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05 setembro 2014

Renovar a vida

(Leia em tua bíblia: Evangelho de João 11.1-45)

Forte é a morte, que tem o poder para privar-nos do dom da vida.  Forte é o amor, que tem poder para restituir-nos o gozo de uma vida melhor. (Balduíno, Tratado 10 )

ressureição de LázaroNo tempo de sua caminhada conosco, Jesus manifestou, muitas vezes, por ações e palavras, a grande esperança da vida que ele vinha oferecer a todas as pessoas. Ele aparece nos Evangelhos como a única luz capaz de esclarecer as nossas dúvidas em torno da morte. Algo que é uma certeza de cada um de nós.

A ressurreição de Lázaro é o sinal mais concreto para afirmar que Ele veio para que tenhamos vida, mas vida em plenitude. Nesta passagem, encontramos Jesus indo ao encontro do amigo morto, para exatamente dizer que a morte não é um fim em sim mesma, mas que pode ser vencida pelo gesto de esperança e amor Nele. É isso que Ele faz com Maria e Marta. Tristes com a morte do irmão e com medo do futuro. Por isso Cristo vai consola-las, mais dizer: “Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais”!

Através de Sua vida, morte e ressurreição, Ele revela-nos que não somos feitos para “morrer eternamente” e sim “viver eternamente” ou “viver em plenitude”; e não podemos ficar indiferentes diante dos atentados contra a vida, seja qual for, tão frequentes em nossos dias. Entendendo isso, o teólogo Harvey Cox – no seu livro “A Festa dos Foliões”, mostra como a explosão de vida e alegria se relaciona com a fé, a esperança e o amor...

Em certo sentido, nossas indignações contra morte são justas: manifestam-se nas profundezas de nosso ser, de onde brota a convicção de que a vida é algo muito precioso que não pode ser destruída sob qualquer pretexto.

Nossa esperança cristã não deve e não pode ser a de quem aguarda como simples espectador, que espera de braços cruzados algo acontecer, mas de mangas arregaçadas, para agir em Cristo na reconstrução de uma vida de esperança, mais digna e justa para todos.

Por isso o compositor Gonzaguinha numa inspiração, que só pode ser cristã, fala em sua canção:

Viver e não ter a vergonha de ser feliz, /Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. / Eu sei que a vida podia ser melhor – e será! / Mais isso não impede que eu repita: É bonita, é bonita, é bonita!

Rev. Daniel Rangel, ost+

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02 agosto 2014

Pastoral ou Poder?

jesus e os fariseus e saduceus
      Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.  Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.  Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23 1-12)
Este capítulo do Evangelho segundo Mateus se encontra inúmeras vezes a frase: “Ai de vós, Escribas e Fariseus”; a frase é bem forte, um tom de condenação. Esta expressão vem dos livros dos proféticos e sempre tem um teor condenatório para quem o recebe, uma critica sobre a atitude de quem o recebe.
Jesus ataca os religiosos da sua época (sacerdote e escribas) por causa do clericalismo exagerado que havia em seu tempo. Qualquer ato religioso deveria passar pelo sacerdote e/ou os fariseus (os únicos interpretes da lei). Além disso, obrigavam pesadas penitências às pessoas para expurgar os pecados. Os escribas e os fariseus conseguiam assim hegemonia e controle sobre o sagrado e controlando, por isso mesmo, a vida do povo no campo social, religioso e político.
Como o ser humano consegue corromper as coisas boas quando se encantam pelo poder! Jesus, em Mateus, esta criticando a tendência dos religiosos em deter o monopólio da vida e do sagrado do povo da época, criando um clericalismo exagerado, como “deuses” na terra.
Infelizmente vemos religiosos manipulado o povo com o sagrado e a santidade. Usando de sua posição para manipular e vilipendiar pessoas que buscam simplesmente serem bons crentes e seguidores da fé. Por isso me lembrei desta frase: “O homem verdadeiramente santo é aquele que não se preocupa com a santidade, assim como o homem que se deixa dominar pelo amor não se importa mais com conceitos e classificações” que dizia o teólogo e educador Rubem Alves (1933-2014). Com isso, ser bom ou santo é algo que deve ser incorporado naturalmente no nosso dia a dia. E não uma qualidade a ser usada e explorada pelo homem.
Sabemos que em nossa Igreja, como na maioria das denominações cristãs, existe o clero (bispo, presbíteros e diáconos); os quais precisam, a todo o momento, lembrar que – como Igreja e como clero – não têm a última palavra, pois nós, anglicanos, herdamos, pela Reforma, o conceito de sacerdócio universal dos fiéis, de que fala a Epistola aos Hebreus. 
Todavia, às vezes, por causa das tentações que a posição lhes dá, membros do clero buscam apenas desfrutar das regalias do ministério, e desviam seu ministério (serviço) pastoral buscando controlar a vida das pessoas ao seu bel prazer, usando-as e explorando-as emocionalmente.
Jesus nos alerta, ainda hoje, que o crente (o povo) tem a possibilidade de tomar decisões sobre a sua vida, e que nós, do clero, somos simples orientadores espirituais. Cabe a nós,  clérigos, realizar nossa atividade pastoral (visitas e aconselhamento) com espírito de humildade e simplicidade para não cairmos na tentação do monopólio da vida dos fies.
Rev. Daniel Rangel, ost+
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20 abril 2014

