Os artigos deste blogue expressam o pensamento de seus autores, e não refletem necessariamente o pensamento unânime absoluto da comunidade paroquial. Tal unanimidade seria resultado de um dogmatismo restrito e isso contraria o ethos episcopal anglicano. O objetivo deste blogue é fornecer subsídios para a reflexão e não doutrinação. Se você deseja enviar um artigo para publicação, entre em contato conosco e envie seu texto, para análise e decisão sobre a publicação. Artigos recebidos não serão necessariamente publicados.

Pesquisar este blog

22 outubro 2011

Tiago de Jerusalém, o Justo, Irmão do Senhor!

James-of-Jerusalem-IconComo a maioria das Igrejas Orientais, também a Comunhão Anglicana celebra dia 23 de outubro a memória de São Tiago de Jerusalém, o Justo, o irmão de nosso Senhor.
Quem é esse Tiago, conhecido como Irmão do Senhor, a quem é atribuída a Epistola de São Tiago no Novo testamento?
Não se trata de um Apóstolo, embora dois deles tivessem o nome de Tiago. Esse Tiago que celebramos em 23 de outubro é um dos irmãos de Jesus mencionados no Evangelho segundo São Mateus (Mt 13.55).
Há várias tradições sobre esse Tiago, mas a melhor delas diz que José, um piedoso viúvo, recebeu por esposa à jovem Maria – uma menina dedicada por seus pais à Deus e que estava sob os cuidados do Sumo Sacerdote. Sendo José viúvo e com filhos, houve por bem ao Sumo Sacerdote sugerir a José tomar Maria como esposa para cuidar de sua família, comprometendo-se a respeitar o voto de Virgem de Javé feito por ela. Assim, Tiago seria um dos filhos de José.
Segundo a Tradição, nenhum desses irmãos de Jesus foi seu discípulo, embora algumas fontes indicam que Judas (não o Iscariotes), um dos Doze, tenha sido irmão de Jesus, pois em sua pequena Epistola, apresenta-se como “irmão de Tiago e servo de Jesus Cristo” (Judas,1). Como esse Judas é entendido como o Apóstolo São Judas, pode-se supor que, ao apresentar-se como irmão de Tiago, dá referência à autoridade de Tiago de Jerusalém, e humildemente se coloca como servo e não irmão de Jesus.
A Tradição da Igreja do Oriente conta que Tiago, irmão do Senhor, era homem letrado, conhecedor da Lei e muito piedoso.  Foi eleito pelos Apóstolos para liderar a Igreja de Jerusalém, e é considerado seu primeiro Bispo. A comprovação disso é que no episódio do Concílio de Jerusalém Tiago apresenta a decisão final sobre a questão se as normas judaicas (adotadas pelos cristãos-judeus) seriam válidas para os cristãos não-judeus que formavam igrejas fora da Judéia devido ao ministério de Paulo e Barnabé. Tiago se fundamenta no testemunho de Pedro bem como no entusiasmo de Paulo e Barnabé sobre a ação do Espírito Santo entre os gentios (cf. Atos 15).
Tiago, embora cristão, era – como a maioria dos cristãos da nascente Igreja em Jerusalém – zeloso de suas obrigações enquanto judeu: assíduo no templo e no estudo da Lei. Todavia sua fé no Cristo era incômoda ao Sinédrio e aos fariseus. Certa vez, no Templo, foi instado a renunciar sua fé cristã publicamente; tendo recusado, foi levado à murada e atirado do alto pelos fariseus. Não morreu na queda, mas foi espancado até a morte estando caído ao chão.  Esse fato aconteceu em 62 a.D., no contexto da perseguição movida pelo Sinédrio aos cristãos – ainda considerados como um grupo dentro do judaísmo.
A Igreja, desde tempos antigos, atribuiu a ele o título de “o Justo” pelo seu espirito conciliador que marcou a decisão do Concílio de Jerusalém e possibilitou às igrejas nascentes no mundo grego manterem-se em comunhão com as igrejas da Judéia.
São Tiago de Jerusalém é um dos inspiradores do espírito ecumênico, pois reconheceu a diversidade da Igreja e sua adequação às diferentes culturas humanas.
No Brasil, São Tiago o Justo é o patrono da Ordem de São Tiago de Jerusalém (OST), uma fraternidade não conventual na Igreja Episcopal Anglicana, cujos carismas se inspiram exatamente na Carta de Tiago e no espírito de justiça que caracteriza este Herói da Igreja.
Rev. Luiz Caetano, ost+
===/===

10 outubro 2011

A Paróquia São Paulo Apóstolo, a Igreja Anglicana e a Rainha da Inglaterra.

