Celebramos a Ascensão do Senhor na quinta-feira anterior ao sétimo domingo da Páscoa. Dez dias após, é a Festa do Pentecostes, sobre a qual comentamos em nossa postagem anterior (“A Resposta vem chegando com o Vento”).
Costumamos imaginar a cena da Ascensão como Jesus subindo ao céu, decolando lentamente dum montículo de pedra… é uma imagem que nos foi legada pelos antigos, e na concepção deles, isso tem muito mais a ver com um símbolo – o Cristo ascende ao Céu e reassume o poder divino, que propriamente a um fato. Se pensarmos como fato, e de acordo com as leis que o Criador deu à natureza, se Jesus “subisse” na velocidade da Luz, estaria a uma distância de quase 2 mil anos-luz da Terra, ou seja, ainda estaria dentro de nossa galáxia, aqui pertinho. Ou seja, ainda estaria viajando, e como nós não sabemos a distância daqui para o Céu, ficamos sem saber se, neste momento, falta muito a chegar, ou seja, em nosso modelo cartesiano de compreender o Universo não cabe essa figura, ela é ridícula! Tampouco os antigos acreditavam nisso como “fato”. Afinal, o texto dos Evangelhos não é mera biografia de Jesus, mas uma confissão de Fé no Cristo de Deus manifesto em Jesus, o Cristo.
O que significa então essa afirmação do Credo, “subiu aos Céus”, que celebramos na liturgia como Dia da Ascensão, 40 dias após a Páscoa?
Os textos canônicos dos Evangelhos não trazem uma mesma narrativa. No Evangelho de João, nem há referência a isso; o evangelho termina bruscamente, com Jesus e seus discípulos comendo peixe assado por Ele. Lembremos que João começa com uma festa de casamento que ia acabar mas não acabou [cf. Jo 2.1-12]; e – curiosamente – termina com um churrasquinho de peixe entre amigos (!!!) e uma conversa particular com Pedro [cf. Jo 21].
No Evangelho de Mateus, há uma despedida, que acontece na Galileia, exatamente onde começou o ministério de Jesus; nessa despedida, Jesus se despede e envia os discípulos, referidos como Os Onze [cf. Mt 28.16-20]. O texto de Marcos é muito semelhante ao de Mateus, mas acrescenta ao final que “O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus” [cf. Mc 16.14-20].
Portanto, o que os Evangelhos de fato dizem é que Jesus foi elevado às alturas; a figura da nuvem, em Lucas, lembra as manifestações de Deus no Antigo Testamento. Não se trata de um fenômeno físico, mas de um fato teológico: a afirmação não só de que Jesus é o Cristo, mas também a confirmação do Senhorio de Cristo (“à direita de Deus”).
A Ascensão marca, portanto o final da Encarnação, ou melhor, coloca a Encarnação de Deus como Mistério (aquilo que ai está mas só o vê quem tem olhos para tal). O Deus-Conosco deixa em definitivo sua presença humana em um momento específico da história humana, para se tornar companheiro de jornada para todo o sempre com a humanidade!
A vivência com o Deus Encarnado não se limitou ao privilégio de uma geração em um lugar periférico do Império Romano, mas se torna Presença Real diante de toda a humanidade, de todos os tempos! Este é o Mistério da Fé, que celebramos dominicalmente na Santa Eucaristia!
Assim, o Deus-Conosco continua conosco, e para sempre. Quando nos referimos que Ele “voltará com glória”, nos dizeres do Credo, será a sua afirmação como Rei, será o fim da História; não significa que o Senhor se foi e vai voltar! Mas significa que, ao Ir-Se, Ele fica conosco até que seu Reinado seja estabelecido – e cabe exclusivamente a Deus estabelecer isso, não a nós! – para todo o sempre!
Luiz Caetano, ost+
Nota: citações tiradas da Bíblia – Ed. Almeida Revista e Atualizada, SBB, 1969.
===/===
Um comentário:
Lindo perceber que o Cristo está conosco!
Postar um comentário
Muito obrigado pelo seu comentário.
Seja breve e objetivo.