JESUS CRISTO ESTÁ VIVO!

Jesus Ressucitado com Madalena

A Proclamação do Santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo São João, no capítulo 20, começando no versículo 1º até o versículo 18º.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida. Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes:

_”Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.”

Saiu, pois, Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Ambos corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro; e, abaixando-se, viu os lençóis de linho; todavia, não entrou. Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.  Pois ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele dentre os mortos. E voltaram os discípulos outra vez para casa.

Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se, e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés. Então, eles lhe perguntaram: _”Mulher, por que choras?”

Ela lhes respondeu: _ “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.”

Tendo dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus.

Perguntou-lhe Jesus: _”Mulher, por que choras? A quem procuras?”

Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: _ “Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.” 

Disse-lhe Jesus:”_Maria!”

Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: _“Raboni!” (que quer dizer Mestre)

Recomendou-lhe Jesus: _”Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.”

Então, saiu Maria Madalena anunciando aos discípulos: Vi o Senhor! E contava que ele lhe dissera estas coisas.

Este é o Evangelho do Senhor!

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25 fevereiro 2014

Um olhar para as Bem Aventuranças

discipulo

Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.   Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque  alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.    Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mateus 5.1-12 – Almeida,R.A.)

Na Tradição do Antigo Testamento, a Lei declarada por Moisés se torna lei dos hebreus. Todavia, com o passar do tempo foi reinterpreta pelos interpretes autorizados (escribas e fariseus) para favorecer, no tempo do Novo Testamento, os religiosos e as elites judaicas, se tornando opressora e excludente do povo mais simples da época.

Os mais simples não tinham como observar os inúmeros preceitos lei que eram impostos para eles, sendo considerados sempre “pecadores”, “devedores” para com os códigos de purificação a serem cumpridos no Templo, através de sacrifícios e ofertas. Por outro lado, as elites do Templo e das Sinagogas, cumprindo esses preceitos, julgavam-se “puras”, “justas” e “santas”.

Neste contexto que é declarada as Bem Aventuranças (no grego: makarion), Jesus proclama um caminho alternativo para o povo simples, um caminho de justiça e amor, um olhar para vida de maneira mais leve e livre. As bem aventuranças não têm a intenção de substituir a Lei mosaica. Antes, são um chamado, ou uma proposta, para uma nova vida, com a prática da Justiça conduzindo ao Amor e à Paz. Priorizando o direito à vida plena, Jesus empenha-se em retirar as amarras das interpretações equivocadas da Lei, opressoras e excludentes, colocando a Lei no devido lugar sempre a favor do povo simples, humilde e explorado.

Sendo assim a mensagem das bem-aventuranças para hoje se torna mais ao menos assim: Os pobres descobrem seu espaço nas comunidades que vivem a partilha. Os que choram passam a sorrir no novo convívio da fraternidade. Os mansos cativam os corações aproximando-se uns dos outros. Os que tem fome e sede de Justiça são saciados pela conquista disto. Os misericordiosos, cheios de compaixão, livram aqueles que tem sua consciência impregnada de culpabilidade por causa desta visão opressora da vida. Os de coração puro são sensíveis a tudo o que é justo para todos sem discriminação. Os pacificadores se comprometem na construção de um mundo livre da ambição, da violência, do consumismo desenfreado, do hedonismo e egocentrismo.

A pratica do amor é libertador! subverte a ordem vigente porque sempre pensa no outro, na concórdia, nos que estão perto e longe. Infelizmente quem assume esta posição é perseguido, difamado, morto. Mas a alegria de unir a sua vida em comunhão com todas as pessoas, juntamente com Pai – que é amor, fraternidade e paz – é  eterna e não cessam neste mundo. Por isso o Cristo fala em “Alegrai-vos e regozijai-vos, pois grande é o vosso galardão nos Céus!”

Rev. Daniel, ost+

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