O Templo, antes da tempestade que danificou sua fachada.Varias pessoas que visitam nosso templo elogiam sua beleza e ao mesmo tempo preocupam-se com o estado de sua conservação. Às vezes perguntam a mim, ao Rev. Daniel ou ao fr. Fabiano assim: “porque vocês não pedem ajuda da Rainha da Inglaterra? afinal é a Igreja Anglicana e ela é a chefe da Igreja…
Para um episcopal anglicano tradicional, essa pergunta poderia soar como zombaria, mas tal indagação e outras semelhantes mostra  que nossa Igreja ainda não conseguiu afirmar claramente a sua identidade do meio cultural brasileiro.
De fato, nosso templo tem sérios problemas de conservação. E nossa pequena comunidade paroquial tem trabalhado para superar isso. Mas é importante explicar algumas coisas e desfazer erros de compreensão sobre a nossa identidade.
A Paróquia São Paulo Apóstolo é parte da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, que por sua vez é parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, uma das Igrejas Nacionais Autônomas que fazem parte da Comunhão Anglicana: igrejas nacionais unidas pela mesma tradição católica apostólica e em comunhão com a Sé de Cantuária.
Ao contrário do que muita gente pensa, não existe uma Igreja Anglicana mundial, nos mesmos moldes que existe a Igreja Católica Romana. As Igrejas Anglicanas espalhadas pelo mundo todo se organizaram em uma Comunhão, chamada Comunhão Anglicana. Essa Comunhão não tem uma cúria mundial, ou um comando mundial. O conceito de autoridade na Comunhão é muito diferente do sistema curial que rege a Igreja de Roma.
As Províncias que formam a Comunhão Anglicana são todas independentes, auto-sustentadas e auto- governadas, cada uma pela sua Câmara dos Bispos, seu Sínodo, Concílios, e organismos internos que não necessariamente funcionam do mesmo modo em todas as províncias.
Em nível mundial a Comunhão é presidida simbolicamente pelo Arcebispo de Cantuária e possui vários órgãos consultivos – sem poder normativo: o Conselho dos Primazes (Bispos que presidem as Províncias), o Conselho Consultivo Anglicano (formado por representantes provinciais – bispos, clérigos e leigos), e a Conferência de Lambeth que reúne, a cada dez anos, os Bispos de todo o mundo. Nenhum desses organismos tem poder de decidir sobre a vida, a administração e a forma de ser de uma Província ou Diocese. Exatamente essa experiência de diversidade e autoridade partilhada e ao mesmo tempo dispersa que caracteriza o anglicanismo.
As Províncias nem mesmo têm um nome em comum. Por exemplo, a Igreja da Inglaterra (The Church of England), a Santa Igreja Católica Apostólica do Japão (Nippon Sei Ko Kai), a Igreja Anglicana do Canadá, A Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América (The Episcopal Church), a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, A Igreja Episcopal da Escócia (The Scottish Episcopal Church), A Igreja de Hong Kong (Hong Kong Sheng Kung Hui), A Igreja Reformada Episcopal da Espanha, A Igreja Episcopal de Cuba, são algumas das Igrejas que formam a Comunhão Anglicana, unidas em uma mesma tradição apostólica que – em sua diversidade – afirmam sua catolicidade.
A Igreja da Inglaterra é a Igreja considerada mãe da Comunhão, mas não é a Igreja chefe. Sua especial situação como Igreja Estatal é específica na Inglaterra, assim como na Alemanha e na Escandinávia a Igreja Luterana é estatal – o que significa ligada ao Estado, que é confessional. Isso não tem nada a ver com o resto do mundo, é uma situação específica de cada país.
Como a cultura brasileira é marcada pela tradição do catolicismo romano, temos a tendência de achar que todas as Igrejas são iguais à Igreja de Roma, quando na verdade, a grande maioria das Igrejas (Protestantes, Evangélicas ou Orientais) são bastante diferentes entre si e do próprio modelo Romano.
Assim a pequena comunidade que forma a paróquia São Paulo Apóstolo em Santa Teresa é parte de uma grande comunhão de Igrejas advindas de uma mesma tradição apostólica, à qual se vincula através da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro, cujo Bispo Diocesano está em Comunhão com os demais Bispos da Igreja Episcopal do Brasil e com o Arcebispo de Cantuária, e portanto, com todos os Bispos da tradição anglicana no mundo.
A Paróquia é mantida pela contribuição regular de seus membros e pelas ofertas do povo, e pela Diocese. Não temos nenhuma subvenção do Estado, seja o brasileiro, seja estrangeiro. O governo paroquial é exercido pelo Pároco e seu Coadjutor em conjunto com a Junta Paroquial composta por seis pessoas membros da comunidade, eleitas em Assembleia sem interferência dos pastores. A administração financeira e patrimonial da paróquia é de responsabilidade da Junta Paroquial, conforme determinam os Cânones da Diocese e da Igreja brasileira.
E a Rainha da Inglaterra??? Ela é exatamente isso: a Rainha da Inglaterra! com todas as atribuições previstas pela legislação daquele país, e nós não temos nada a ver com isso porque somos brasileiros, e aqui exercemos nossa cidadania.
Portanto, se você deseja cooperar para a restauração e manutenção de nosso templo, fale conosco. Há muitas formas de você ajudar!
Nossa pequena comunidade é acolhedora e está sempre aberta à colaborar com a vida em nosso Bairro e em nossa cidade, de muitas maneiras, além de oferecer o serviço religioso nos moldes da tradição herdada pela Comunhão Anglicana.
Sejam bem vindos e bem vindas em nosso meio e em nosso templo para orar, partilhar, estudar a Palavra de Deus e cooperar com seus dons no grande ministério do Senhor Jesus Cristo!
Rev. Luiz Caetano, ost+
mais informações veja em coluna lateral deste blogue alguns links para páginas de Igrejas que compõem a Comunhão Anglicana e a página da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
===/===