A Páscoa, a festa principal dos judeus, estava perto. Jesus olhou em volta de si e viu que uma grande multidão estava chegando perto dele. Então disse a Filipe: — Onde vamos comprar comida para toda esta gente? Ele sabia muito bem o que ia fazer, mas disse isso para ver qual seria a resposta de Filipe. Filipe respondeu assim: — Para cada pessoa poder receber um pouco de pão, nós precisaríamos gastar mais de duzentas moedas de prata.Então um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse: — Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos. Mas o que é isso para tanta gente? Jesus disse: — Digam a todos que se sentem no chão. Então todos se sentaram. (Havia muita grama naquele lugar.) Estavam ali quase cinco mil homens. Em seguida Jesus pegou os pães, deu graças a Deus e os repartiu com todos; e fez o mesmo com os peixes. E todos comeram à vontade. Quando já estavam satisfeitos, ele disse aos discípulos: — Recolham os pedaços que sobraram a fim de que não se perca nada.Eles ajuntaram os pedaços e encheram doze cestos com o que sobrou dos cinco pães. Os que viram esse sinal de Jesus disseram: — De fato, este é o Profeta que devia vir ao mundo! Jesus ficou sabendo que queriam levá-lo à força para o fazerem rei; então voltou sozinho para o monte. (João 6.4-15)
Quando lê esse texto, muita gente fica imaginando Jesus fazendo aparecer pão e peixe do nada a fim de alimentar todas aquelas pessoas que O estavam acompanhando. Mas eu sempre achei que se assim tivesse acontecido, seria muito injusto, muito mesmo! Afinal, ele resolveu o problema daquelas pessoas, mas e as outras milhares que, em seu tempo também sentiam fome? e os bilhões de pessoas que hoje morrem de fome? Milagrezinho safado esse de Jesus… parece até coisa da tal filosofia safada da prosperidade que enriquece os mercadores da fé!
Entretanto, não foi isso que aconteceu. O alimento que saciou a fome de todas aquelas pessoas não surgiu do nada. Houve alguém que ofereceu o que tinha para ser partilhado. Não fosse aquele menino estar disposto a dividir seus pães e peixes, Jesus não teria feito o SINAL! (no Evangelho de João, nos manuscritos antigos em grego, a palavra milagre praticamente não aparece, mas sim a palavra SINAL)
Jesus começou a dividir e distribuir o pouco que aquele menino tinha para oferecer… e então sim aconteceu o milagre: quem tinha algo partilhou com quem não tinha e então todos experimentaram a fartura, a ponto de sobrar! Eu acho que, isso sim, é um milagre porreta, como dizem lá em Recife. E muito justo! e não resolveu só o problema daquelas pessoas.
O menino apenas tinha lá seus pães e peixes; deixou que Jesus os distribuísse entre os que estavam por perto. Com certeza o menino não comeu cinco pães e dois peixes, muito menos dez pães e quatro peixes. Comeu menos do que tinha, mas comeu e ficou saciado. Mas outros que nada tinham também ficaram saciados. E ainda puderam levar o que sobrou para partilhar em sua casa.
Um SINAL para todas as épocas: dividindo, se multiplica! a quebra dos paradigmas do egoísmo: “primeiro eu!”, “isso é meu!”, e rejeitando a hipócrita resposta de muitos que se dizem cristãos: “_ Vou orar por você, é assim que posso ajudar. Deus vai resolver tua dificuldade, tenha fé!” ou o que é pior: “Faça a sua doação para o nosso ministério que Deus multiplicará para você” (e quem enriquece é o charlatão, apesar da blasfêmia).
Nosso mundo é um mundo de fartura. Se olharmos bem as estatísticas que mostram a produção de riquezas, veremos que produzimos muito mais do que necessitamos. Todavia, somos movidos pela ganância e pelo espírito (diabólico) de rapina. O lixo das nossas cidades está cheio de alimento de boa qualidade, enquanto milhões não tem o que comer. Terras produtivas ficam anos sem uso, acumulando valor especulativo para um futuro empreendimento que criará mercado, enquanto milhões de pessoas não têm onde trabalhar e produzir comida para si mesmas. Moradias ficam fechadas esperando melhor oportunidade de preço de aluguel ou venda, e milhões não têm onde morar com dignidade. Roupas de “grife” custam muito dinheiro, acumulando lucro cruel para seus proprietários que enriquecem à custa de mão-de-obra escrava ou mal remunerada. A ciência médica é avançadíssima em nosso tempo, mas milhões morrem de doenças elementares. Nosso mundo é lugar onde poucos acumulam tudo e a grande maioria vive de migalhas.
Em matemática, dividir significa multiplicar pelo inverso. Isto é, dividir um número por 3 significa multiplicar esse número pelo inverso de três. Assim, dividir é multiplicar pelo inverso: dividir dons é multiplicar pelo inverso do egoísmo, ou seja, dividir é multiplicar pela solidariedade. Por isso, dividindo, se multiplica! Um milagre matemático!
Jesus pergunta a você hoje: “Como alimentaremos tanta gente? como poderemos melhorar a vida de tanta gente? Como vamos curar tanta gente? Como podemos diminuir a tristeza de tanta gente?”
O que você tem a oferecer para ser partilhado? que dons você pode colocar nas mãos do Cristo, no exercício da divisão que é multiplicação?
Luiz Caetano, ost+
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