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24 abril 2011

O desafio do Tempo Pascal

A Ressurreição de Jesus é um dos eixos do Kerigma (pregação) cristão, assim como Sua Encarnação, Paixão e Morte. Este era o núcleo central da pregação da Igreja dos Apóstolos, homens e mulheres que foram testemunhas do Cristo Ressuscitado, que O viram e conviveram com ele após a ressurreição.

A Fé da Igreja, que recebemos desde sempre, é fundamentada neste testemunho. Segundo o Evangelho de São João, Maria Magdalena foi a primeira pessoa que conversou com o Ressuscitado, e foi quem levou a boa notícia aos demais membros do grupo íntimo de discípulos e discípulas de Jesus. Assim como o Apóstolo André levou a boa notícia ao seu irmão Simão Pedro que havia encontrado o Messias, Maria Magdalena é a portadora da grande notícia da Ressurreição. E, a partir de Magdalena, a Igreja vem dando o mesmo testemunho até os dias de hoje, na esperança que as pessoas de todo o mundo, de todas as culturas, possam encontrar-se com o Ressuscitado e descobrir outras dimensões da vida, a Vida em Plenitude e abundância.

Nos domingos que se seguem à Pascoa, até o Pentecostes, o lecionário litúrgico apresenta perícopes (partes) do Evangelho onde se narram os diversos encontros com o Ressuscitado. Nestas semanas que determinam o Tempo Pascal, em nossa paróquia estaremos meditando e estudando esses encontros e buscando – cada um de nós – novos encontros com o Cristo Vivo e renovando nosso compromisso com a Missão.

Não só encontrar o Cristo, mas também testemunhar Sua ação em nossa vida e no mundo! afinal, essa é a grande Missão da Igreja, missão de cada cristão e cristã: testemunhar a Boa Nova de Deus em Cristo.

Em nossos dias, afirmar que Jesus Cristo Ressuscitou é assumir uma postura diante do mundo que seja sinal da ação de Deus na vida de cada um de nós, uma postura ética de solidariedade, defesa da Justiça e construção da Paz. Portanto, não é um “falar vazio”, mas um conteúdo de vivência que deve motivar as pessoas a mudarem seu rumo (con-versão), mudarem seu prumo, encontrar um novo eixo de orientação na vida pessoal e social.

No tempo da Quaresma fomos desafiados a “não dizer não a Deus”, a refletir em cada ação se estamos agindo da forma que o Senhor agiria. O tempo Pascal, agora, vai nos desafiar mais ainda, a testemunhar com palavras e ações a ação redentora (transformadora da realidade) de Deus na história humana através de Jesus o Cristo, que vive para sempre e está entre nós, é Deus-Conosco, Emanuel.

Que o Senhor nos ajude a encontrar o Cristo pelos caminhos do cotidiano.
Luiz Caetano, ost+
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05 abril 2011

Comunhão para crianças

A participação das crianças na Santa Comunhão, recebendo o Sacramento com a comunidade, é uma característica da nossa Igreja, recuperando uma antiga tradição quem vem desde a Igreja Primitiva. 
A Igreja Episcopal considera a Santa Mesa como uma dádiva de Cristo a toda a Igreja, e afirma isso oferecendo a Santa Mesa para todas as pessoas batizadas em qualquer denominação cristã –batismo ministrado em nome da SS. Trindade – sejam adultos ou crianças.
Afinal, o Batismo é o Sacramento da Iniciação na comunidade cristã. Por meio da água e em nome da Santíssima Trindade, uma pessoa – seja adulta ou criança – é recebida na Igreja, torna-se parte da Comunidade de Jesus Cristo, o Seu Corpo Místico. Na nossa compreensão, o Batismo é recebido uma única vez na vida, isto é, a Igreja Episcopal Anglicana reconhece todo o batismo realizado com água e em nome da Trindade, não importando a Igreja (denominação) onde o Sacramento foi realizado. Por isso, a Mesa da Comunhão, em nossa Igreja, é aberta a qualquer pessoa cristã, não importa sua idade.
Em tempos passados, mais especificamente a partir do século XI, na Igreja da Inglaterra, a Santa Comunhão passou a ser dada apenas aos membros confirmados da Igreja, ou seja, os que confirmaram sua fé através do Rito da Confirmação (Crisma). Essa decisão foi de cunho político e eclesiástico, não especificamente teológico. Por isso, há algumas décadas, a maioria das Igrejas da Comunhão Anglicana voltaram a acolher as crianças na Santa Mesa.
A Ceia do Senhor, como também chamamos a Santa Eucaristia, é o grande testemunho da inclusividade  na Comunidade Cristã.  Todas as pessoas batizadas são parte do Corpo Místico de Cristo e, assim, a participação das crianças na Ceia é um ato de fidelidade ao significado mais profundo da Igreja de Jesus Cristo.
Embora o Batismo ocorra apenas uma vez na vida, a Eucaristia é uma experiência que se repete a cada semana, ou a cada dia conforme a prática de cada comunidade; ambos se completam, cada um indicando nossa vida comum no Espírito, a nossa união com Cristo em sua morte e ressurreição, e o nosso mútuo compromisso nos laços de amor da Comunidade cristã.
Assim, de acordo com o ensino da Igreja desde os tempos apostólicos, basta o Batismo para incluir qualquer pessoa na refeição Eucarística.  Entretanto, é bom que crianças e adultos sejam acompanhados de catequese sobre o significado da Eucaristia; e isso é ministrado na Igreja em sua ação educativa da fé. Mas as crianças participam do Santo Sacramento como crianças e de acordo com o entendimento próprio de sua idade. O acompanhamento das crianças, em seu processo de aprendizado da fé, pelos pais, catequistas e clero possibilita o crescimento delas no conhecimento e na graça de nosso Senhor e Salvador (cf. II Pe. 3.18).
Muitas pessoas se perguntam se a criança entende o que acontece na Eucaristia.  Mas a questão é: alguém de fato compreende o Mistério? Mistério não se compreende, mas se percebe através da revelação do Espírito Santo, através do dom da Fé. O Sacramento Eucarístico pode ser percebido, por uma criança, como aceitação de si mesma por Cristo.
Lembremos que Jesus, conforme nos dizem os Evangelhos, reunia em torno de si os que eram considerados incapazes, os rejeitados, os pobres e marginalizados, órfãos, viúvas, pobres… inclusive as crianças. Por isso a Igreja, em fidelidade ao testemunho dos Apóstolos não pode excluir as crianças da Mesa do Senhor, pois o próprio Jesus admoestou seus discípulos dizendo “ Deixai vir a mim os pequeninos, por que deles é o Reino de Deus!”, apresentando as crianças como paradigma do Reino (cf. Lucas 18.15-17).
Fiéis à tal compreensão do Santo Sacramento, em nossa Paróquia as crianças cristãs são bem vindas à Santa Mesa, que é do Senhor e não exclusivamente nossa.
Vosso Pároco,
Rev. Luiz Caetano, ost+
Texto adaptado a partir de um folheto publicado pelo antigo Departamento de Educação Cristã da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
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