Sob a influência dos valores consumistas, muita gente avalia a Igreja através de critérios pouco evangélicos (do Evangelho!). Uma Igreja cheia de gente, que movimenta muito dinheiro, que promove show de bênçãos, é considerada uma Igreja viva, porque mostra resultados de sucesso… Ou então, uma Igreja que se envolve em tudo, opina sobre tudo, participa de todas as mobilizações e suas lideranças apresentam discursos altamente engajados, é considerada uma Igreja viva porque “dá testemunho”, aparece na mídia, chama a atenção.
Entretanto, eu acredito que tais são Igrejas moldadas no ativismo e na imagem bem construída de seus pastores, não necessariamente na Cruz do Cristo. Personalismo e estrelismo, síndrome de sucesso no mercado. Um produto bem sucedido e bem vendido!
Qual seria o critério de Cristo para avaliar a Igreja? Penso que João 6:63-70 pode nos dar uma pista:
O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido. Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente. Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo. (João 6:63-70 _ Nova Versão Internacional)
Depois de multiplicar o alimento através da partilha, o Senhor fala com clareza sobre Sua Missão, sobre o significado de Sua Presença. Então, as mesmas pessoas, saciadas da fome, se afastam, saem de cena, porque as palavras do Senhor é estranha e contrária às expectativas… Entretanto, o Senhor fica olhando todos se afastarem, não tenta negociar, não tenta agradar a clientela! Ainda, talvez cinicamente, pergunta aos que sobram, os Doze, se também não desejam abandoná-lo! Fica bem claro que o Senhor não está preocupado em organizar um movimento de massa, nem em angariar clientes ou “agradar os fiéis”; Ele não tenta seduzir com palavras doces, antes anuncia duramente o sentido de Sua Presença! Ele mesmo sabia, diz-nos o texto, que muitos não criam. Mesmo entre os poucos que sobraram, havia um traidor.
Interessante notar que, no texto joanino, após esse episódio, Jesus não anda mais com multidões, mas reduz seu círculo de discípulos aos doze e algumas outras pessoas. Não está preocupado em ter auditório, mas em cumprir Sua tarefa, e ministrar aos poucos seguidores, inclusive ao traidor…
Qual o motivo alegado por Pedro, em nome dos que ficaram, para permanecerem com Ele? “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”. Mais do que uma afirmação filosófica, Pedro dá um testemunho de fé e de reconhecimento do Cristo! Sua primeira frase mais parece uma oração: “Senhor, para quem iremos nós?” , como uma súplica! e conclui com uma confissão de fé: “E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”. Exatamente estes poucos que sobraram se tornam depois, os arautos da Palavra, anunciam o Evangelho por todo o mundo, tornam-se Apóstolos e Apóstolas, testemunhas vivas da Presença permanente de Cristo no mundo, testemunhas do Ressuscitado!
Aos contrário dos que hoje em dia se autodenominam “apóstolos”, ou muitos que – no decorrer da história – se proclamam seus sucessores, estes homens e mulheres que permaneceram com Jesus até a Ressurreição (mesmo tendo fugido diante da Cruz), não viviam de pompa e circunstância, não foram tomados pela vaidade, mas na simplicidade de suas vidas, são os alicerces da Igreja de todos os tempos. E criaram comunidades confessantes da fé no Ressuscitado, comunidades solidárias aos que sofrem e choram, comunidades pequenas mas corajosas em enfrentar a perseguição do Império e da Sinagoga – os cristãos foram considerados anátema pelo Sinédrio reunido em Jâmnia, por volta do ano 90 d.C. O primeiro fruto da ação daqueles remanescentes seguidores de Jesus na Palestina, foi a Igreja dos Mártires, a Igreja Confessante por excelência! Animados pelo Espírito Santo em suas vidas, enfrentaram a morte com ousadia e coragem!
A Igreja que herdamos é a Igreja que permaneceu no tempo e na história mesmo depois do desaparecimento de seus fundadores. Não estava alicerçada na personalidade ou no personalismo deles, mas no Espírito Santo. Quando surge a tentação do personalismo e do culto à personalidade, Paulo, um confessante, admoesta a Igreja:
Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissen-sões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. (1 Coríntios 3:3-7 – Nova Versão Internacional)
Igreja Viva é a Igreja que confessa a Fé no Cristo Ressuscitado, que anuncia o Evangelho, denuncia o Mal em todas as suas formas e testemunha com coragem a Vontade de Deus e Sua Bondade e Misericórdia. Não importa sermos muitos ou poucos, não importa sermos reconhecidos ou elogiados pela sociedade. Importa antes que seja cumprida a Vontade Soberana de Deus Pai/Mãe, manifesta em Seu Filho, o Cristo, e permanentemente anunciada através da ação do Espírito Santo.
A Igreja de Cristo está Viva quando dobra seu joelho em oração e adoração, e obedece a Deus. Ela segue ao Cristo, em Sua Cruz e Ressurreição, não segue lideres carismáticos personalistas!
Luiz Caetano, ost+
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