batista (anunciando o Cristo que já é presente!), e como Maria (portadora de Deus, trazendo Deus para a vida das pessoas!).

Deixe Deus operar em sua vida e você terá boas notícias para anunciar às pessoas que estão ao seu redor. Tente viver isso de forma mais intensa neste tempo de Natal. Será um Natal diferente, um Natal realmente feliz!

Rev. Luiz Caetano, ost+

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